Grupo de Cezário fazia “bem bolado” com hotéis para desviar verbas do governo
Delegado de jogos da FFMS organizava esquema fraudulento com dinheiro da Fundesporte
Liderado pelo presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, Francisco Cezário de Oliveira, grupo utilizava diversas manobras ilícitas para desviar recursos repassados à entidade, inclusive, maquiando diárias de hotéis que hospedavam equipes durante o Campeonato Estadual. A denúncia foi apresentada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que deflagrou a "Operação Cartão Vermelho" para investigar o desvio de R$ 6 milhões da FFMS.
Segundo a decisão judicial que decretou a prisão preventiva de sete pessoas envolvidas no suposto esquema, Aparecido Alves Pereira, conhecido como Cido, que atuava como delegado de jogos da federação, acertava a contratação de diárias para hospedagem dos times participantes dos campeonatos estaduais. O custeio dessas diárias era feito com verbas públicas oriundas de um convênio firmado com a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul).
Em uma conversa registrada durante as investigações, Cido orienta um funcionário do Hotel Casabella, em Chapadão do Sul, a emitir duas diárias de hotel para 25 integrantes, totalizando R$ 6.000,00. No entanto, ele explica ao funcionário que nem todos os times utilizariam as duas diárias pagas e que o valor não utilizado seria dividido entre os envolvidos em uma espécie de "bem bolado".
Com informações sobre o esquema, a equipe de investigação do Gaeco se deslocou até a cidade de Chapadão do Sul na data da hospedagem e confirmou que a delegação do Esporte Clube Comercial utilizou apenas de uma diária de hotel. As contas bancárias da federação usadas para pagar esses serviços, eram as mesmas que recebiam as verbas do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, demonstrando a utilização de dinheiro público nas transações ilícitas.
A prática de contratar hospedagens a mais foi observada em outros municípios, durante o decorrer de competições promovidas pela FFMS. Com o modus operandi, os valores que não eram efetivamente utilizados eram desviados e possivelmente repassados aos integrantes da organização criminosa.
Conforme as investigações do Gaeco Aparecido Alves Pereira (Cido), Francisco Cezário de Oliveira, Francisco Carlos Pereira, Marcelo Mitsuo Elzoe Pereira, Umberto Alves Pereira, Valdir Alves Pereira e Rudson Bogarim Barbosa formavam a organização criminosa dedicada ao peculato, lavagem de dinheiro, falsidade e outros delitos correlatos, utilizando a FFMS para desviar dinheiro público. A quebra do sigilo bancário dos envolvidos revelou que o desvio de verbas ocorria de forma sistemática desde pelo menos 2018, possivelmente até o presente momento.
Ao Campo Grande News, o titular da Setesc (Secretaria Estadual de Turismo, Esporte e Cultura), Marcelo Miranda, que comandou a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul) no período das investigações, afirmou que nunca foram identificadas irregularidades na prestação de contas da federação.
“Nunca identificamos irregularidades na prestação de contas do convênio com a Federação do Futebol. O departamento de tomadas de contas analisa as notas e os extratos bancários para ver se o recurso foi bem aplicado. Desde 2015 nunca teve dificuldade em relação à prestação de contas”, diz Miranda.
De acordo com o secretário, o envio de recurso para a FFMS, que repassa aos clubes de futebol, é feito desde o começo do ano 2000 para custeio das despesas de arbitragem, alimentação, material esportivo e hospedagem.
A direção do Hotel Casabella Ltda, em Chapadão do Sul, citado na denúncia que investiga o esquema de corrupção, foi procurado pela reportagem, mas não quis se pronunciar sobre as investigações.