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Capital

Sonho das passarelas e capas de revista vira frustração para clientes de agência

"Falam coisas que te fazem sonhar, ficar deslumbrada”, relata mãe de adolescente que participou de seletiva

Idaicy Solano | 03/02/2023 10:10
Sonho das passarelas e capas de revista vira frustração para clientes de agência
Agência de modelos é acusada de enganar clientes (reprodução: fotospublicas.com)

Agência de São Paulo chamada Daphne Model, que está em Campo Grande selecionando candidatos, acumula reclamações na internet e algumas até com registro no Procon-MS (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul). “Os consumidores relataram que a empresa não deu mais nenhum retorno, não atendeu mais ligações, deixando todos sem qualquer respaldo”, alerta o órgão que tem três casos registrados pelo mesmo motivo.

A agência promove seletivas em cidades do País inteiro e basta pesquisar no site "Reclame Aqui", para encontrarmos mensagens de pessoas dizendo que foram enganadas. "Com lorotas, conseguem extorquir dinheiro de pessoas simples, sonhadoras, desiludidas da vida", consta em uma das reclamações.

De acordo com o site da agência, novas seletivas são feitas em Campo Grande neste fim de semana. Também há previsão de recrutamento nas cidades de Cuiabá (MT), Goiânia (GO), Passo Fundo (RS), Hamburgo (RS), Canoas (RS), Cabo Frio (RJ), Niterói (RJ) e Fortaleza (CE).

Sonho das passarelas e capas de revista vira frustração para clientes de agência
Relato de uma cliente do estado do Mato Grosso retirado do site Reclame Aqui. (Foto: Reprodução)

A professora Michelle Benitez, de 42 anos, conta que ficou sabendo da seletiva por rede social e fez a inscrição da filha de 15 anos que sonha em ser modelo. A adolescente foi selecionada pela equipe através da inscrição e participou da seletiva acompanhada pela mãe no dia 27 de janeiro. “Pensei na oportunidade de realizar um sonho da minha filha, pois ela tem perfil. Quando cheguei no local, fiquei impressionada, pois era um hotel chique, as pessoas envolvidas todas despojadas, falando coisas que te fazem sonhar, ficar deslumbrada”.

Segundo o relato, a adolescente passou por uma entrevista, na qual os responsáveis pelo recrutamento encantaram mãe e filha com promessas. Após causarem entusiasmo, veio a pressão para fechar o contrato.

“Eles falam que você tem perfil, que muitos serviços podem rolar, comercial, desfiles, podendo ganhar de R$ 1 mil até R$ 10 mil dependendo do trabalho. Depois falam que temos que pagar R$ 2 mil para fazer as fotos, maquiagem e cabelo. Até falei que não teria condições, então ele ofereceu pagamento em 12x de 180. Perguntei se podia pensar, disseram que não, era chance única. Na empolgação acabei fazendo”, conta a professora.

O Campo Grande News também ouviu uma fonte que preferiu não se identificar e é responsável por uma adolescente de 15 anos. A jovem participou da seletiva, mas não chegou a fechar o contrato, pois a responsável por ela achou estranho o agenciamento imediato sem experiência. A desconfiança aumentou quando questionou as marcas que a agência atendia, sendo mencionadas empresas de renome nacional. “Mas como assim? Essas lojas fazem contratos regionais, vem aqui buscar modelos inexperientes? Claro que não né. E ficaram pressionando que tínhamos que decidir na hora”, relata.

No contrato apresentado para a reportagem pela mulher, consta que a agência seria responsável pela produção de 40 fotos profissionais da modelo, sendo que cinco seriam escolhidas pela agência para a divulgação. No documento a agência frisa que não garante contratação por parte dos clientes, justificando que a decisão de contratar ou não a modelo é exclusiva das empresas que a agência atende.

