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Economia

Saqueado, Porto Seco vale uma Mega-Sena, mas só desperdiça dinheiro público

Em 16 anos, não faltam planos para o local, mas a realidade é de total abandono

Por Aline dos Santos | 08/12/2023 12:33
Imóvel depredado no pátio do Porto Seco, localizado no anel rodoviário. (Foto: Marcos Maluf)
Imóvel depredado no pátio do Porto Seco, localizado no anel rodoviário. (Foto: Marcos Maluf)

Ao olhar para o Porto Seco, às margens da BR-262, no anel viário de Campo Grande, não veja apenas concreto, vasto terreno, vagões abandonados e depredação por todos os lados. Ali estão desperdiçados R$ 30 milhões de dinheiro público. Valor equivalente a um prêmio de Mega-Sena, como o sorteado no último dia 10 de novembro.

Na manhã desta sexta-feira (dia 8), a reportagem encontrou uma estrutura saqueada onde deveria funcionar o Terminal Intermodal de Cargas. Logo na entrada, o portão arrombado permite livre acesso. No estacionamento, nada de veículos, por lá há mato e pássaros quero-quero.

No poste, uma placa quebrada e quase apagada do que já foi alerta de “proibido acesso de pessoas não autorizadas”. O cenário é de televisão quebrada e jogada ao chão. Ladrões levaram do transformador à fiação.

Paredes foram quebradas, forro danificado e documento com o timbre da Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) estava jogado no chão. A situação foi encontrada em imóvel que tem totem com a inscrição “Rumo Complexo Campo Grande”.

Nos trilhos, vagões seguem sendo devorados pelo tempo. O imobilismo dos vagões, parados ali há anos, contrasta com o slogan da América Latina Logística, gravado num deles: “A gente nunca para”.

Vagões abandonados nos trilhos em área do terminal intermodal. (Foto: Marcos Maluf)
Vagões abandonados nos trilhos em área do terminal intermodal. (Foto: Marcos Maluf)

Jornada - O projeto começou a ser defendido ainda na época em que André Puccinelli (MDB) era prefeito da Capital, com a ideia de aproveitar a logística da região, onde passa uma linha férrea e há acesso rápido a rodovias com destino a São Paulo, Sidrolândia e Corumbá.

Com diversas paralisações no meio do caminho, o terminal ficou em obras de setembro de 2007 a 9 de dezembro de 2020. Antes da conclusão, o município corria o risco de ter que devolver ao Ministério dos Transportes o dinheiro investido.

Em 16 anos, não faltam planos para o local, sonhado para ser um hub logístico e centro de distribuição de mercadorias.

Portão derrubado dá livre acesso à estrutura que teve verba de R$ 30 milhões. (Foto: Marcos Maluf)
Portão derrubado dá livre acesso à estrutura que teve verba de R$ 30 milhões. (Foto: Marcos Maluf)

Agora, com o avanço da Rila (Rota de Integração Latino-Americana), também conhecida como a Rota Bioceânica, o projeto é que o terminal intermodal de cargas atenda a empresas brasileiras e de demais países, como o Paraguai, que se beneficiarão deste caminho para exportação de grãos, fibras, proteínas e minérios a países asiáticos.

Comissão – Em 10 de março deste ano, a prefeitura criou comitê de acompanhamento da implantação do TIC-CG (Terminal Intermodal de Cargas de Campo Grande).

A resolução da Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio) mencionava que estudo estratégico, logístico e de mercado apresentou três modelos como alternativas para o processo de implantação do terminal.

Divulgado em dezembro de 2022, o levantamento foi realizado pelo Consórcio Pantanal, formado pelas empresas Deméter Engenharia, FIPE e Felsberg Advogados.

O resultado final do estudo identificou que o terminal, no contexto atual, já teria potencial de movimentação de cargas que atingirá 4,9 milhões de toneladas em 2034, compostas principalmente por granéis agrícolas, fertilizantes, granéis líquidos combustíveis e cargas industriais conteinerizadas. O terminal tem área de 617,9 mil m² (metros quadrados).

Mato e placa torta na área planejada para estacionamento. (Foto: Marcos Maluf)
Mato e placa torta na área planejada para estacionamento. (Foto: Marcos Maluf)

Aguardem mais um pouco  – Titular da Sidagro, Adelaido Vila afirma que o levantamento de viabilidade apontou a necessidade da “volta” da ferrovia e que o somente o modal rodoviário não é suficiente. O Porto Seco foi planejado quando a ferrovia estava ativa.

 “Estamos fazendo articulações com o Ministério dos Transportes para viabilizar a volta da ferrovia. Acredito que a prefeita Adriane Lopes deva anunciar questão importante até o fim do ano. Tem plano de retomada, de manutenção, mas tudo isso será anunciado por ela”, afirma o secretário.

Ainda de acordo com Adelaido Vila, a gestão municipal também busca parceria com a empresa que administra o Aeroporto Internacional de Campo Grande, considerando que são seis quilômetros de distância entre o Porto Seco e o local.

Sobre a depredação, o secretário diz que há uma escala de ronda e uma série de providências serão apresentadas futuramente. O Terminal Intermodal de Cargas, quando ativado, terá administração do Consórcio Park-X.

Cadeira jogada na grama e restos de transformador, (Foto: Marcos Maluf)
Cadeira jogada na grama e restos de transformador, (Foto: Marcos Maluf)

De acordo com o presidente do Sindicato dos Guardas Municipais, Hudson Bonfim, o local não tinha estrutura mínima para os servidores (nem mesmo água potável) e, por isso, os guardas foram retirados do Porto Seco, após ultimato da Justiça. Liminar mandou adequar o local ou fechar a base da Guarda Civil Metropolitana.

O Campo Grande News solicitou informações a Rumo Logística, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.

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