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Cidades

Testemunhas dizem não imaginar motivos para intimação sobre a Vostok

Depoentes eram questionados se conheciam alvos da operação, se negociavam da JBS, mas não receberam dados sobre a investigação

Silvia Frias | 03/09/2019 13:32
Intimação enviada a uma das testemunhas convocadas para depoimento à PF: informações, só com Brasília (Foto: Silvia Frias)
Intimação enviada a uma das testemunhas convocadas para depoimento à PF: informações, só com Brasília (Foto: Silvia Frias)

A movimentação foi intensa esta manhã na sede da Polícia Federal em Campo Grande, com o mutirão de tomada de depoimentos de testemunhas e investigados na Operação Vostok, em inquérito sobre pagamento de propina do Grupo J&F – controlador do frigorífico JBS a políticos. Os depoimentos devem seguir até às 17 horas.

Na lista dos citados, há comerciantes e produtores rurais de Aquidauana, Anastácio e Campo Grande. Muitos dos intimados diziam não saber o motivo de terem sido convocados. No total, são 110 depoimentos em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Ceará e Mato Grosso.

Equipes da PF de Brasília auxiliaram no trabalho de tomada de depoimentos que vão durar até o fim da tarde.

Até o diretor do presídio semiaberto de Aquidauana, Fábio Ferreira, foi intimado para comparecer hoje. "Eu fui intimado há 5 dias, mas fiquei surpreso. Pensei na hora, o que eu tenho com esse inquérito? Liguei em busca de informação, mas como sou testemunha falaram que não precisavam passar nada para mim."

O pecuarista Almir Tamashiro Guedes, também advogado, ficou indignado pelo "incômodo". "Não tenho ideia do motivo de estar aqui. Não sei porque não me ouviram lá em Aquidauana", reclamou.

A informação obtida pelo Campo Grande News é que muitas das testemunhas foram chamadas por terem sido citados por outros depoentes, mesmo que em transações lícitas. A intenção seria checar se o que foi dito por outros investigados e testemunhas condiz com a realidade.

O advogado João Lyrio conversou com a reportagem e disse representar uma senhora residente em Maracaju, de 83 anos, que não teria condições de comparecer à PF, por ter se machucado recentemente. “Ela nem teria o que falar”. Segundo João, ela arrenda fazenda para produção de soja e não teria qualquer relação com a investigação.

O comerciante José Pereira Damasceno, proprietário de mercado em Aquidauana e Anastácio, disse que foi questionado se conhecia ou comercializava com algumas pessoas. Questionado quem seriam, limitou-se a dizer: “São tantos, né? Fica ruim ficar falando”. José diz que compra carne diretamente do Frigorífico Buriti, um dos alvos da Operação Vostok, realizada em setembro de 2018. O depoimento durou cerca de uma hora.

O filho do comerciante, Marcos Damasceno, deu alguns detalhes a mais e, ao ser apresentado a uma lista, afirmou que foi perguntado se conhecia pessoas como o ex-prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra e o deputado estadual José Teixeira (DEM), o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Márcio Monteiro. “Vixi, tudo isso aí perguntaram”.

Outros preferiam sair sem falar com a imprensa. “Não tinha nada para declarar e se a gente perguntava, dizia que era inquérito de Brasília”, disse um advogado que acompanhou um dos depoentes.

Pecuarista de Aquidauana passou pelo menos 1h30 na sala e disse que foi perguntado se conhecia várias pessoas. "Era tanto nome que teve uma hora que perguntaram nome da minha mulher, disse 'não conheço'", brincou.

Vostok - A operação deflagrada em setembro de 2018 e com desdobramentos nessa terça-feira (3), relativa às denúncias da J&F, controladora da JBS, de troca de incentivos fiscais por propinas em Mato Grosso do Sul.

Na planilha entregue na delação à Operação Lava Jato, Wesley e Joesley Batista relataram que o modelo de pagamento por meio de Tares (Termos de Acordo de Regime Especial), em troca de incentivos fiscais.

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