Em telas, pacientes do Nosso Lar pintam as verdades por trás da doença
Tudo começou como atividades de terapia, sem pretensão alguma de virar projeto ou obras a serem comercializadas. Mas, de tão intrigante, a imaginação pintada em telas chamou a atenção de um empresário e acabou ganhando espaço nas paredes do Atelier Bar 103.
São 21 obras pintadas por pacientes do hospital psiquiátrico Nosso Lar, que foram selecionadas pelo sócio-proprietário do ateliê-bar, Whelton Borges. “Adorei os trabalhos, tem muita verdade neles”, conta.
Dos mais abstratos rabiscos ao singelo desenho de um coqueiro, as obras são feitas em cartolina, papel cartão, papel reciclado e algumas em tela. Retratam, na maioria das vezes, a própria história de vida. “Eles são muito espontâneos e colocam nas telas fatos característicos da patologia”, comenta a terapeuta ocupacional do hospital, Tânia de Lázari Sanches Pinheiro.
Junto com a psicóloga Claudia Pereira Mello, os pacientes são estimulados a “despejarem” nos papéis o que está na cabeça. “Durante os trabalhos, a psicóloga conversa para trabalhar os problemas de cada um. Às vezes, um traço significa um coração”, conta Tânia.
Em média, são de 15 a 20 pacientes que participam das oficinas no hospital, a maioria sofre de esquizofrenia, além de outros transtornos mentais, como bipolaridade. “Ao final das atividades, conversamos sobre o que eles fizeram, e o resultado é sempre surpreendente”, conta a terapeuta.
O grupo se dedica aos trabalhos duas vezes por semana. “As oficinas de pintura começaram um pouco soltas, apenas com quem se interessava, mas acabou criando corpo e percebemos que dava para trabalhar muita coisa com eles através da arte”, diz Tânia.
O projeto ganhou forma concreta em dezembro do ano passado, quando, junto a 2ª Vara Criminal, conseguiram verba para construir o ateliê próprio do hospital.
Das obras que serão vendidas no Atelier Bar 103, o dinheiro arrecadado será repartido entre os autores e o projeto. “Uma porcentagem vai para comprar materiais para eles continuarem prodizundo”, explica Tânia. Segundo Whelton, os quadros variam de R$ 300 a R$ 350.
A exposição vai até o dia 30 de agosto, e pode ser visitada de terça a sábado, das 19h às 23h. Toda sexta-feira, o Atelier Bar 103 agrega música à exposição. O espaço fica na rua Aquidauana, 104, no Centro de Campo Grande.