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Interior

Tensão volta a áreas de condomínios de luxo reivindicadas por indígenas

Três empresas foram invadidas na tarde desta terça-feira ao lado do anel viário de Dourados

Helio de Freitas, de Dourados | 27/06/2023 16:20


O clima voltou a ficar tenso na tarde desta terça-feira (27) na região norte de Dourados (a 251 km de Campo Grande), na margem do anel viário que separa o perímetro urbano da Reserva Indígena formada pelas aldeias Bororó e Jaguapiru.

Famílias do tekoha Yvu Vera reivindicam a inclusão das áreas à reserva por afirmarem que as terras foram invadidas ao longo dos anos. O local já foi palco de outros confrontos e prisões de indígenas, como o ocorrido em abril deste ano (leia abaixo). Para os guarani-kaiowá, tekoha significa "local sagrado", no caso, as terras de ocupação tradicional.

Nesta tarde, equipes da Força Tática da Polícia Militar foram ao local após funcionários denunciarem invasões em três empresas ao lado da área indígena. Pelo menos 30 indígenas entraram no pátio de uma fábrica de lajes e mandaram os empregados saírem do local.

Vídeo gravado por um dos funcionários mostra o momento em que os indígenas conversavam com os empregados, para que deixassem o local (veja as imagens acima).

“Estavam armados com pistola e facões, mandaram a gente sair em 10 minutos porque falaram que as terras são deles”, afirmou um trabalhador em entrevista ao repórter Osvaldo Duarte. Logo após a PM chegar, os indígenas deixaram as empresas e se concentraram em um terreno ao lado.

Os indígenas deixaram um manifesto cobrando apoio das autoridades para garantir a permanência deles nas áreas e o fim das atividades das empresas. “Nos sentimos empurrados pelas empresas e chácaras, mas não vamos sair do nosso tekoha. A situação está difícil no tekoha, as famílias estão em condições difíceis, mas não temos para onde ir e não vamos sair”, diz a carta escrita em computador e com data de 23 de maio de 2023.

Por medida de segurança, os policiais militares interditaram os dois sentidos do anel viário. A estrada corta a região norte do município e liga a BR-163 à MS-156 e à Avenida Guaicurus. É usada principalmente por caminhões e carretas, impedidos de passar pela área central. Após duas horas de bloqueio, estrada foi liberada.

Do outro lado da rodovia, em frente ao local reivindicado pelos indígenas, está sendo construído o Hectares Park & Resort, que será o mais luxuoso e caro condomínio fechado de Dourados, onde apenas os terrenos são vendidos por até R$ 1,8 milhão.

Policial vigia anel viário e ao fundo as empresas invadidas pelos indígenas (Foto: Adilson Domingos)
Policial vigia anel viário e ao fundo as empresas invadidas pelos indígenas (Foto: Adilson Domingos)

Prisões – Em abril deste ano, nove indígenas ficaram 20 dias presos após invadirem terreno onde estava sendo construído condomínio de luxo ao lado da reserva. O grupo alegava que as obras contrariavam orientação do MPF (Ministério Público Federal), que havia cobrado informações sobre a construção, de responsabilidade da Corpal Incorporadora e Construtora.

A empresa alegou que havia paralisado as obras no dia 29 de março. A construção está parada até hoje. O terreno é reivindicado pela comunidade indígena como parte do tekoha Yvu-Verá e faz parte do Grupo Técnico Douradospeguá, autorizado por portaria presidencial de dezembro de 2012.

Acusados de invasão de propriedade, organização criminosa e porte ilegal de arma por causa de uma pistola calibre 22 encontrada no local da invasão, os nove indígenas ficaram quase três semanas na PED (Penitenciária Estadual de Dourados) e foram soltos pelo desembargador Nino Oliveira Toldo, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região.

O pedido de habeas corpus foi protocolado pela DPU (Defensoria Pública da União), pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e pelo Observatório Sistema de Justiça Criminal e Povos Indígenas.

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