"Nocó-sêni", quando o Pantanal era o "ninho das onças"
Houve um tempo em que o Pantanal era chamado pelos índios Terenas de "Nocó-sêni", ninho das onças. O maior felino brasileiro se impunha frente a uma diminuta população de brancos e indígenas que viviam nesse paraíso. Causava um temor reverencial e admiração pela sua extraordinária beleza. Mas esse tempo acabou no início do século XX.
O presidente que amava matar onças.
A fama de beleza, coragem e força da onça foi sua perdição. Caçadores de todos os rincões brasileiros começaram a procurá-las por todo o Pantanal. Essa fama foi longe e atraiu o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, que em 1.914 veio caçar onça no Pantanal. A narrativa dessa caçada tem um certo ar blasé, uma indiferença típica desses tempos para com a fauna e a flora pantaneiras. "Logo após à solta dos cães no rastro, a onça, correndo muito pouco, trepou em um pau à beira de um capão, e com facilidade e sem sensação, Roosevelt, mesmo do campo, atravessou-lhe o coração com uma bala dum-dum", conta o militar Pereira da Cunha no "Caçadas no Pantanal do Matto-Grosso", de 1.919.
Caçada ou covardia?
Nessa época, a caçada da onça tomou um padrão norte-americano. Copiavam a matança dos ursos naquele país. A onça era apanhada em armadilhas presas a correntes no sopé das árvores. Ali, o animal era apresado, morto e esfolado. Sua pele valia muito dinheiro e era enviada para o exterior pelo circuito do rio Paraguai que vai a Buenos Aires. Depois dos couros das onças - pintada e parda - o espólio mais valioso era o de penas das garças, vendido por quilo. Já a jaguatirica era "pescada". Prendiam um peixe, ou pedaço de carne, em um anzol amarrado em uma árvore. Durante muito tempo, houve uma verdadeira guerra contra algumas espécies pantaneiras, especialmente às onças. A insensibilidade era a marca registrada dos caçadores. Ainda restam alguns ecos dessa mentalidade troglodita.