A invenção dos fertilizantes industriais e as armas químicas
O primeiro ataque com gás da história arrasou as tropas francesas perto da pequena cidade de Ypres, na Bélgica. Ao despertar do 22 de abril de 1915, os soldados viram uma enorme nuvem verde, duas vezes mais alta que um homem e tão densa quanto uma névoa de inverno. Por onde essa nuvem passava as folhas das árvores murchavam, as aves caíam mortas do céu e o pasto tinha a cor de um verde metálico. O gás reagiu com a mucosa dos pulmões dos soldados franceses. Tinham convulsões. Afogavam em seus próprios líquidos corporais. Mucos amarelos borbulhavam em suas bocas. A pele ficava azulada pela falta de oxigênio. Era uma morte horripilante.
O homem do gás que matou franceses. O suicídio da esposa.
O homem que inventou esse gás era o químico alemão Frtiz Haber. De origens judias, Haber era um verdadeiro gênio. Do mal e do bem. O êxito de sua missão lhe valeu o posto de capitão. Capitão da matança. Quando retornou a Berlim, foi confrontado por sua esposa. Clara Immerwahr - a primeira mulher a receber um doutorado em química na Alemanha - não só havia visto o efeito desse gás em animais no laboratório, como havia estado muito perto de perder seu marido, quando o vento mudou subitamente em provas no campo. Clara enlouqueceu com a matança provocada por seu marido. Em uma festa em sua casa, foi ao jardim, tirou os sapatos e atirou contra o próprio peito com o revólver do marido. Haber, no dia seguinte, foi supervisionar nova matança na frente de guerra.
Um assassino ganha o prêmio Nobel.
Logo depois do armistício de 1918, Fritz Haber foi declarado criminoso de guerra. Teve de fugir da Alemanha e refugiar-se na Suíça. Mas logo em seguida, recebeu a notícia de que tinha vencido o prêmio Nobel de Química. Tinha descoberto os fertilizantes industriais que alterariam o destino da espécie humana. Foi o primeiro a extrair nitrogênio - o principal nutriente que as plantas necessitam para crescer - diretamente do ar. A escassez de fertilizantes, no início do século XX, ameaçava a humanidade com a fome mundial.
Cadáveres humanos e de bisontes, além das fezes de pássaros.
Os fertilizantes até então estavam sendo retirados de forma inimaginável. Bandos de ingleses iam para o Egito saquear as catacumbas de milhares de escravos dos faraós. Não buscavam ouro, nem joias, só queriam os ossos. Os ladrões de tumbas tinham esgotado todos os ossos das grandes batalhas travadas séculos antes na Europa. Desenterraram mais de 3 milhões de esqueletos europeus. Onde encontrassem ossos humanos, colocavam em barcos que iam até o porto de Hull, no norte da Inglaterra, onde eram triturados para virar fertilizante. Do outro lado do Atlântico, mendigos brancos e índios pobres desenterravam 30 milhões de bisontes anteriormente massacrados nos campos dos Estados Unidos para matar os indígenas de fome. Os ossos dos bisontes eram vendidos para o Sindicato de Ossos de Dakota do Norte, que os moíam até virar fertilizante.
O gás Zyklon. Um judeu cria o gás para matar judeus.
Depois de tentar extrair ouro do mar em quantidade suficiente para pagar as dívidas alemãs para os aliados que venceram a primeira guerra, Haber inventou um pesticida. Não havia ratos, baratas ou pulgas que sobrevivessem a esse novo produto químico. A ação era tão violenta que o batizaram de "Zyklon", ventos de um furacão. Esse gás foi levado aos campos de concentração de judeus. As câmaras de gás Zyklon mataram sua meio irmã, seu cunhado e seus sobrinhos. Há 81 anos, Hitler assinou os termos da erradicação total de judeus. O gás usado era o criado por Haber. Em sua carta de despedida, Haber previu que o mundo seria terrivelmente verde por causa de seu fertilizante. Nós e todos os animais seríamos extintos pelas plantas. Era um gênio louco sem caráter.