Rota que inclui MS turbina narcotráfico marítimo e alerta polícia paulista
Ponta Porã está na rota da cocaína que chega aos portos e depois segue em navios para Europa e África; policiais de MS discordam e afirmam que “grosso” da droga já sai em containers do Paraguai
A quantidade de cocaína apreendida nos portos brasileiros em 2016 foi nove vezes maior que o volume interceptado em todos os aeroportos do país – 15 toneladas nos postos contra 1,9 tonelada nos aeroportos. O maior aumento ocorreu no porto de Santos (SP), de onde sai boa parte das cargas destinadas à Europa e ao continente africano. Para policiais e procuradores paulistas, a rota marítima é o “fato novo” no narcotráfico sul-americano e envolve diretamente Mato Grosso do Sul.
O negócio é bilionário e envolve funcionários de portos e até servidores públicos, pagos para ajudar a esconder a droga em containers e para “fazer vistas grossas”. Na República Democrática do Congo, um dos países mais pobres do mundo, o quilo da cocaína sul-americana custa em média 80 mil dólares – R$ R$ 252 mil, na cotação de ontem.
Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande, cidade-irmã da paraguaia Pedro Juan Caballero, é apontada, junto com Foz do Iguaçu (PR), como a principal porta de entrada da cocaína que sai da Bolívia, passa pelo Paraguai, percorre o território brasileiro por via terrestre até chegar aos portos, de onde é enviada para o exterior escondida em containers carregados com cargas legais.
“O tráfico marítimo de cocaína tende a crescer fortemente. Esse novo canal que se estabeleceu entre a Bolívia, o Paraguai e o Brasil, que não existia, agora fornece uma rota segura para que a droga saia de sua origem e chegue a seu destino”, afirmou em entrevista ao Uol o procurador de Justiça de São Paulo Márcio Sérgio Christino, um dos principais investigadores da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
“A grande rota vem da Bolívia em direção ao Paraguai, depois entra na fronteira brasileira e é distribuída para os portos. Esse caminho Bolívia-Paraguai-Brasil e daí para os portos e depois para o mundo inteiro, é a grande novidade, o grande acontecimento criminoso dos últimos anos”, afirma o procurador.
Segundo Christino, o PCC tem participação fundamental nessa logística. “O papel do PCC é garantir todas as condições para que a cocaína saia com segurança da Bolívia e chegue a seu destino no porto, sem que haja disputa com outros traficantes”.
Pavão – A rota da cocaína boliviana, encarada como novidade pelas autoridades paulistas, tem um único patrão, segundo policiais sul-mato-grossenses que atuam na repressão ao narcotráfico – o brasileiro Jarvis Gimenes Pavão, 49, que está preso no Paraguai.
Sócio do PCC, Pavão assumiu o controle do narcotráfico no lado paraguaio, que antes tinha como patrão outro brasileiro, Jorge Rafaat Toumani, assassinado em junho do ano passado em Pedro Juan Caballero. A polícia do Paraguai acusa Pavão e o PCC pela morte, mas o narcotraficante nega e diz que ele e Rafaat eram “amigos”.
Policiais com experiência no combate ao tráfico na fronteira Brasil-Paraguai confirmam que a rota marítima é o fato novo no submundo das drogas na América do Sul. Mas afirmam que as grandes quantidades de cocaína que chegam aos portos não passam pelas estradas em caminhões e carretas, como acontece com as drogas destinadas ao mercado interno.
“O grosso da cocaína produzida na Bolívia sai do Paraguai em containers fechados, embarcados no porto de Concepción e que seguem pelo Rio Paraguai e depois por via marítima até chegar aos portos de Santos e Paranaguá. A maior parte da droga encontrada nas estradas é para abastecer os grandes centros consumidores internos”, contou uma fonte da polícia.
Além da cocaína boliviana, a maconha produzida no Paraguai também vem sendo destinada aos portos brasileiros. Neste ano, dois carregamentos aprendidos na região de Dourados estavam sendo levados para o porto de Paranaguá (PR).