Como matar seu marido
Em 2011, uma escritora de suspense romântico, publicou um post em seu blog detalhando os prós e contras de vários métodos de eliminação de marido. "Armas? São barulhentas, confusas, requerem alguma habilidade". "Veneno? Considerado arma de mulher, ficará na alça de mira da polícia". "Contratar um matador? Você conhece um matador? Nem eu". "Contratar um amante? Nunca é uma boa ideia". Sete anos depois, o marido da blogueira foi assassinado no trabalho.
Essa é uma das muitas tramas de Gillian Flynn. A escritora que desvenda o lado obscuro do feminismo. Ela construiu um enorme número de seguidores, especialmente entre as mulheres, retratando-as em seus piores momentos. Flynn é mais conhecida por seu imensamente bem sucedido terceiro romance "Gone Girl", em que uma mulher rica e bonita molda seu marido para seu próprio assassinato. No processo ela finge um estupro, mata um ex-namorado e engravida roubando o esperma congelado de seu marido. As histórias de Glynn sempre são narradas por mulheres que desnudam seus impulsos mais desagradáveis para o público, mas não para as pessoas em suas vidas, uma sensação de confissão ilícita é criada. Ótimos livros para as férias que se avizinham. Mas é bom esquecer as lições de "Como matar seu marido".
Como definir realmente um sexo? Separando os mitos da realidade.
O governo de Donald Trump propôs definir o sexo dos norte americanos "sobre uma base biológica clara, baseada na ciência e objetiva". Concretamente, o que ele sugere é classificar por lei a todos os bebês como homem ou mulher em função dos genitais que tenham ao nascer.
A proposta de Trump se disfarça de ciência, mas está baseada em um mito, há anos desmentido pelos cientistas: que os sexos são duas categorias claramente determinadas pela anatomia ao nascer. Na realidade os genitais não são 100% determinantes, cientificamente falando, já que podem ser ambíguos ou não coincidir com os cromossomos sexuais. Há casos de pessoas com pênis e cromossomos femininos XX, e vice-versa. E a genética tampouco dá uma resposta clara. Não, até o momento a ciência não encontrou um determinante inequívoco do sexo para definir cada pessoa.
Desmontando os mitos sobre a sexualidade.
Hoje em dia os cientistas podem distinguir entre sexo e gênero. Simplificando, a palavra "sexo" é usada para falar de atributos biológicos ou hereditários, enquanto a palavra "gênero" é empregada para a identidade social de uma pessoa baseada nas expectativas culturais para cada sexo. Então, o que diz a ciência sobre "o que é um sexo"? Realmente o único comum entre os organismos que têm macho e fêmea é a diferença que há em seus gametas, as células sexuais com que podem se reproduzir. Os machos, por definição, produzem muitos gametas pequenos, como os espermatozoides e as fêmeas, por definição, produzem poucos gametas grandes. Mas esta não é uma fórmula prática de classificar os bebês humanos. Assim, os cientistas vêm investigando outras diferenças como as hormonais, cromossômicas e, é claro, as anatômicas. E é aí que começa a se desmontar tudo que pensávamos que era lógico e simples.
A biologia é analógica.
Ainda que a imensa maioria das mulheres tenha cromossomo "XX" e os homens tenham "XY", não todo mundo é assim. Por exemplo, há pessoas com três cromossomas sexuais que são "XXY", têm a Síndrome de Klinefelter. Em tese, todos os XXY deveriam ser considerados homens pois têm pênis, mas muitos deles se consideram mulheres pois têm níveis baixíssimos de testosterona e desenvolvem peitos. Também há pessoas que têm um só cromossomo que é o "X", estes têm a Síndrome de Turner, crescem, na maioria das vezes, como mulheres, mas não têm uma puberdade típica. Essas pessoas são "intersexuais". Não confundam com "transgêneros", que são pessoas cuja identidade não se corresponde com o sexo que têm ao nascer.
A imensa maioria dos intersexuais não sabem que o são. Cientistas calculam que há entre 1% a 2% da população mundial que até hoje não descobriram que têm uma das duas síndromes - Klinefelter ou Turner.
Há, ainda, a "Síndrome de Insensibilidade aos Andrógenos", as pessoas são XY, têm testículos internos, produzem testosterona, mas por uma mutação genética seu corpo não detecta esse hormônio e assim, desenvolve uma aparência e genitais femininos. Também há a "Hiperplasia Suprarenal Congênita", uma condição que produz excesso de hormônios masculinos e genitais ambíguos quando ocorre em pessoas XX. Há casos estranhíssimos como o "Quimerismo" (relativo a Quimera), onde as pessoas têm em seu corpo células masculinas e femininas. Por tudo isso, a biologia moderna reconhece que é "analógica" e não "digital", ainda falta muito para ser estudado e conhecido.
O Brasil de Bolsonaro terá parada e novela gay?
Quem têm razão na condução da pauta social? Os conservadores ou os progressistas? Os progressistas - chamemo-lhes assim, em vez de "liberais", para não haver confusões com correntes econômicas - têm a certeza de que são eles por causa da história.
Já nas primeiras décadas do século passado, falavam em divórcio. Os conservadores arrepiavam, reagiam ferozmente, em "nome da família brasileira". Hoje, o direito ao divórcio é indiscutível, mesmo entre os conservadores.
Depois, os progressistas trouxeram ao debate o uso da pílula anticoncepcional e o planejamento familiar. Foram acusados de heresia. Hoje, quem fala em planejamento familiar são os conservadores. A pílula é vendida como pãozinho quente. Saiu da semi-clandestinidade. Os pais as entregam para as filhas. E os outros pais entregam camisinhas para os filhos.
Ou seja, os progressistas muitas vezes têm razão. Mas será que ter razão antes do tempo é, sempre, sinal de lucidez? Ou pode ser sinal de precipicitação? Pior, pode ser sinal de desrespeito aos conservadores.
No fundo, é do equilíbrio entre progressistas e conservadores que se fazem avanços nas pautas dos costumes, quando não desejam rupturas dolorosas que derivam em problemas insanáveis. Derivam em desrespeito ao outro.
No Brasil, onde se realiza a maior parada gay do universo, o lobby mais poderoso do Congresso é a Bancada da Bíblia, que defende a cura da homossexualidade. Acresce que esses movimentos de homossexuais foram crescendo - insisto, até o desrespeito - durante os governos de esquerda. Eles não só permitiram um travesti desfilar crucificado, como se fosse Jesus Cristo, como incentivaram. Ato abjeto, de profundo desrespeito. E que a Rede Globo, ainda um poder paralelo no país, apesar de conectada com o conservadorismo na política ao longo do tempo, no plano dos costumes abraça as causas progressistas, especialmente em suas novelas.
Quando, em 2015 - época da derrocada de Dilma -, a novela em que duas atrizes se beijavam na boca perdeu a liderança para a concorrente bíblica da Record, canal da Igreja Universal, estava dada a largada para o que viria na política. Só os cegos e fanáticos não viram. Era a hora do basta!
Os conservadores sentiram-se acuados. Acuados, revoltaram-se. Revoltados, organizaram-se. Organizados - ao contrário dos progressistas, que reuniam um cocktail esquisito de forças indo da extrema esquerda à Rede Globo, passando pelo PT e PSDB - elegeram o candidato que falava a sua voz.
Para os progressistas fica a lição: os avanços fazem-se vagarosamente e com tolerância. Com respeito. Se não, a relação com a sociedade termina, como terminou, em divórcio.