A vacina de Oxford, provavelmente, virá da Índia
No início de maio, uma caixa de aço extremamente bem fechada chegou ao Serum Institute of India, o maior fabricante de vacinas do mundo. Dentro dessa caixa, embalado em gelo seco, havia um pequeno frasco de um mililitro, vindo de Oxford, na Inglaterra. Era uma das vacinas mais promissoras do mundo. Os cientistas levaram a caixa e despejaram seu conteúdo em um frasco, adicionaram açúcar e vitaminas. Começaram a crescer bilhões de células. Assim começou a corrida para produção da vacina que está prometendo inocular 15 milhões de brasileiros até o fim do ano. Outras 85 milhões de doses viriam em 2021.
O Serum Institute.
O Serum Institute, que é controlado exclusivamente por uma família indiana, pequena e rica, começou a construir sua fortuna anos atrás com a criação de cavalos. Arrisca quase todo seu patrimônio em uma vacina que tem boas chances de ser eficaz, mas pode dar com "os cavalos na água", a vacina pode não funcionar. Mas, se funcionar, eles entrarão para a lista dos maiores bilionários do mundo. Ao contrário da quase totalidade das vacinas que estão sendo testadas, somente a que eles estão produzindo não conta com subsídios governamentais. O dinheiro é exclusivamente da família Poonawallas. Uma das excentricidades dessa família foi a de transformar um velho avião no escritório da fábrica.
O problema são os frascos.
A Serum dispõe até o momento, de somente 600 milhões de frascos para acondicionar a vacina. Eles estão sofrendo uma torrente de pressões políticas, financeiras, externas e domésticas. A Índia foi atacada pelo coronavírus e, com 1,3 bilhão de pessoas, precisa de doses de vacinas tanto quanto em qualquer lugar. Também é liderada por um primeiro-ministro de direita nacionalista, Narendra Modi, que já mandou bloquear as exportações de medicamentos, especialmente os usados na entubação hospitalar. A Índia, além de ser o maior produtor de vacinas, também é o maior produtor de medicamentos do mundo.
Mezzo a mezzo.
A família Poonawallas diz que distribuirá as 600 milhões de doses da vacina de Oxford meio a meio. Metade para a Índia e a outra metade para o mundo. Também afirma que além da Inglaterra, criadora da vacina, o foco de vendas serão os países mais pobres. Espera que o governo Modi não interfira. Mas acrescentou: "Veja, eles [ o governo indiano] ainda podem invocar algum tipo de emergência, se acharem adequado ou se quiserem".