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Cidades

PM envolvido em contrabando recebeu cheque de presidente do TRE

Segundo Gaeco, tenente-coronel Admilson Cristaldo e desembargadora Tânia Borges também negociaram indicação para cargo no TJMS

Ângela Kempfer e Aline dos Santos | 19/06/2018 18:10
Cristaldo foi preso durante a Oiketicus sob acusação de ter ligação com contrabandistas de cigarro. (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)
Cristaldo foi preso durante a Oiketicus sob acusação de ter ligação com contrabandistas de cigarro. (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)

Cheque de R$ 165 mil, encontrado durante a operação contra esquema de contrabando de cigarros em Mato Grosso do Sul, foi emitido pela desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), afirma o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). 

O valor teria sido repassado ao tenente-coronel PM Admilson Cristaldo Barbosa, um dos principais alvos da Operação Oiketicus, deflagrada em maio. Ainda segundo os responsáveis pela investigação, mensagens em celular apreendido revelaram uma negociação entre Tânia e o PM para que Admilson fosse nomeado no cargo de chefe da segurança do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) a partir de 2019, quando a desembargadora deve assumir o comando do Judiciário estadual.

Os fatos que indicam a relação entre os dois constam no relatório do Gaeco referente aos mandados de busca e apreensão cumpridos durante a Oiketicus, que resultaram na apreensão de notas promissórias e do cheque de R$ 165 mil, emitido no dia 19 de março, com anotação para compensação um mês depois.

Em depoimento, Admilson alegou ter vendido um Jeep Grand Cherokee à Tânia, mas conforme apurado pelo Gaeco, a negociação não ocorreu, porque o veículo continua na garagem de uma revendedora de Campo Grande.

Oiketicus já teve três fases até o momento para apurar envolvimento de policiais com a máfia do cigarro. (Foto: Marina Pacheco/Arquivo)
Oiketicus já teve três fases até o momento para apurar envolvimento de policiais com a máfia do cigarro. (Foto: Marina Pacheco/Arquivo)

Apesar de não divulgar o teor das mensagens, o Gaeco é categórico ao afirmar que a desembargadora “tratou com o denunciado Admilson acerca de sua nomeação como chefe de segurança do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul quando de sua assunção no cargo de presidente no ano de 2019”.

A reportagem do Campo Grande News contatou a assessoria da desembargadora a fim de ouvi-la sobre as revelações do Gaeco. A informação era de que, até a publicação deste texto, ela cumpria compromissos no TJMS.

A desembargadora é mãe de Breno Fernando Borges, preso por tráfico de drogas. O caso ganhou repercussão nacional depois que a desembargadora foi pessoalmente liberar o filho do presídio de Três Lagoas.  

Notas promissórias também foram apreendidas  durante a operação contra a Máfia dos Cigaros, que seriam de Dênis Peixoto Ferrão Filho, servidor do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que foi alvo da segunda fase da ação. O Gaeco o apontou como suspeito de lavagem de dinheiro “justamente oriundo de corrupção”.

Incompatível – Segundo promotores do Ministério Público, Cristaldo seria um dos chefes do esquema envolvendo PMs e a liberação de carretas com contrabando de cigarros em um dos núcleos nos quais a apuração foi dividida. O que levantou suspeita foi o padrão de vida incompatível com os rendimentos que ele recebia na Polícia Militar.

Ao mesmo tempo em que a quebra de sigilo fiscal do tenente-coronel apontou redução patrimonial, ele adquiriu em 2016 um automóvel Jeep Grand Cherokee por R$ 210 mil e uma motocicleta Harley Davidson, avaliada em R$ 67,2 mil. Em 2015, já havia comprado uma Harley por R$ 35 mil e a vendido por R$ 39 mil. A compra e instalação de uma banheira por R$ 28 mil, bem como aquisições na loja da Prada Brasil, também chamaram a atenção.

Viagens, incluindo tour internacional de motocicleta e gastos de R$ 8 mil em duas noites no Rio de Janeiro, feitas pelo policial também foram anotados pelo Gaeco. Admilson Cristaldo Barbosa comandava o 11º Batalhão de Jardim. No mês de abril, o oficial teve salário de R$ 22.851,93 e recebeu R$ 2.576,60 de “remunerações eventuais”.

Fases – Na primeira fase da Oiketicus, realizada em 16 de maio, foram cumpridos 20 mandados de prisão preventiva contra policiais, sendo três oficiais, e 45 de busca e apreensão. Foram 21 prisões, porque um sargento acabou preso em flagrante.

A segunda etapa aconteceu no dia 23 de maio, com mandado de busca e apreensão na casa e escritório do servidor do TCE. Na terceira fase, em 13 de junho, houve mais oito prisões de PMs. Nome da operação, Oiketicus é um inseto conhecido popularmente como “bicho cigarreiro”.

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