Pais "especiais" sobreviveram ao casamento como eternos namorados
Mãe também reclama deste domingo deu espaço para Joelma e Aurélio falarem sobre o Dia dos Namorados dentro da maternidade atípica
"É muito simples você ter uma vida tranquila, com filhos criados e independentes, curtir o Dia dos Namorados. E para nós, mães especiais, que sobreviveram ao casamento diante de tantos desafios, vivermos como eternos enamorados?" Foi com essa pergunta questionadora e também retórica que a Joelma me mandou uma mensagem, dia desses, falando sobre o que significava a data do dia 12 de Junho para ela e o marido, Aurélio, pais da Maria Valentina, portadora da síndrome Cornélia de Lange, que já foi notícia aqui no Lado B.
Tive interesse pela história e, entre terapias, exames e toda rotina de cuidados que a pequena exige, Joelma ia narrando seu conto de fadas com Aurélio, por áudio. Juntos, eles têm 10 anos de "amontoados", como preferem dizer, mas casados perante a lei da igreja, são sete anos. "É pouco tempo? É! Mas os desafios são diários", enfatiza. A resiliência deles e a persistência no amor, também.
Joelma dos Santos Belo é formada em Relações Públicas, tem 40 anos e exerce o papel de mãe em tempo integral. Aurélio Fernandes Belo Júnior, tem 45 é administrador de empresas e mestre de cerimônias.
O casal é totalmente o oposto um do outro. Brincalhona, Joelma é dona de risadas altas. Já Aurélio tem uma voz marcante, de quem bem a utiliza como mestre de cerimônias, mas nas relações pessoais é mais contido.
Os dois se conheceram em 2000, mas só se reencontraram em 2009, quando Joelma resolveu "atacar" o marido na igreja. A cada abraço de Paz de Cristo, ela aproveitava para mostrar que além do sentimento religioso, ali tinha mais coisa. Até que o primeiro beijo aconteceu, no estacionamento da paróquia, e eles nunca mais se separaram.
Em novembro de 2015, nasceu Valentina e a vida dos dois mudou completamente. Se a vinda de filhos típicos já mexe com um casamento, imagine quando o bebê não nasce como você esperava?
"Nos casamos pensando em ter filhos típicos, que a gente pudesse levar para o balé, para a escola, ter uma vida que nós julgávamos normal, mas ela veio diferente: veio mais que especial. E a gente teve que modular a nossa vida ao redor da dela", conta Joelma.
Como casal e pais, eles se permitiram viver o luto, o choque e cada fase que a maternidade atípica trouxe. "Depois a gente aprendeu a viver cada momento como se fosse o único, e é assim que a gente vive todos os dias", explica Joelma.
Para quem nunca acompanhou de perto alguma ruptura das expectativas de pais sobre os filhos, como quando uma criança nasce com alguma síndrome ou doença, parece ser fácil de lidar. O contexto, além de mudanças, pode gerar sobrecarga de atividades e terapias, diminuindo o tempo que antes era empregado na relação. Isso sem contar a responsabilidade e a culpa que pode recair sobre o outro.
No caso de Joelma e Aurélio, Maria Valentina está incluída em todos os momentos, independentemente da data. Por exemplo, no Dia dos Namorados do ano passado, ela esteve sentada à mesa com luz de velas, entre vários casais na Pizzaria La Gôndola. "Ela é parte da nossa vida e da nossa história e vivemos como eternos enamorados porque Deus é o nosso alicerce", prega Joelma.
Inserida na sociedade desde sempre, os pais nunca esconderam a filha, e foram aprendendo a adequar a vida deles às necessidades e ao sorriso de Maria. "Ser enamorado para pais especiais é viver essa união abençoada por Deus tendo nossa filha conosco. Felizmente, a Maria está sempre conosco e a gente aprendeu a conviver com ela. Às vezes, quando viajamos a trabalho, sentimos muito a falta dela. Viver o Dia dos Namorados é o momento de celebrar, independentemente de onde quer que estejamos, com muito amor, na certeza de viver cada dia com essa esperança de cultivar, e que nosso amor prevalecerá acima de tudo".
As palavras românticas de Aurélio são pura declaração de amor à Joelma e também à filha. E não são feitas apenas para sair no jornal. Na intimidade do lar, eles vivem o amor nos pequenos gestos. "A gente imprime foto em datas especiais, deixa mensagem no balcão, ou no primeiro lugar que um vai... Recadinho na espuma de barbear, na válvula do chuveiro. 'Bom dia, que você tenha um dia iluminado, eu te amo'", exemplifica o casal.
Por meio dessas declarações inesperadas e ao mesmo tempo tão simples, é que eles exercitam o amor diariamente. "Prezamos muito por continuar isso e surpreender o outro das melhores maneiras, porque é um desafio de ter um filho especial e manter-se enamorado, manter a vaidade, manter a chama acesa desse relacionamento. Mas a gente tem como objetivo viver um dia de cada vez e viver para quem a gente ama", fala Joelma.
O dia 12 de Junho foi passado em uma chácara. Nas fotos, eles mostram a felicidade de estar juntos. "É fácil ou é menos difícil você manter um relacionamento a dois com filhos típicos, porque você pode deixar seu filho com alguém e arrumar uma noite, uma surpresa, ter tempo até mesmo de tampar os olhos do amado. Aqui não temos muito tempo para essa surpresa, por isso que o enamorar nos pede isso todos os dias. Fácil não é, e muitos abandonam o barco, mas essa luta diária de enamorar faz com que a gente perdure um relacionamento duradouro, sadio e, principalmente, feliz".
Tem algum tema para sugerir para o Mãe também reclama? Me mande um e-mail: paulamaciulevicius@gmail.com .