Paraguai liga facções brasileiras a ataque com bomba e tiros na fronteira
Para ministro da Senad, ataque às casas e loja do traficante Zacarias Alderete partiu do PCC ou Comando Vermelho
Facções criminosas brasileiras são as principais suspeitas pelo ataque a tiros e granadas na madrugada desta quarta-feira (19) em Ipejhú, cidade paraguaia vizinha de Paranhos, a 469 km de Campo Grande. Três casas e uma loja de revenda de veículos pertencentes ao chefe local do tráfico de drogas Zacarias Alderete Peralta foram destruídas por incêndio provocado pelas explosões.
Fontes policiais afirmam que a facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e a carioca Comando Vermelho, que já dominam outras regiões da Linha Internacional, teriam iniciado um plano de expansão para controlar o narcotráfico em toda a fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul. E isso implica em tirar o bando do Zacarias do negócio.
Após vencer a guerra com o sul-mato-grossense Luiz Carlos Gregol, 40, o Tatá – executado a tiros em Amambai, no dia 5 do mês passado – Zacarias passou a reinar sozinho na região de Ypejhú, mas agora tem novos concorrentes.
O fato de os pistoleiros – pelo menos 30 armados com fuzis em cinco caminhonetes – terem poupado a vida da filha, da nora e do neto de Zacarias, é visto como uma mensagem ao chefe do tráfico na cidade.
De acordo com a polícia Paraguaia, um carro-bomba não detonado foi localizado perto das casas incendiadas, a poucos metros do território brasileiro. Seria mais uma demonstração de força. “Eles deixaram claro que têm poder e que se quiserem destroem tudo pela frente”, afirmou um policial que já trabalhou na região.
Ministro – A suspeita contra as facções brasileiras foi admitida também pelo ministro Arnaldo Giuzzio, chefe da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai.
Em entrevista à rádio Monumental, ele disse ter indícios de que o ataque trata-se de uma disputa entre narcotraficantes e admitiu a fragilidade da região.
“Ypejhú é um povoado provavelmente esquecido por Deus. Não me surpreende o que está passando”, afirmou Giuzzio. O ministro disse que a região está à mercê das organizações criminosas devido à falta de segurança na fronteira com o Brasil.
Após o ataque desta quarta, o prefeito de Ypejhú, Emigdio Morel, clamou por maior presença da Polícia Nacional na cidade de 2.300 habitantes, separada de Paranhos apenas por uma rua.
O chefe da 6ª Comissaria da Polícia Nacional em Ypejhú, Sebastián Moreno, admitiu que no momento do ataque os poucos policiais da cidade ficaram recolhidos na delegacia, que estava rodeada por bandidos.
Ataque na madrugada – O alvo do ataque a bombas e tiros na madrugada em Ypejhú era Zacarias Alderete Peralta, considerado um dos principais chefes do tráfico de drogas naquela região da fronteira.
A filha dele, Rosana Antonia Alderete Peralta, a nora Aline Veron Bittencourt e o neto, de seis meses de vida, estavam em uma das casas quando os bandidos chegaram, por volta de 3h30.
Os três foram levados para a frente da residência enquanto a quadrilha destruía o local com bombas. Os bandidos pouparam a vida das mulheres e da criança.
Aline é mulher de Diego Zacaria Alderete Peralta, filho de Zacarias e um dos sobreviventes da chacina ocorrida em 19 de outubro de 2015 em Paranhos. Naquele dia, pistoleiros em duas caminhonetes dispararam pelo menos cem tiros em um grupo que estava numa padaria na área central de Paranhos.
O filho de Zacarias, Arnaldo Andres Alderete Peralta, 32, morreu no local. Também morreram os amigos dele Bruno Vieira de Oliveira, 26, Mohamed Youssef Neto, 31, Rodrigo da Silva, 28 e Denis Gustavo, 24.
Diego Zacaria, na época com 26 anos, sobreviveu, mas teve a perna amputada em consequência do ferimento. Outro sobrevivente foi Anderson Cristiano, 27.
Após a chacina, a guerra entre o clã Zacarias e Tatá Gregol se intensificou. Zacarias responsabilizou Tatá pelo ataque. Várias outras mortes ocorreram em seguida.
Mortos em Dourados - No dia 14 de junho de 2016, o policial civil Aquiles Chiquin Júnior, 34, foi executado a tiros de fuzil numa academia de Paranhos. A morte dele também teria sido ordenada por Zacarias, já que o irmão do policial, membro do Bando do Tatá, teria participado da chacina.
No dia 8 de julho do ano passado, dois pistoleiros em uma Toyota Hilux prata executaram Carlos Domingos Gregol, 38, e Gabriel Zanotim Gregol, 18, filho de Tatá, em um lava-rápido na Avenida Coronel Ponciano, em Dourados. Tatá também estava no local, mas conseguiu escapar.
Mas no dia 5 de novembro deste ano, Tatá Gregol não conseguiu escapar de mais uma emboscada. Ele foi morto a tiros de pistola dentro de sua caminhonete, no centro de Amambai.