Retrospectiva: Golpes aplicados em MS superam R$ 5 milhões em 2010
Denúncias e prisão de estelionatários revelaram valores milionários
Em 2010, prisões emblemáticas como a do ex-garagista dono do Siqueira Automóveis, o desmantelamento de quadrilhas que atuavam na compra de gado com cartões e cheques roubados e a destruição de esquemas como a venda de diplomas mostraram o quanto o “mercado dos golpes” movimenta. Foram R$ 5 milhões apenas no que pôde ser comprovado pela Polícia.
Nem o falecido milionário Olympio José Alves escapou da ação dos estelionatários. Golpe planejado pelo ex-major da Polícia Militar Sérgio Roberto de Carvalho resultou na apropriação de R$ 3,9 milhões do espólio de Olympio.
Na operação fraudulenta pela qual a quadrilha conseguiu o recebimento, integrantes alegaram que eram credores do milionário e conseguiram decisão favorável do TJ/MS para receber o dinheiro referente à suposta compra de uma usina. O dinheiro que o grupo conseguiu receber foi pulverizado entre eles para burlar o rastreamento.
O golpe contra a herança de Olympio José Alves foi descoberto pela Polícia Federal a partir de investigações sobre a lavagem de dinheiro feita pelo ex-major por meio de empresas ligadas ao ramo do combustível, e as prisões deflagradas pela Operação Vitruviano em novembro.
Paulistec - Variadas artimanhas foram usadas pelos golpistas, incluindo a venda de diploma falso. O empresário Mauro de Napoli era dono de uma escola que funcionava em uma rua movimentada da Capital e vendia diplomas.
O caso só veio à tona quando alunos que estudaram no Paulistec tiveram seus diplomas recusados após passarem em concursos públicos. Foram eles quem denunciaram o caso à Polícia.
No dia 31 de maio, a Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) fechou a unidade e depois disso começaram a surgir várias denúncias de alunos.
O esquema era simples, bastava pagar que se conseguia o diploma. Em alguns casos, os alunos recebiam provas preenchidas com as respostas e precisavam apenas assinar os nomes.
Para obter o certificado, cada aluno desembolsava de R$ 450 a R$ 780. Em seu material de divulgação, a escola prometia entregar o diploma em até 60 dias.
Ao fazer sua inscrição, o aluno recebia uma apostila e a prova era aplicada depois de 10 dias. Mais R$ 50 eram pagos no momento da retirada do certificado. Para a Polícia, o esquema podia ser caracterizado como uma fábrica de diplomas.
Após escândalo causado pelas denúncias de alunos, o empresário se apresentou à Polícia e disse que acompanharia as audiências do Procon para acertar a devolução dos valores. Contudo, conforme a Polícia, tentou sacar dinheiro em suas contas.
Para garantir o ressarcimento dos R$ 630 mil que deverá ser rateado entre os 1.259 alunos lesados, o empresário teve R$ 1,8 milhão em bens bloqueados. Os demais, como carros de luxo e altas quantias, não puderam ser considerados porque estavam no nome de laranjas.
Garagem - Foragido desde 2008 por aplicar golpes na compra de veículos usados, o ex-garagista Genival Siqueira se apresentou à Polícia no dia 30 de abril deste ano, depois de ter a família presa pelo esquema chefiado por ele.
Acusado de estelionato e formação de quadrilha, ele esteve foragido em Goiânia (GO), Londrina (PR), Maringá (PR) e em propriedades de MS. No fim do ano passado, sua esposa Ione foi localizada, mas alegou que o esposo e as filhas estavam morando em cidades diferentes e se recusou a fornecer endereços.
Durante monitoramento da Polícia, a piloto Fábia Siqueira foi presa em Engenheiro Coelho (SP), com base em mandado de prisão temporária. Já em Campo Grande, na casa da família, na Vila Bandeirantes, Ione Ribeiro da Silva, 47 anos, e a filha Flávia Siqueira foram presas por outra equipe da Decon após denúncias do esquema.
