Qual é o papel de analista da gestão da diversidade e inclusão nas organizações?
As organizações não podem fechar os olhos para dados alarmantes socialmente, como o Brasil ser considerado o país que mais vítima pessoas LGBT. Isso não quer dizer que a temática da diversidade é voltada apenas para a pauta e para as pessoas LGBT. Fala-se em diversidade das diversidades. Diversidade de gente. Somos seres plurais. Mas infelizmente, há uma produção de desigualdades sobre as nossas diferenças, como as de gênero, orientação sexual, raça e classe, que devemos combater.
Como professora, palestrante, mentora acadêmica e empresarial, ofereço apoio na área de políticas e práticas para a gestão da diversidade nas organizações. O embasamento desse trabalho está pautado na minha formação acadêmica e profissional, em pesquisas científicas, dados publicados sobre a temática e em cases de sucesso. Tive o prazer de criar e implantar no curso de Administração na Universidade de Brasília (UnB), a disciplina Diversidade nas Organizações, ofertada como tópicos especiais. Atualmente, é crescente o número de cursos voltados especificamente para a formação em diversidade, como os de extensão, pós-graduação, entre outros.
O profissional analista da diversidade realiza a análise situacional da organização, de modo sistêmico, a fim de aprimorar as políticas e práticas de gestão de pessoas, considerando a inclusão das diversidades humanas. Para isso, tem a missão de tornar o ambiente mais diverso e seguro para as pessoas se expressarem, livre de preconceitos e discriminações, com acolhimento e amparo social para todas as pessoas. O olhar desse especialista sempre será o de encontrar gaps, lacunas, ausências, sub-representações, que podem ser alteradas com políticas e práticas proeminentes da diversidade e inclusão, com interesse genuíno nas pessoas e nas suas necessidades humanas.
Os valores desse especialista estão pautados na ética e na responsabilidade social, com intuito de promover o desenvolvimento constante de pessoas para aprimorar os negócios organizacionais. O objetivo maior é o de estimular mudanças nos processos de gestão de pessoas, muito além de alterações nos processos de recrutamento e seleção, que representa a via de entrada na organização. É importante a promoção de políticas de permanência que estimulem as competências e habilidades exigidas pela nova sociedade, com mentalidade inclusiva. Todos(as) nós temos talentos diversos que podem ser canalizados para o bem comum social. O segredo está justamente em conhecer as pessoas em suas diferenças com olhar de valorização para incentivar o aprimoramento das suas diversas potencialidades.
O trabalho de inclusão da diversidade não tem força se for realizado sozinho, tendo em vista que o movimento de mudança é coletivo. É em aliança que ultrapassamos barreiras e construímos pontes que nos conectam por meio do diálogo franco, a fim de alcançarmos os objetivos em comum. Nesse sentido, a adesão da gerência organizacional é essencial para disseminar práticas discursivas e sociais em todos os processos organizacionais em prol da mudança social no ambiente empresarial. Estimulando assim, a participação coletiva de todas as pessoas que fazem parte da empresa.
As pessoas movem os negócios organizacionais, mas sem produtos e serviços atrativos, criativos, inovadores, sustentáveis e inclusivos, não há organização que consiga sobreviver às exigências da nossa sociedade. A demanda e oferta da nova sociedade é pela cultura da inclusão da diversidade, na qual não há espaço para violências nos espaços organizacionais, desde às silenciosas e sutis até mesmo às físicas.
Há também analistas da diversidade internos à organização, que trabalham especificamente com esse tema como uma oportunidade de alavancar os negócios organizacionais. Fala-se em diretoria específicas e comitê da diversidade, entre outros. Os efeitos desse trabalho são positivos para o ambiente organizacional e um exemplo disso, é o fomento da formação de grupos de afinidade, que tendem a promover o diálogo franco no contexto organizacional, construindo uma rede de solidariedade coletiva. Um analista da diversidade externa pode, inclusive, auxiliar a criação desses setores específicos internos quando ainda não fazem parte da estratégia e dos investimentos organizacionais.
É sabido que as empresas se tornam mais lucrativas e fortalecem a sua marca no mercado competitivo quando trabalham com respeito à diversidade e inclusão. Isso impacta no bem estar e na produtividade dos(as) trabalhadores(as). Desse modo, ganha a empresa e ganham os(as) trabalhadores(as). Afinal, quem é que não gosta de se sentir bem e respeitado na empresa que trabalha? E qual é a empresa que não gosta de trabalhadores(as) respeitosos(as), comprometidos(as) e engajados(as)?
É um movimento de aliança em prol de uma rede de transformação constante e que não funciona bem como uma prática pontual, mas como uma política permanente, uma mentalidade organizacional.
Avante sempre em aliança coletiva para mudanças sociais profícuas!
(*) Bárbara Medeiros é doutora em administração pela UNB.