Um mundo de criados. Até criados tinham criados
Era uma época de criados. As casas tinham criados do mesmo modo que hoje as pessoas possuem aparelhos domésticos. Até trabalhadores comuns tinham criados; e mesmo certos criados tinham criados.
Os criados faziam mais do que prestar serviços práticos; eram um indicador essencial de status. As pessoas se aferravam à necessidade de ter criados, quase tanto como à própria vida.
Karl Marx tinha criados e dormia com um deles.
Karl Marx, o pensador do comunismo, vivia no Soho, em Londres. Cronicamente endividado, muitas vezes não tinha comida para colocar na mesa. Mas empregava uma governanta e um secretário pessoal. A casa era tão superlotada que o secretário - um homem chamado Pieper - tinha que dormir com Marx na mesma cama. Mesmo assim, de algum jeito, Marx conseguiu arrumar momentos de privacidade para seduzir e engravidar a governanta, que lhe deu um filho. Algo bastante comum não só na Inglaterra, mas muito mais no Brasil, sempre com uma população ultra erotizada.
Criadagem ou prostituição?
Logo após a libertação dos escravos no Brasil, uma em cada três moças - de qualquer cor de pele - era empregada doméstica. Outra terça parte se compunha de prostitutas. Para a grande maioria, essas eram as únicas opções. Era um mundo sobretudo feminino. As mulheres empregadas no serviço doméstico superavam os homens em dez para um. A maioria deixava a criadagem por volta dos 35 anos, em geral para casar, e muito poucas permaneciam no mesmo emprego por mais de um ano. Era um trabalho duro e ingrato.
Antes do dia raiar....
Os criados em todos os níveis trabalhavam longas horas, arduamente. Tinham que cortar a lenha e acender o fogo, engraxar todos os sapatos dos patrões, dos filhos e dos parentes e ainda limpar e aparar os lampiões. Tudo isso antes que a família começasse a se mexer pela casa. O destino de um criado era passar em torno de 17 horas por dia trabalhando duro, dentro e fora da cozinha, carregando carvões em brasa, o desjejum ou latas de água quente. Antes do advento do encanamento interno, era preciso levar água para cada quarto e retirá-la depois de utilizada. Também tinham de limpar os urinóis e as "commodes" (cadeiras com urinol).
"Amiga do criado", o primeiro eletrodoméstico.
Limpar as facas - guardadas envolvidas em banha - era um trabalho tão pesado que uma máquina de limpar facas se tornou um dos primeiros aparelhos para poupar o trabalho manual. Era basicamente uma caixa com uma manivela que fazia girar uma escova dura. Uma dessas caixas foi vendida como a "Amiga do criado". E era mesmo, sem dúvida.