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Capital

“Tudo fingimento”, afirma pai afetivo de menina assassinada sobre carta de ré

Texto escrito por Stephanie, mãe que responde por homicídio, não comoveu pai da vítima e marido

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 26/05/2023 15:31
Chegada de Stephanie de Jesus da Silva para audiência desta sexta-feira (26), no Fórum de Campo Grande. (Foto: Alex Machado)
Chegada de Stephanie de Jesus da Silva para audiência desta sexta-feira (26), no Fórum de Campo Grande. (Foto: Alex Machado)

Igor de Andrade Silva Trindade, marido de Jean Carlos Ocampo da Rosa, o pai da menina de 2 anos que segundo a polícia foi espancada até a morte pelo padrasto, diz não acreditar em uma palavra escrita por Stephanie de Jesus da Silva, de 24 anos, a mãe da criança e ré pelo assassinato, em carta endereçada a uma amiga.

“Tudo fingimento”, resumiu Igor, no início da tarde desta sexta-feira (26), antes do início da audiência que, depois de confusão entre juiz e advogado, na semana passada, ouvirá em juízo as testemunhas de defesa dos réus.

Segundo Igor, o pai da menina, assim como ele, acredita que o vazamento da carta foi uma “jogada da defesa” de Stephanie para melhorar a imagem da cliente diante da sociedade, que já a “condena” pela morte da filha. “A gente sabe que é tudo estratégia de advogado, tudo falso, porque a prova maior a gente já tem. Eles ficaram com a nossa filha mais de tantas horas em casa. Eles mataram a nossa filha, ela não morreu sozinha. E ainda querem inventar histórias para se safar. A gente não cai nesse papo não”.

Igor, que se considera pai afetivo da criança, foi ao Fórum de Campo Grande nesta tarde acompanhado da advogada assistente da acusação, Janice Andrade. “Estou aqui para representar a família que ela [vítima] teve. Eu sim era pai afetivo dela. Não esse assassino”.

Jean está passando por tratamento psicológico e prefere não estar presente nas audiências para “juntar forças” para enfrentar o júri de Stephanie e Christian Campoçano Leithem, 25, o padrasto acusado de matar a menina. “É devastador reviver tudo”, explica Igor.

Igor de Andrade Silva Trindade ao lado da advogada Janice Andrade. (Foto: Alex Machado)
Igor de Andrade Silva Trindade ao lado da advogada Janice Andrade. (Foto: Alex Machado)

Carta – Com frases como “fui covarde de não ter denunciado esse monstro antes” e “se arrependimento matasse”, Stephanie, 24, escreveu carta, supostamente enviada a uma amiga, para contar como têm sido os dias na cadeia, desde que foi presa por envolvimento no assassinato da filha, no dia 26 de janeiro. A jovem fala de religião, planos de Deus, saudades, preocupações e “conseguir vencer”.

A carta, a qual o Campo Grande News teve acesso, foi escrita em cela de presídio do interior, no dia 18 de maio, um dia antes de amigas de Stephanie terem sido convocadas para depor no processo que julga a morte da criança.

Quase uma semana depois de ter trocado a assistência jurídica da Defensoria Pública por três advogados particulares, ela também comenta o assunto. “Deus me deu uma grande prova que são esses três anjos enviados por ele para me defender. Deus conhece meu coração e sabe que eu não fiz nada com a minha joia mais preciosa”.

Em trecho do texto, ela diz que foi covarde por não denunciar o companheiro pelas agressões praticadas dentro de casa. A alegação da defesa da moça é que ela também era vítima de violência doméstica e, por isso, não defendeu a filha do padrasto.

Trecho da carta escrita por Stephanie. Nomes de crianças foram borrados. (Foto: Reprodução)
Trecho da carta escrita por Stephanie. Nomes de crianças foram borrados. (Foto: Reprodução)

Instrução e julgamento – A ação penal contra Stephanie e Christian está na fase de instrução. Após suspensão de audiência na sexta-feira passada, dia 19, o juiz Carlos Alberto Garcete retomou os trabalhos nesta sexta.

A primeira testemunha a ser ouvida nesta tarde foi uma amiga da ré, a mesma que estava depondo na semana passada, quando começou a chorar e recebeu copo d’água das mãos do advogado Willer Almeida, integrante da defesa do padrasto. A situação causou bate-boca entre o defensor e o magistrado, que acabou determinando a retirada de Almeida do plenário e suspendendo a audiência.

Hoje, devem ser ouvidas testemunhas de defesa dos réus e, se houver tempo, o juiz pretende interrogar os acusados.

Mãe da menina assassinada e criança no colo do padrasto. (Foto: Reprodução)
Mãe da menina assassinada e criança no colo do padrasto. (Foto: Reprodução)

O crime – No dia 26 de janeiro deste ano, a menina de 2 anos e 7 meses deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica apontou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes de chegar ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha sofreu lesão na coluna cervical. Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que também sofria violência sexual.

O padrasto responde pelo homicídio com as três qualificadoras e pelo estupro, já a mãe da menina pelo homicídio, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque no entendimento do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, ela se omitiu pelo dever de cuidar.

A morte jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde – mais de 30 em 2 anos –, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente em todo o Brasil.

(*) Os rostos dos réus foram borrados por determinação do juiz Carlos Alberto Garcete, que tem o dever de preservar a imagem dos acusados, já que o processo tramita em segredo de Justiça.

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