A praga da ignorância deliberada
Não é a primeira vez que enfrentamos a ignorância deliberada. Há um século, a América do Sul foi devastada pela pelagra, uma doença que produzia os quatro "Ds" - dermatite, diarreia, demência e morte (death, em inglês). No início a pelagra tinha uma natureza incerta. Só em 1915 um húngaro de nome Dr. Joseph Goldberger, mostrou conclusivamente que era causada por deficiências alimentares associadas à pobreza e, principalmente, a uma dieta baseada somente em milho ou somente em mandioca.
Políticos afirmavam que a epidemia era uma ficção.
Por décadas muitos cidadãos e políticos se recusaram a aceitar esse diagnóstico, declaravam que não existia uma epidemia, era apenas uma ficção. E as mortes por pelagra continuavam a subir... soa familiar? Sabemos há meses o que é necessário para controlar a covid-19. Há necessidade de um bloqueio severo para reduzir a prevalência da doença. Somente então podemos reabrir a economia - mantendo o distanciamento social conforme o necessário. Mesmo assim, há necessidade de um regime com enormes quantidades de testes, rastreamento e isolamento de indivíduos infectados para manter o vírus no "corner" da luta.
Os tubarões que nos cercam.
Mas nosso Estado, município e país são excepcionais. "Nada nos atinge", já disse o líder supremo. "Abram tudo", afiançou o líder municipal. "Façamos poucos e raros testes", corroborou o chefe estadual. Um teste solicitado na segunda-feira só é realizado no sábado. Fomos jogados em um mar bravio, cercado por tubarões. Se nadar, tubarão mata. Se ficar parado, morre afogado. Só temos a dexametasona para nos salvar, uma boia de plastico de camelô. Por quê estamos indo tão mal? Todos os especialistas, sem exceção, alertaram que iríamos naufragar com a reabertura da economia. E eles estavam certos.