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Economia

Comerciantes aprovam desconto para fugir dos 'juros da maquininha'

Lojistas estão autorizados a cobrar preços diferentes para um mesmo produto de acordo com a forma de pagamento

Richelieu de Carlo e Amanda Bogo | 29/12/2016 14:30
Comerciantes poderão dar "desconto" para quem pagar no dinheiro (Foto: Amanda Bogo)
Comerciantes poderão dar "desconto" para quem pagar no dinheiro (Foto: Amanda Bogo)

Comerciantes de Campo Grande aprovam a autorização para oferecerem descontos nos pagamentos feitos à vista com dinheiro, estabelecida por Medida Provisória assinada pelo presidente Michel Temer na terça-feira (27). Segundo lojistas, esta é uma forma de escapar dos "juros da maquininha do cartão de crédito".

Proprietário de uma loja de assistência técnica e venda de acessórios para celular, Rodney Gonçalves Ferreira, 37 anos, analisa que muitos comerciantes optarão pelos descontos nos pagamentos com dinheiro para fugir dos juros das maquininhas de cartão. Esta foi a forma que o governo encontrou para forçar as empresas a diminuírem os juros, complementa o comerciante.

"Os empresários sofrem as consequências da maquininha. Carregar a maquininha é pior do que pedir dinheiro para agiota, algumas vendas chegam a perder de 15% a 20% do lucro no cartão", relata Rodney Gonçalves.

Para David Regis, 26, que vende bonés no camelódromo, a medida do governo ajuda tanto lojistas como consumidores. "Essa medida ajuda dos dois lados, porque é um desconto para o consumidor e os comerciantes não vão ter que pagar os juros nem perder tempo no banco resolvendo questões com cartão".

Nem todos, porém, podem aproveitar a novidade. Segundo Rodrigo Josué de Brito, 37 anos, gerente da conveniência do Alemão, não tem como mercados de alimentos cobrar dois preços pelo mesmo produto. "Não tem como isso ser feito. Isso vai se aplicar mais para quem vende roupas, por exemplo."

Câmara dos Lojistas espera um aumento de até 5% nas vendas com pagamentos com desconto no dinheiro. (Foto: Amanda Bogo)
Câmara dos Lojistas espera um aumento de até 5% nas vendas com pagamentos com desconto no dinheiro. (Foto: Amanda Bogo)

Aumento nas vendas - Segundo o presidente da CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Hermas Renan Rodrigues, a medida do governo não deve trazer mudanças profundas no comércio, pois, apesar de irregular, "é algo que já se praticava no mercado".

"Esperamos um aumento de até 5% nas vendas. Claro que vai haver um incentivo, pois o consumidor gosta de sair ganhando e isso motiva as pessoas. É psicológico. Vai ter um efeito, mas não tão grande porque já era realizado", afirma Hermas Rodrigues, sobre os descontos nos pagamentos com dinheiro.

O presidente da Câmara dos Lojistas explica também que, além dos custos da máquina para cartões, outro fator que desmotiva a utilização do cartão de crédito pelos comerciantes é ter de esperar até um mês para receber o valor pago. "O empresário tem que esperar 30 dias para receber o dinheiro, enquanto os impostos são cobrados à vista. Isso desestimula o uso do cartão de crédito."

Assim que a medida que autoriza os lojistas a aplicar valores diferentes na venda de um mesmo produto, de acordo com a forma de pagamento escolhida pelo consumidor, foi divulgada, o Procon (Superintendência de Defesa do Consumidor) pediu cautela para os consumidores para situações indevidas.

Uma delas é o aumento no preço dos produtos em relação aos valores anteriores à medida, e assim não ter perda de faturamento com os descontos nos pagamentos com dinheiro.

Hermas Renan explica que essa prática "infelizmente" existe, mas é algo isolado e feito por uma minoria. "Os que fazem isso não são bons empresários. O bom empresário sabe que essa prática é nociva, porque assim que o consumidor descobre, ele perde o cliente".

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