Luiz Gama, o único intelectual brasileiro que foi escravo
Pioneiro dos direitos humanos e da luta antirracista, Luiz Gama foi o único intelectual brasileiro que viveu sob o jugo da escravidão. Advogado, Luiz Gama, se libertou da escravidão e defendeu os desvalidos com as armas do direito e do jornalismo. Durante muito tempo foi esquecido. Seus livros só existem em bibliotecas de livros raros.
"Lições de resistência".
"Lições de resistência" é o maior conjunto de textos de Luiz Gama já publicado. Recentemente, entrou na lista da Heneroteca Digital da Biblioteca Nacional. Este é um país afeito a besteiras e asneiras, a grande base da história contada, que se preocupa com quantas amantes teve cada reizinho de meia pataca. Luiz Gama jamais podia ser esquecido.
O maior advogado da história do país foi um negro.
Não são poucos os estudiosos que conferem o título de "Maior Advogado da História do Brasil" a Luiz Gama. O processo de retomada do conhecimento de quem foi esse negro teve início com Fábio Konder Comparato. É ele quem diz: "Aqui nos Estados Unidos, ele já teria virado filme há muito tempo, ele seria ensinado nas escolas.
Nossa miséria intelectual.
O esquecimento de Luiz Gama é um índice de nossa miséria intelectual e moral. Luiz Gama foi responsável pela libertação de pelo menos 500 pessoas. Uma raridade, Luiz Gama usava a justiça para conseguir a libertação de pessoas ilegalmente escravizadas. Como quase todos os homens de seu tempo, detestava os reizinhos e suas famigeradas cortes.
Luiz Gama por ele mesmo.
Nasci na cidade de São Salvador, capital da
Província da Bahia, em um sobrado da rua do
Bângala.... a 21 de junho de 1830, lê-las 7 horas
da manhã....
Sou filho natural de uma negra, africana livre, da
Costa Mina (Nagô de Nação), de nome Luíza Mahin.
Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a
cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os
dentes alvíssimos como a neve, era muito,alva, geniosa,
insofrida e vingativa. Era quitandeira.
Vendido pelo pai.
Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque
tais afirmavas, neste país, constituem grave perigo
perante a verdade, no que concerne à presunção das
cores humanas: era fidalgo e pertencia a uma das
principais famílias da Bahia de origem portuguesa.
Devo poupar à sua memória uma injúria dolorosa,
e o faço ocultando seu nome.
Ele foi rico; e, nesse tempo, muito extremoso
para mim, criou-me em seus braços. Foi revolucionário
em 1837 [Sabinada, que libertou a Bahia do mando
português]. Era apaixonado pela diversão da pesca e da
caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as
armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os
divertimentos: esbanjou uma boa herança....
Reduzido à pobreza extrema, a 10 de novembro de 1840,
vendeu-me como escravo....