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Artes

Culto das Travestis é grito mostrando o medo e a força do acolhimento

Grupo De Trans pra Frente levou performance para a Esplanada Ferroviária e Armazém Cultural

Por Aletheya Alves | 31/08/2024 07:35
Espetáculo começou com "instalações" na Esplanada Ferroviária. (Foto: Juliano Almeida)
Espetáculo começou com "instalações" na Esplanada Ferroviária. (Foto: Juliano Almeida)

Antes das 19h de sexta-feira (30), os olhares e comentários com voz mais baixa já se espalhavam pela Esplanada Ferroviária ao ver as cinco integrantes do De Trans pra Frente “instaladas” em encruzilhadas e espaços próximos à Feira Central. Marcado para iniciar às 19h30, o espetáculo “Culto das Travestis” começou antes com a presença das intérpretes e, durante a mais de uma hora que se seguiu, a intensidade foi crescente para mostrar desde o medo até o acolhimento e exaltação dessas mulheres que ainda precisam destacar que existem.

Resumidamente, espetáculo foi pensado a partir das inquietações e pesquisas de Emy Mateus, fundadora do coletivo e intérprete. “Através dessas investigações, em coletiva, estamos experimentando e criando  culto, sagrado, acolhedor, dançante, político e poético propondo para as pessoas esse movimento de amor, cuidado e respeito. Trazendo essa estética ritualística, mística e sagrada”, disse.

Isso porque a interpretação da música pelas mulheres teve versões melancólicas, alegres, raivosas e intensas. Esses sentimentos, de certa forma, continuaram até o final do evento sendo ampliados.

Performance com interpratações de cantiga foram realizadas na rua. (Foto: Juliano Almeida)
Performance com interpratações de cantiga foram realizadas na rua. (Foto: Juliano Almeida)

E, apesar de saber desse resumo unindo acolhimento, momentos dançantes, políticos e poéticos antes, a força do espetáculo é tanta que a surpresa foi coletiva. Às 19h30, uma espécie de cortejo foi iniciada em direção ao Armazém com o acompanhamento do público e, interpretando a cantiga “Se Essa Rua Fosse Minha”, o coletivo deu uma prévia do que seguiria na próxima hora.

Como a surpresa é parte do espetáculo, que terá sessões hoje (31) e amanhã, a descrição não pode ser total. Mas, para quem quiser acompanhar, as performances parecem contextualizar a angústia de existir, a força necessária para continuar mostrando ao mundo de que pessoas transsexuais e travestis existem, o acolhimento entre o grupo e da rede de apoio, além da festa que pode e é feita para exaltar a cultura que é criada,

Gritos, expressões de dor, de terror, tristeza e uma resistência são aplicados na história criada pelas mulheres. E, no decorrer de todas as cenas, o público fica impossibilitado de não se envolver.

Segunda etapa do espetáculo, já no Armazém Cultural. (Foto: Juliano Almeida)
Segunda etapa do espetáculo, já no Armazém Cultural. (Foto: Juliano Almeida)

Quando há o incômodo dos gritos inesperados, os olhos ficam atentos, os rostos se fecham e algumas lágrimas se juntam à tristeza das intérpretes. O mesmo ocorre quando uma verdadeira festa de exaltação é criada e as palmas de quem está na plateia integram o coro.

E, em momentos de acolhimento, quando pessoas são convidadas a assinar um livro, a crítica também está presente. "Pensar o momento da livra e sua elaboração foi complexo, mas ontem com a interação das pessoas se tornou algo maior e concreto. Uma das ações dessa cena é justamente oferecer para uma pessoa cis e logo em seguida dar a caneta a pessoa atrás, para remeter as oportunidades que nos é tirada constantemente", diz Emy.

Financiado pela LGP (Lei Paulo Gustavo), o Culto das Travestis, é uma vitória na construção dos direitos de existir dessas pessoas. Essa é a opinião geral de quem é questionado sobre o espetáculo e, além da vitória, é mais um passo para fazer com que a reflexão exista sem uma romantização.

“Nenhuma de nós, nenhum de nós está sozinho”

Enquanto Emy Mateus, Gal Vendaval, Maia Gauna, Yara Maria e Kiara Kido se espalhavam por suas “instalações” para iniciar o ritual, amigos e familiares também integraram o espetáculo. Mas, ao invés de interpretarem nos momentos, permaneceram próximos das mulheres como quem mostra que ninguém ali estava sozinho.

Exemplo foi de que quando pessoas passavam por perto e tentavam rir ou algo do tipo, logo eram abordadas para entenderem que as performances estavam ali justamente para fazer pensar sobre o tema. Fazer pensar sobre os risos contra pessoas trans e travestis, sobre os comentários preconceituosos e as críticas que envolvem o tema.

Assistente social, Bel Silva, de 35 anos, é uma das pessoas que integram a rede de apoio e que permaneceram com o De Trans pra Frente durante o processo de montagem do espetáculo. “Estamos desde o início da semana dentro desse armazém para montar tudo, vendo as meninas ensaiarem”.

Fazendo o acolhimento das pessoas para o segundo momento do espetáculo (a entrada no Armazém Cultural), Bel também falou sobre os momentos de tensão, ansiedade e empolgação antes da estreia. Quando questionada sobre o medo de haver algum tipo de ato preconceituoso ou represálias, a explicação foi de que a rede de apoio existe e estava ali.

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Nenhuma de nós, nenhum de nós está sozinha, sozinho, sozinhe (pronome neutro). Os amigos, a família que mora na cidade, todos vieram acompanhar. Então você pode perceber que todas as meninas têm alguém por perto. É claro que a gente fica com o receio, mas esse espetáculo é tão potente, é tão importante, que a animação e força são bem maiores”, descreve Bel.

E, integrando o público, a drag queen Zahara Lux Unic, criada por Kevin Medina, resumiu em palavras a expectativa e reações que pareciam ser compartilhadas com o restante da plateia. “Nós vemos como é importante esse tipo de ação mais forte, mais impactante e da coragem que é necessária. Elas também conseguem mostrar que o espaço do teatro, da arte, não precisa ser um lugar fechado, mas que a rua pode ser ocupada”.

Para Zahara, que acompanhou as performances antes mesmo do cortejo ser iniciado, a mensagem que perdurou durante todos os atos foi de como as pessoas trans, travestis e outras que se encaixam na sigla LGBTQIAPN+ precisam reforçar sua existência.

Há alguns dias, o coletivo fez uma intervenção na Rua 14 de Julho para divulgar o De Trans pra Frente. E, ao Lado B, Emy detalhou que o grupo foi criado (em 2023) para ocupar espaços. “Surge da necessidade e do incômodo de ter nosso trabalho artístico e cultural menosprezado e diminuído”, diz sobre o coletivo e o espetáculo.

Ainda sobre o coletivo, entre as principais ideias está o destaque sobre o reconhecimento e remuneração profissional.

Além da estreia, o espetáculo segue hoje e amanhã na Plataforma Cultural (Avenida Calógeras, 3015), a partir das 19h30min.

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