Sonho das passarelas e capas de revista vira frustração para clientes de agência
Reportagem teve acesso ao contrato que os responsáveis pelas adolescentes receberam da agência. (Foto: Arquivo Pessoal)

No contrato também consta que a agência se compromete em entregar fotos profissionais “dentro das melhores técnicas” e que disponibiliza um canal de atendimento e consultoria nas áreas “administrativa”, “comercial” e “técnica” aos agenciados. Porém, não é o que consta nas três reclamações registradas no Procon.

“Os consumidores viram publicações da empresa no Instagram e Facebook, entraram em contato com a empresa, passaram por uma seletiva para ser modelo e para fazer um book, foram aprovados e com a promessa de que logo teriam uma carreira de modelo e que fariam vários comerciais publicitários. Os consumidores relataram que as fotos ficaram horríveis e que solicitaram o reembolso dos valores, no entanto a empresa não deu mais nenhum retorno, não atendeu mais ligações, deixando todos sem qualquer respaldo”, informou o Procon.

Jovens que sonham com a carreira de modelo costumam buscar oportunidades pelas redes sociais. Geralmente eles chegam às seletivas acompanhados pelos pais com local, data e hora marcada, na maioria dos casos em hotéis de luxo de Campo Grande.

“Tudo indica que estão se utilizando de um expediente enganoso, ela oferta um produto, ela maquia tudo e não entrega, é uma forma de ganhar dinheiro de forma ilícita. Eles utilizam as mídias sociais, atrai a pessoa, a pessoa entra em contato, ela passa os dados e a pessoa do outro lado já fala que foi pré-selecionada, combina os ensaios em hotéis bonitos, é tudo uma ilusão”, diz o Fiscal de Relação de Consumo do Procon, Rodrigo Vaz.

Golpe ou não? - Pais e responsáveis se sentem enganados e é natural que queiram recorrer às autoridades para denunciar. Neste caso, o fiscal explica que “no sentido técnico da palavra golpe, vai depender da investigação da polícia”.

O fiscal diz que a situação se configura como má prestação de serviço, já que os clientes que procuraram o Procon reclamaram da baixa qualidade dos materiais: “A staff de fotografia tem que ter profissionais habilitados, mas eles acabam contratando pessoas sem experiência, material de péssima qualidade”.

O delegado da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), Marcelo Salomão, explica que pode ser considerado desde indução do consumidor ao erro e até estelionato, dependendo do que consta nas cláusulas do contrato assinado e do depoimento das vítimas.

Ele afirma que é importante que as vítimas procurem as autoridades para dar início à investigação. Em casos que se configuram em má prestação de serviço, a vítima deve procurar a Defensoria Pública ou advogado e entrar com processo de indenização. Caso as provas apresentadas pela vítima indiquem indícios de estelionato, é instaurado inquérito.

Como evitar? - Vaz orienta que antes de contratar um serviço, o cliente busque o histórico da empresa na internet e consulte se há denúncias no Procon. Também é possível checar o que outros clientes estão dizendo sobre a empresa no site Reclame Aqui, onde consumidores publicam sobre suas experiências com a prestação de serviço das empresas.

O delegado Salomão frisa que é importante que o cliente leia o contrato com muita atenção. Em caso de dúvidas, o consumidor deve procurar amparo jurídico. “Leia bem o contrato, não tenha pressa, porque se for um bom negócio não se resolve em um minuto”.

A reportagem entrou em contato com a agência Daphne Model pelos dois e-mails que estão na aba de "contato" do site da agência, que inclusive consta no contrato, e foi informada que a empresa "jamais promete a contratação dos modelos por ela pré-selecionados" e que "a contratação de modelos para campanhas publicitárias depende das agências de publicidade e do perfil da campanha publicitária".

Na nota retorno, a agência também diz que "sempre esteve comprometida com a ética e boa fé em todas as suas relações" e que os canais de comunicação estão disponíveis para dar todo o respaldo necessário aos agenciados.

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