Também foi presa a irmã de Genival, Aparecida Siqueira da Silva, 51 anos. As mulheres foram liberadas após prestarem esclarecimentos, mas todos os envolvidos respondem por estelionato e formação de quadrilha.
Apenas depois das prisões das mulheres é que Siqueira se apresentou. A investigação sobre os crimes cometidos por ele durou 17 meses e resultou em inquérito de 850 páginas.
Pelo menos 25 pessoas procuraram a Polícia e provaram ter tido prejuízo de R$ 345 mil. O esquema da família consistia basicamente em comprar carros usados na garagem da avenida Bandeirantes e pagar com cheques sem fundos que nunca eram compensados.
Característica típica de golpistas, a Polícia revela que Siqueira e a família tinham grande poder de persuasão sobre os clientes e conseguiam fazer com que algumas pessoas esperassem até seis meses pelo recebimento.
Idosos - Presa no dia 26 de outubro por exercício irregular da profissão, a advogada Marilena Funes da Rocha, de 53 anos, usava o nome de idosos que queriam se aposentar para comprar veículos.
Denúncia de um homem de 57 anos revelou à Polícia o esquema de Marilena, que se apresentava como Helena Nunes, advogada especializada em processos de aposentadoria.
No caso do idoso que fez a denúncia, ela pediu R$ 2.400,00 para custear todo o procedimento para solicitar aposentadoria. Contudo, exigiu novos pagamentos e depois da primeira parcela a vítima pagou mais R$ 2.500, R$ 600 e R$ 300, todos entregues no escritório montado em uma kitinet na esquina das ruas Amin Lescani com a Felipe Calarge.
Além dos pagamentos, Marilena exigiu do idoso cópias de documentos autenticados e ainda que ele fosse avalista para a compra de um carro para ela. Dias depois de assinar papeis em branco, ele recebeu o boleto para pagamento de um Gol.
Depois, caiu novamente no golpe e assinou papeis para financiamento de um Palio, sem saber do que se tratava, e algum tempo depois recebeu outro boleto de financiamento. Foi quando ele decidiu procurar a Polícia e apresentou cópias da documentação que havia entregado a Marilena.
Pelo endereço do escritório a Polícia descobriu que havia um mandado de prisão expedido contra ela no RS pelo mesmo crime. Investigação apontou que os carros novos comprados em nome da vítima foram enviados a Corumbá e apreendidos pela Polícia.
Gado - Em Nova Andradina, duas pessoas foram presas no dia 26 de novembro acusadas de aplicar golpes contra pecuaristas e comerciantes da cidade. Conforme a Polícia, o valor dos golpes aplicados pelos integrantes da quadrilha que atua também em outros estados foi de R$ 1 milhão apenas em MS.
Com os acusados foram encontrados 20 cartões de crédito em vários nomes, mais 300 folhas de cheques assinados sem o preenchimento do valor, pertencentes a laranjadas ou furtados e roubados no PR.
Após a prisão dos dois, uma vítima procurou a Polícia e disse que havia perdido R$ 250 mil com a ação da quadrilha na compra de gado.
Caixa eletrônico - Golpe ainda sem punição, a instalação de equipamentos chupa-cabra em caixas eletrônicos também foi amplamente usada por estelionatários nesse ano.
No dia 8 de novembro, 16 pessoas procuraram a Polícia para denunciar o sumiço de dinheiro em suas contas correntes. As quantias somaram quase chegaram a R$ 20 mil em a um golpe aplicado nos caixas eletrônicos da Capital lesou consumidores em R$ 20 mil em apenas um dia.
A ação dos golpistas foi realizada mediante instalação de equipamentos acoplados aos caixas eletrônicos, os chupa-cabra, que funcionam como um leitores de cartões.
Feitos artesanalmente e dotados de memória interna capaz de armazenar dados da conta corrente de todos os cartões que são passados nele, os aparelhos passam despercebidos pelos clientes, mas depois são usados para limpar suas contas bancárias.