Acordo garante nova eleição em aldeia marcada por confronto com morte
Responsabilizado pelo conflito do mês passado em Amambai, capitão João Gauto vai entregar cargo
Acusado de ser o responsável pelo confronto com morte ocorrido no dia 24 de junho deste ano entre policiais militares e indígenas, o capitão João Gauto vai deixar a liderança da Aldeia Amambai, localizada no município de mesmo nome, a 351 km de Campo Grande.
Eleito em 2020, Gauto mandou cartas para a Segurança Pública e para a Funai denunciando os índios que desde maio tentavam ocupar a Fazenda Borda da Mata. Segundo seus opositores, essas cartas foram determinantes para a ação do Batalhão de Choque que terminou com a morte de Vito Fernandes, 42, e oito índios feridos. Três policiais também sofreram ferimentos.
Ontem, o MPF (Ministério Público Federal) conseguiu firmar acordo com representantes da comunidade estabelecendo eleição para definir o novo capitão (espécie de líder político das reservas indígenas). A votação será no dia 31 deste mês. João Gauto e seu vice, Ronaldo Ortiz, permanecerão no cargo até a escolha do sucessor.
A eleição da liderança da comunidade, englobando a “retomada Guapoy Mirim” – o grupo que ocupa a fazenda – será organizada pela unidade do MPF em Ponta Porã, Polícia Federal, DPU (Defensoria Pública da União), Funai em Ponta Porã e Amambai e do antropólogo indígena Tonico Benites.
Conforme o MPF, qualquer indígena da comunidade poderá se candidatar, respeitado o limite de 10 candidatos. Os nomes dos candidatos devem ser apresentados na sede da Funai em Amambai até o dia 18 de julho. Terão direito ao voto os membros da Comunidade Indígena Amambai e da Retomada Guapoy Mirim que tenham mais de 16 anos de idade.
Indígenas presentes na reunião se comprometeram a cessar qualquer ato de ameaça e violência entre si e no âmbito da Aldeia Amambai e da Retomada Guapoy Mirim até o dia da eleição, bem como se comprometem a aceitar a liderança que for eleita e conviver pacificamente com ela na busca pelo bem comum da comunidade.
Além dos representantes da DPU, da Polícia Federal e da Funai, participaram da reunião João Gauto, Tânia Gauto, Paulo Bemitez de Lima, Ronaldo Ortiz, Italiano Vasquez, Arsenio Vasquez, Lurdelice Moreira Nelson e Rivelino Pereira.
Agressões – Ontem, João Gauto registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil afirmando que durante a madrugada, pelo menos 45 homens teriam invadido sua casa e agredido quatro de seus familiares, com idades entre 33 e 71 anos.
À polícia, Gauto relatou que pelo menos um dos agressores estava armado. Segundo ele, o grupo chegou por volta da 1h. Um carro que estava no local foi danificado. A Polícia Civil registrou o caso como lesão corporal.