Omertà completa 1 semana com prisões, "compra de liminar e matança”
Mas a repercussão não foi restrita a movimentações processuais, a operação ganhou as ruas com faixas
“Volto amanhã”. A frase atribuída pela operação Omertà ao empresário Jamil Name, 80 anos, e usada para se despedir da esposa ao ser preso, na última sexta-feira (dia 27,) não se concretizou. As prisões da investigação sobre milícia armada e grupo de extermínio (ligado a execuções em Campo Grande) completaram uma semana, acumulando pedidos de habeas corpus no TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
Nestes sete dias, foram notícias o plano da “maior matança da história de MS”, a ira despertada por motivos que vão de briga por terra a balde de gelo, “limpa’ na cobertura de investigado, suspeita de compra de sentença pelo senador Nelsinho Trad (PSD), documento encontrado no quarto de Jamil Name, onde também estavam cheques de ex-governador e de desembargador aposentado.
Mas a repercussão não foi restrita a movimentações processuais, a Omertà ganhou as ruas com faixas. Primeiro, já no dia seguinte à força-tarefa, no Parque dos Poderes, surgiu a indagação “O que acontece com o rato que solta o gato”.
Também foram espalhadas faixas com mensagem de parabéns. “Famílias agradecem aos heróis que prenderam a milícia que mata. Queremos Justiça!!!”. A distribuição foi estratégica: em frente ao Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros), Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), Batalhão de Choque e na entrada do Parque dos Poderes, próximo ao Tribunal de Justiça.
A ação – A partir das 6h de 27 de setembro, a Omertà passou a cumprir 23 mandados de prisão, sendo 13 preventivas e dez temporárias. As equipes passaram a manhã no jardim São Bento, no residencial onde foram presos Jamil Name e Jamil Name Filho.
No pedido de prisão, a operação aponta que eles são líderes de organização criminosa. Ao todo, 19 pessoas foram presas, chamando atenção pelos tentáculos em várias forças da segurança: guardas municiais, policiais civis, policial federal e um militar da reserva.
Numa situação contraditória no histórico de crimes de mando, os citados como pistoleiros, sempre localizados com maior facilidade, estão foragidos há uma semana: José Moreira Freires e Juanil Miranda Lima. A operação descreve um organograma com quatro núcleos: líderes, gerência, atividade de apoio e execução.
Sete dias – Na última semana, os empresários Jamil Name e o filho tiveram pedido de habeas corpus negado. Eles estão presos na cela 17 do Centro de Triagem. O Gaeco detalhou que no cumprimento do mandado de prisão, Jamil Name disse que o “jogo ia começar” e ofendeu desembargadores, sem citar nomes. Também foi apontado plano para matar o delegado titular do Garras, Fábio Peró.
De acordo com o advogado Rene Siufi, os apontamentos são “bobagem”. “Eu não ouvi isso e não acho que ele diria”, afirmou o advogado. A reportagem não conseguiu contato com Siufi nesta sexta-feira (dia 4).
No quarto de Jamil Name, foram encontrados cheques do ex-governador Zeca do PT e do desembargador aposentado Joenildo de Sousa Chaves. Ambos não se manifestaram sobre a apreensão.
O script que, em tese, detalha a venda de liminar em prol de Nelsinho Trad foi comentado pelo senador. Ex-prefeito de Campo Grande e réu em várias ações, ele declarou que “jamais participou de qualquer ato ou negociação com qualquer pessoa que seja”.
A resposta do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul é de que está “aguardando a apuração dos fatos relacionados à operação Omertà”.
Núcleo de apoio - No fim de semana, o plantão do TJ/MS negou vários pedidos de liberdade, incluindo do policial federal Everaldo Monteiro de Assis e de Eltom Pedro de Almeida, elencados no núcleo de atividades de apoio.
No meio do arsenal de guerra apreendido em 19 de maio com o então guarda municipal Marcelo Rios, havia um pen drive com dossiê sobre produtor rural que tem negócios nos municípios de Bonito, Jardim e Maracaju. A pesquisa foi feita com o login do policial federal. O material também teve uma versão impressa apreendida.
Ao cumprir mandados de busca na casa de Everaldo Assis, equipe da PF (Polícia Federal) apreendeu armas, munições e documentos encadernados com a inscrição reservado com o conteúdo do Gaeco.
De acordo com o advogado Adriano Magno de Oliveira, que integra a banca do juiz federal aposentado Odilon de Oliveira, ex-candidato ao governo, o pen drive foi furtado do veículo do policial federal.
Ontem, a defesa dos guardas municipais Rafael do Carmo Peixoto, Igor Cunha e Eronaldo Vieira confirmou que eles trabalhavam para Jamil Name, mas como serviços gerais e motoristas, com remuneração de R$ 625 por semana.
“Não foi encontrada nenhuma arma com eles. Que segurança é esse”, questiona o advogado Márcio Almeida. A defesa pede a revogação das prisões temporárias.
Também citado no núcleo de apoio, Eltom Pedro de Almeida aguarda julgamento do pedido de habeas corpus pela Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. Ele teve pedido de liberdade negado no plantão. “Para aplicação do contraditório e da ampla defesa, pedem informações ao juiz e dão prazo para parecer do Ministério Público. Depois, é marcado o julgamento pela câmara”, diz o advogado João Matheus Giacomini.
Na residência de Eltom Pedro, houve expressiva apreensão de documentos relacionados à família Name, como passaporte e procuração de Jamil Name Filho, pastas com documentos sobre fazendas e cópias de processos judiciais.
Único a se livrar da ordem de prisão, o advogado Alexandre Gonçalves Franzoloso, que atua na defesa do homem preso com o arsenal e de guardas réus por obstruir investigação, nega crime em sua atuação. Ele é suspeito de usar a condição profissional para impedir que investigação sobre execuções chegasse a empresários apontados como líderes de organização criminosa.
“O que aconteceu comigo, além de ter sido um absurdo, afeta a advocacia como um todo. Estão investigando pessoas através de seus advogados”. A operação apreendeu R$ 180 mil. Omertà é um código de honra da máfia italiana, que faz voto de silêncio.