"Ela vai carregar isso para sempre", diz pai sobre criança vítima de estupro
Internada na Santa Casa, a menina de 9 anos ainda se recupera de uma cirurgia feita às pressas na manhã de ontem (19). Estuprada pelo padrasto de 26 anos, a criança precisou ter parte dos órgãos reconstruídos. O crime aconteceu na madrugada deste domingo no bairro Jardim Tarumã, na casa de um amigo do padrasto.
Os médicos afirmaram que houve a consumação do ato e se o socorro à menina demorasse mais algumas horas, ela poderia ter morrido.
A criança ainda não tem data para receber alta, mas passa bem, segundo o pai biológico, um agente de viagens de 36 anos. "Eu falei com ela há pouco pelo telefone e ela está bem, estava comendo uma maçã. Não disse nada sobre o assunto. Não dá para saber o que se passa na cabecinha de uma criança".
Desolado, o pai foi à delegacia na manhã desta segunda-feira (20) para reconhecer o suspeito, mas a tentativa foi em vão. O autor do crime continua desaparecido. Segundo o pai da criança, a ex-mulher, que vive com o companheiro há cerca de cinco anos, disse que não sabe onde ele pode estar.
Conselhos: Pai presente, apesar de estar separado da ex há muitos anos, ele garante que sempre alertou a filha sobre situações como essa. “Sempre disse para ela contar se tivesse acontecido alguma coisa, por isso é difícil dizer se já tinha acontecido ou não”.
O relacionamento entre o pai, a ex-mulher e o padrasto sempre foi amistoso. A filha sempre morou com a mãe, mas o contato com o pai era constante.
Com olhos marejados e a voz explicitamente ressentida e consternada, o pai afirmou que ninguém pode imaginar a dor por qual ele está passando. “Só quem já viveu alguma coisa assim pode saber”.
A reconstrução feita nos órgãos da criança não deverá apagar as marcas profundas que vão acompanhar a menina por toda vida, como acredita o pai. “A minha filha vai carregar isso para sempre, nada vai mudar”.
O agente de viagens lembra ainda que o suspeito do crime brutal também tem uma filha, praticamente da mesma idade da vítima. “Para a filha dele eu não desejo nada de ruim, mas eu quero que ele sofra como a minha filha sofreu”, disse de forma totalmente compreensiva.
Entenda o caso: O crime foi descoberto pelo dono da residência onde aconteceu o estupro. Marcas de sangue ficaram nas paredes, no chão e na cama, tamanha violência sofreu a menina.
Na noite de sábado, o suspeito e um grupo de amigos estavam bebendo em um bar no bairro Coophavila II. Quando saíram do local, por volta das 22h, foram até a casa onde aconteceu o crime.
Conforme os amigos relataram ao pai da menina, o suspeito teria ficado sozinho na casa com a criança, enquanto os outros seguiram para uma casa de shows na rua Brilhante.
Já na madrugada de domingo, por volta das 3h, o grupo voltou para a residência. O dono da casa disse que o padrasto e a menina não estavam mais lá.
Assustado com as manchas de sangue pela casa, o amigo teria ido até a residência do padrasto para saber o que tinha acontecido no local.
O suspeito disse ao amigo, que as manchas de sangue eram por causa da menstruação da criança que havia descido. “Ele disse que a menina estava dormindo e estava bem”, contou o pai da criança depois de ouvir os amigos.
Chorando de dor e ainda sangrando muito a criança só foi levada ao posto de saúde por volta das 6h, quando a mãe do padrasto resolveu acudir a menina.
Só depois de peregrinar pelo posto de saúde do bairro Coophavila e Guanandi é que ela chegou a Santa Casa.
O pai só soube que a filha estava no hospital por volta das 9h da manhã quando a Santa Casa entrou em contato. “Eles não me disseram o que tinha acontecido, mas disseram que ela estava internada”.
Ao receber a notícia da internação, o pai conta que foi imediatamente até a casa da mãe. “Fui lá para saber o que tinha acontecido e ela me respondeu bem normal, como se nada tivesse acontecendo, que tinha descido a menstruação da minha filha”.
Chocado com a atitude da mãe, ele também questionou onde ela estava na hora em que tudo aconteceu. “Ela disse que estava trabalhando”. A ex-mulher tem 27 anos e trabalha como segurança de festas. “Ela disse que não sabia de nada e eu nem me importei em perguntar mais detalhes. Fui correndo para o hospital”.
A irmã do padrasto foi quem contou ao pai sobre o estupro, antes que ele chegasse ao hospital. “Ela contou quando fui buscar um documento da minha filha. Quando ela disse quase não acreditei. Passou muita coisa pela minha cabeça”.
Investigação: O caso foi encaminhado para DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente). A Santa Casa informou, por meio de assessoria, que por se tratar de menor e em uma situação frágil, nenhuma informação pode ser repassada.