Em vendavais, árvores tombam vítimas de podas, calçadas e idade
Temporais nesta semana, com rajada de ventos de até 104 km/h, levaram quase 130 árvores ao chão em Campo Grande. O cenário foi de muros destruídos, ruas interditadas, fiação da energia elétrica arrebentada e transtornos.
Na capital mais arborizada do Brasil, os motivos são vários para que elas sucumbam à ventania. “As árvores estão caindo por causa de um conjunto de fatores”, explica o biólogo Ademir Kleber Morbeck de Oliveira, que tem pós-graduação em Ecologia.
Literalmente na raiz do problema estão as calçadas. Conforme o biólogo, o calçamento diminui o espaço para a raiz crescer. “A árvore de grande porte cresce muito e fica sem sustentação embaixo. Qualquer vento mais forte, ela cai”, afirma Ademir.
Com a raiz encurtada, ela não consegue buscar água no subsolo, ficando enfraquecida. Árvore de cidade só conta com a água da chuva. O biólogo compara que é muito difícil ter queda em parques, onde as raízes de desenvolvem livremente.
Outro complicador é a poda para que os galhos não alcancem a rede elétrica. A copa é aberta no centro e as bordas são mantidas, fazendo com que a árvore ganhe o formato de V. Ele explica que outro fator é a poluição. Os veículos soltam toxinas, que estressam as árvores, deixando-as fracas.
O biólogo orienta que a cada poda, a árvore receba aplicação de caldo de bordoleza. O remédio evita fungos e cupins. A ação é semelhante a passar remédio em uma pessoa que se corta. A medida evita infecções por bactérias. A idade também pesa para que as árvores venham ao chão.
Ele afirma que é necessário avaliar árvore por árvore. “A maioria vai apresentar problemas. Perto da fiação, as de grande porte devem ser substituídas por outras de médio e pequeno porte”, salienta.
Funcionária de um carrinho de garapa localizado embaixo de uma árvore na avenida Afonso Pena, Tatiana Inácio da Silva, de 26 anos, conta que não se sente insegura porque sabe que a árvore é nova. “Mas dá para perceber que não tem espaço para crescer a raiz”, afirma.
De mudança para o Rio de Janeiro, Laila Dulce Feitosa, de 43 anos, relata que gosta de Campo Grande por ser muito arborizada. “Estou indo por causa da família. A cidade é muito boa e tem qualidade de vida. E as árvores contribuem para isso”.
Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) colocou Campo Grande como a capital mais arborizada do Brasil, deixando Goiânia para trás. De acordo com a análise, o índice apontou que 96 residências em 100 são arborizadas na capital sul-mato-grossense.