Pecuarista tinha intenção de demitir empregada que planejou assalto
Em áudio enviado a um familiar, Andreia Flores revelou que estava à procura de alguém para trocar funcionária
Em conversa com familiar algum tempo antes de morrer, Andreia Aquino Flores, a pecuarista de 38 anos que acabou assassinada durante assalto na semana passada, revelou ter a intenção de substituir Lucimara Rosa Neves, 43, a empregada doméstica que planejou roubar a patroa. No áudio enviado ao parente, Andreia revelou incômodo com “palpites” que andou recebendo, aparentemente sobre como administrar os milhões que herdou do pai, produtor rural que faleceu em 2013.
Nos depoimentos dados à Polícia Civil, Lucimara e a filha, Jéssica Neves Antunes, de 24 anos, ambas presas por participação no latrocínio, deram detalhes sobre a relação com a família Flores, que ia além do vínculo empregatício.
Mãe e filha também fizeram questão de contar que Andreia tinha uma briga com a irmã por algo relacionado a “terra e gado” e essa mulher, com quem Lucimara já havia trabalhado antes de se tornar funcionária da vítima, teria oferecido R$ 50 mil para que a empregada convencesse Andreia a assinar um documento, usando “os meios que quisesse”.
No áudio gravado, a pecuarista parece demonstrar desconfiança de que a empregada tentaria interferir em seus negócios. “Ah não, ninguém não, vai palpitar não. Principalmente, empregada”, disse Andreia.
A patroa afirma ainda que tinha a intenção de substituir a funcionária. “Eu quero trocar, quero mandar embora a Lucimara, embora de vez mesmo, sabe? Mas, só que... primeiro eu preciso arrumar alguém pra trabalhar comigo, pra ir fazer tudo as coisas certinho. Fazer minha comida, lavar, passar, limpar a casa, sabe? Eu preciso arrumar alguém assim, de confiança”.
Por fim, Andreia revela que “Mah” estava em débito com ela. “Na verdade, não é mandar embora... por que ela já quase nem trabalha mesmo... só tá... porque ela me deve serviço, só por isso que ela está aqui ainda”. Ouça tudo:
O plano – A ideia de simular um roubo surgiu há 15 dias, segundo Lucimara, quando a irmã de Andreia lhe propôs a recompensa pela assinatura da patroa. “Mah”, que era uma espécie de governanta da casa da pecuarista, explicou que a intenção dela, da filha e o comparsa, Pedro Benhur Ciardulo, 21, era lucrar com o assalto e depois, fazer Andreia acreditar que a irmã havia enviado o criminoso como uma ameaça de morte.
Cronologia – Lucimara conta que chegou à casa da patroa, em condomínio de luxo no Chácara Cachoeira, por volta das 6h40. Narrou à polícia que encontrou Andreia ainda acordada, fazendo uso de bebidas alcoólicas. Jéssica afirma que chegou às 7h. As duas trabalharam normalmente.
“Mah” diz que limpou a casa, recolheu garrafas de bebida, lavou a calçada, passou roupas e depois disso, chamou sua filha Jessica para ir às compras, em atacadista na Rua Marquês de Lavradio. A nota fiscal do supermercado mostra que as duas terminaram de passar os produtos no caixa, às 10h16. Pelos itens, as empregadas desembolsaram R$ 786,69 pagos no cartão de uma delas depois que a patroa havia feito Pix de R$ 1 mil.
Conforme o plano, foi no estacionamento que Pedro se juntou às duas. Do mercado, o trio passou em loja de utilidades, na Avenida Ministro José Arinos, para comprar a arma de brinquedo que seria usada na encenação. Depois, passaram em um posto de combustíveis para comprar cigarros e seguiram para o condomínio.
Na casa de Andreia, segundo as duas depoentes, primeiro entraram Pedro e Jéssica, fingindo estar refém. Ainda de acordo com os depoimentos, a vítima resistiu à investida do assaltante para amordaçá-la. Ela se debatia e ele apertava um pano contra o rosto dela, até que Andreia desfaleceu.
Só depois, o corpo de Andreia foi levado para o andar de cima da casa. Lucimara relatou que jogou água na tentativa de acordar a patroa, mas foi em vão. Ela levou o assassino até a casa dele, no Tiradentes, voltou para a residência da patroa e junto com a filha, pediu ajuda a um vizinho.
O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 12h e 20 minutos depois, a Derf (Delegacia Especializada em Roubos e Furtos), responsável por desvendar o caso, já havia sido chamada para a ocorrência de latrocínio, roubo seguido de morte.
O nome da irmã não será divulgado porque, até o momento, não há provas contra ela.