Violência doméstica e bebida: a lei seca era bem molhada
O movimento que levou à Lei Seca, nos EUA, não era conservador. Era, antes de tudo, feminista. Também era socialista. A ideia dos progressistas era ajudar a nação a se reformar e progredir rumo a um novo estado de sobriedade. Também era do Meio-Oeste. E, por último e o mais surpreendente, não era contra o álcool. Era contra o bar, o “saloon”.
Aquelas mulheres que apanhavam de seus maridos.
As mulheres “respeitáveis” nunca seriam encontradas em um saloon. Viviam em casa, ressentidas, pobres e morrendo de medo. Havia - e ainda há - uma percepção popular de que os maridos recebiam pelo trabalho, iam para o saloon e gastavam tudo. Voltavam para casa sem um centavo e irritados. Acabavam o dia batendo em suas esposas. Elas viviam na pobreza, porque todo o dinheiro da família ia para o saloon. Ninguém sabe até que ponto essa percepção era - e continua sendo - verdadeira. A violência doméstica sempre foi camuflada, mal entendida e pouquíssimo combatida. Mas devia ocorrer com frequência. Até que um livro, sob o título “Ten nights in a Bar-Room”, incendiou o país. Ele retratava o saloon como um vilão que atraia o homem para o alcoolismo, violência, pobreza e morte. Um best-seller.
Protestos na frente do saloon.
Naquela época, mulher não saia de casa e não votava. Restava a elas protestar. Foram em massa para frente dos saloons. Lá, se reuniam, ajoelhavam e rezavam. Nunca tinha ocorrido algo semelhante. Formaram a União Cristã das Mulheres pela Temperança. Alguns anos depois, veio a Liga Anti-Saloon. Não estavam interessadas se seus maridos tomavam uma cerveja ou vinho em casa. Eram contra o padrão de comportamento no saloon como instigador da violência doméstica e da pobreza.
Alemães à vista!
Se a defesa da lei seca era comandada pelas matronas do Meio-Oeste, quem mais a atacava eram os alemães. Eles eram proprietários de todas as fábricas de cerveja. Como a maior parte dos grupos de imigrantes, os alemães simplesmente não tinham uma tradição de abstinência. Bem ao contrário, tinham tradição de fazer uma boa cerveja. Faziam anúncios que retratavam a cerveja como uma saudável bebida. Como todo norte-americano se dava bem com eles, vendiam tudo que produziam. Então veio a Primeira Guerra Mundial. Eles se tornaram inimigos….a cerveja virou alvo, inclusive daqueles que a bebiam. Sobrou Al Capone e sua turma.
O saloon é clandestino e dança o jazz.
O humano toma bebida alcoólica desde sempre. Provavelmente antes mesmo de plantar para comer. Quem proíbe bebida alcoólica, com absoluta certeza, propiciará o surgimento de grupos que a venderão clandestinamente. E foi o que aconteceu. Continuaram vendendo bebida alcoólica. Há quem diga que até duplicou a vendagem após o advento da lei seca. Seja como for, essa lei tem um filho maravilhoso: o jazz. Esse movimento musical nasceu nos bares clandestinos durante esse período de proibição. Sob o regime brutal de Al Capone, as taxas de assassinato de Chicago eram de 10,4 mortos a bala a cada 100 mil habitantes. A metralhadora pipocava.
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