O canto do cisne libanês
Há uma antiga crença de que o cisne-branco, completamente mudo durante sua vida, canta uma bela e triste canção pouco antes de falecer. Em 1 de setembro de 2020, o Líbano completará 100 anos de sua independência. Esperemos que não seja seu canto de cisne. A preocupação não é infundada e nem exagerada.
Caos econômico.
A situação é insustentável no Líbano desde 2015. O endividamento equivale a 150% de seu PIB (para efeito de comparação, o endividamento brasileiro é de pouco menos de 90% do PIB). O país está quebrado tecnicamente e não consegue um só empréstimo internacional, não para melhoria de seu povo, mas para quitar as dívidas atrasadas. Não há um só investidor que aceite colocar seu dinheiro no Líbano. Os salários estão sujeitos a contínuos atrasos e tiveram redução de 15%. O desemprego afeta a 700.000 adultos em um país de 6,8 milhões de habitantes. Antes da pandemia e da explosão do porto, os hospitais já estavam abarrotados e quase paralisados. Falta tudo. Os cortes de eletricidade são sistemáticos. Os produtos de primeira necessidade estão ausentes no mercado ou são adquiridos a preços proibitivos.
Cercados pelas religiões.
O Líbano continua gozando das melhores elites intelectuais do mundo árabe, mas também padece das piores oligarquias. As elites e os detentores do poder não pagam impostos. Quatro ou cinco oligarcas de distintas religiões distribuem dinheiro para o povo de acordo com o percentual de seguidores. O equilíbrio no poder é imutável desde 1943. O presidente é obrigatoriamente escolhido pelos cristãos e só manda no exército. O primeiro ministro é necessariamente muçulmano sunita e detém o poder efetivo. O presidente do parlamento, que realiza uma inexistente fiscalização, é necessariamente xiita. Ninguém pode escapar dessa jaula.
O cerco internacional.
O Líbano está cercado por forças internacionais. De um lado, há uma aliança entre a França, Arábia Saudita, os Estados Unidos e os cristão libaneses para destruir a maior força armada libanesa, constituída pelo Hezbolah. O "imperium" israelense acossa as fronteiras libanesas, de fato estão em guerra não declarada. A Síria apoia vários grupos políticos, todos inimigos entre si. O Irã tenta investir no Líbano, mas é bloqueado pelos EUA, sob o argumento dessas empresas terem cumplicidade com o Hezbolah. A guerra na Síria levou 1,5 milhão de refugiados para dentro do Líbano. Há outros milhares de pessoas apátridas vivendo em terras libanesas, em geral são filhos de casais cristãos com muçulmanos. Além dos milhares de refugiados palestinos. O Líbano está cercado pela debilidade econômica, pelas religiões e pelas forças estrangeiras. O mundo necessita proteger esse país que já foi a "Suiça árabe". O país que nos legou o alfabeto e as escolas. Extremamente culto, perdem seus mais preparados cidadãos a todo dia. A ilha de paz e prosperidade que já foi um dia, poderá ter sua hora de cisne-branco.