Os abutres querem destruir o Fundo Soberano
Mais uma vez os US$380 bilhões do Fundo Soberano estão na alça de mira. A decisão de exterminar com nossa única segurança econômica está nas mãos de Paulo Guedes. Sua formação garante que essa loucura e irresponsabilidade não ocorrerá, mas quem garante que Guedes permanecerá no comando da economia do país? Sua notória inflexibilidade o impede de viver no ar poluído de Brasília. Mas porque o Fundo Soberano - que está sendo denominado de "reserva cambial" - é essencial para o Brasil?
Esses fundos são mantidos por duas razões principais, que coincidem parcialmente com o que deseja o governo que assumirá o poder em janeiro. São criados para administrar a entrada de moedas estrangeiras, especialmente em situações caracterizadas como "doença holandesa". Essa enfermidade financeira ocorre quando um país é tão bem sucedido na exportação de um determinado produto que paradoxalmente essa riqueza acaba se tornando uma ameaça à prosperidade da nação.
O exemplo mais notável é o petróleo e o caso da Venezuela.
A Venezuela sucumbiu devido à inexistência de um Fundo Soberano.
Na Venezuela a disponibilidade de reservas petrolíferas permitiu uma expansão tão rápida das receitas de exportação que a abundância de dólares resultante dela, valorizou muito a moeda local. Moeda muito valorizada, fez com que os venezuelanos não mais conseguissem exportar outros produtos. Além disso, uma moeda nacional supervalorizada tornou as importações tão baratas que a produção nacional chegou ao colapso, e com essa destruição da produção, o desemprego tornou-se endêmico.
Para quem não lembra, Hugo Chavez com uma imensa torneira de petróleo nas mãos, fez com que toda a produção industrial e agrária venezuelana desaparecesse. Chavez importava loucamente todas as necessidades de seu povo. Chavez não dispunha de um Fundo Soberano para administrar a entrada e saída de moedas estrangeiras.
Quando esse tipo de mercado desaba, não têm para quem recorrer, caso tenha permitido durante os "bons tempos", tempos de barril de petróleo custando mais de US$100, o sucateamento de suas atividades produtivas domésticas.
Abutres não gostam de planejamento a longo prazo.
É comum que em países emergentes seus governantes tenham pressa e deixam-se levar pela facilidade de obtenção de receitas que jamais deveriam ser usadas. Receitas protetoras. O controle da exportação e da importação, a entrada e saída de moedas estrangeiras, exige uma visão de longo prazo e uma capacidade de planejamento que raramente se encontra presente nos governos brasileiros. Vivem de acordo com o vento, para onde assoprar, seguem em frente até a falência extrema.
E em se tratando de governos brasileiros, há ainda a possibilidade de "comprar" a adesão política da população com importação baratas, que criarão a sensação de uma vida melhor, muito embora essa melhora acabe rapidamente por não ser sustentável, por não dispor de um Fundo Soberano.
O planejamento do desenvolvimento, portanto, não é algo simples. A doença holandesa pode acabar contagiando o país, tornando-o vulnerável às flutuações da demanda internacional. Já vivemos nessa situação ao longo de nossa história com a crise da borracha, do café, dos minérios... do enlouquecimento do governo Dilma... a lista de desatinos é imensa.
É ai que entra o Fundo Soberano. Impede a loucura e nos protege de abutres internacionais e locais. O fundo permite que as receitas de exportação sejam investidas de forma rentável, em vez de serem queimadas em despesas que podem aguardar ou que são supérfluas. O país não deixa de utilizar aquilo que percebe como oportunidade de expansão das exportações, mas evita os danos que isso pode causar. Como consequência a moeda local não se supervaloriza e o país protege seus setores produtivos e o emprego doméstico. A opção é simples: torramos o Fundo Soberano e voltamos a pedir benção ao FMI ou o mantemos e nos distanciamos dessas famigeradas instituições internacionais que tanto nos prejudicaram ao longo de nossa história. Os abutres de todas as cores de penas, de todas as nacionalidades, grasnam em torno do fundo. Há pouco, só abutres estrangeiros sobrevoavam o fundo, agora, surgem os nacionais.