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Política

Delação da JBS reforça indícios levantados pela Lama Asfáltica

Proteco Construções e Gráfica Alvorada foram citadas por Wesley Batista em depoimento como parte de esquema para ‘lavar’ dinheiro de propina

Anahi Zurutuza | 20/05/2017 08:23
Uma das unidades da JBS em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio)
Uma das unidades da JBS em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio)

Lama Asfáltica e Lava Jato. A primeira, uma força-tarefa que desde 2013 investiga esquema de cobrança e pagamento de propina em Mato Grosso do Sul. A outra apura a corrupção generalizada que se instalou no país.

As duas operações, entretanto, se tornaram uma só nesta semana, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) homologou a delação premiada da JBS – maior produtora de proteína animal do país e que tem dez unidades frigoríficas em Mato Grosso do Sul, além da fábrica de celulose em Três Lagoas, a Eldorado do Brasil.

Nesta quinta-feira (18), o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, revogou o sigilo dos depoimentos e conteúdo das denúncias feitas por Joesley e Wesley Batista, os donos da JBS, além de outros cinco delatores ligados à empresa. Neste sexta-feira (19), todo o conteúdo foi divulgado. 

Um das bases do esquema para lucrar com o dinheiro público em Mato Grosso do Sul, conforme apurou a Lama Asfáltica, é justamente o pagamento de propina calculada em cima do montante economizado pela JBS com incentivos fiscais dados pelo governo, situação que foi delatada pelos irmãos Batista.

PF chegando à sede da Proteco Construções em julho de 2015, na primeira fase da Lama Asfáltica (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
PF chegando à sede da Proteco Construções em julho de 2015, na primeira fase da Lama Asfáltica (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Sede da Gráfica Alvorada (Foto: Arquivo)
Sede da Gráfica Alvorada (Foto: Arquivo)

Detalhes – Em trecho de 13 minutos do depoimento, Wesley fala especificamente sobre esquema de pagamento de propina para os governadores de Mato Grosso do Sul, que segundo ele começou com José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, em 2003.

“Este modus operandi do Mato Grosso [do Sul] ficou até agora no final do ano passado [2016] funcionando. Ele foi passando. Passou do Zeca do PT, foi pro Puccinelli”, explica Batista na delação, que também cita Reinaldo Azambuja (PSDB).

Wesley esclarece que o irmão dele, Joesley, acertou com João Baird, operador de Zeca no esquema, que o percentual de 20% dos incentivos fiscais concedidos seria pagos em propina, circunstância que perdurou.

Nos pedidos de prisão, conduções coercitivas e busca e apreensão feitos na semana passada pela Lama Asfáltica, o MPF (Ministério Público Federal) em Mato Grosso do Sul lembra de planilha apreendida na casa de André Cance na 2ª fase da operação. No “documento”, constam informações sobre incentivos fiscais dados à JBS e colunas nomeadas como “vlr. [ao que tudo indica, abreviação de valor] recuperado”, cujo montante representa exatamente ou quase 20% do total do incentivo.

Quando o dono da JBS cita valores pagos, segundo ele, a título propina para o ex-governador André Puccinelli que as informações coletadas pela Lama Asfáltica coincidem com a delação feita para a Lava Jato.

Na delação, consta que durante o governo Puccinelli, a JBS desembolsou R$ 24 milhões em propina paga por meio de notas frias e “não menos” que R$ 90 milhões em espécie. Ele cita pagamentos feitos por meio de “contratos” com empresas locais, que na verdade seria uma forma de “lavar” o dinheiro.

Dentre as prestadoras dos “serviços” estao as já citadas na Lama Asfáltica, Proteco Construções Ltda. e Gráfica Alvorada.

Para a gráfica, segundo Wesley, foram destinados R$ 2,9 milhões. Já para a Proteco, a JBS pagou R$ 9,5 milhões, segundo o delator.

Os investigadores da força-tarefa local também apontam as duas construtoras de João Alberto Krampe Amorim dos Santos –Proteco e ASE Participações– e a gráfica, de Mirched Jafar Júnior –preso na semana passada na 4ª fase da Lama Asfáltica– como empresas usadas para “esquentar” dinheiro de propina.

A investigação local rastreou, com base em dados obtidos por meio de quebra de sigilo bancário, um pagamento da JBS para as empresas de Amorim a título de aluguel de maquinário no valor de exatamente R$ 9.500.143,00. Foram locadas um total de 113 máquinas, das quais, segundo a apuração, cinco as empresas nem possuíam.

A Lama Asfáltica também encontrou um pagamento de R$ 2.007.084,95 da JBS para a Gráfica Alvorada a título de produção catálogos, mas que para os investigadores trata-se de propina.

À esquerda, André Cance, e, à direita, Ivanildo Miranda (Fotos: Reprodução)
À esquerda, André Cance, e, à direita, Ivanildo Miranda (Fotos: Reprodução)

Operadores – O dono da JBS explica a pessoa que intermediava o esquema para Puccinelli era o pecuarista Ivanildo Miranda. “Ele é que fazia toda interlocução desde o acerto das contas ao recebimento, a tudo. Ele era o operador do então governador André Puccinelli”, contou.

Conta ainda que Miranda foi substituído por Cance. “No finalzinho do governo, eu acho que eles se desentenderam, eu acho. Ele tirou o Ivanildo do contato e pôs esse André Luiz Cance de contato com a pessoa nossa”.

Pela Lama Asfáltica, Cance, o ex-secretário-adjunto de Estado de Fazenda, era o gerenciador das cobranças e recebimentos de propinas para Puccinelli.

Grampo telefônico – Wesley acrescenta que Zeca e Puccinelli tratavam diretamente com Joesley Batista e o “Boni operacionalizava tudo”. Valdir Aparecido Boni aparece na Lama Asfáltica como procurador da JBS em Mato Grosso do Sul e também representante local da Seara Alimentos.

Na lista de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal do Estado, há um diálogo entre Cance e uma pessoa que usa um número de telefone registrado em nome a J&F (holding que controla a JBS). Os dois combinam um encontro em Campo Grande, na casa do ex-secretário e o homem diz: “hoje eu vou aí só falar com o seu chefe”.

Lama Asfáltica - A operação, deflagrada em 2015 com base em investigações que começaram em 2013 e sobre o período de 2011 a 2014, apurou que a organização criminosa causou prejuízo de aproximadamente R$ 150 milhões aos cofres públicos, por meio de fraudes de licitações, desvio e lavagem de dinheiro.

Outro lado – Por meio da assessoria de imprensa, André Puccinelli informou que não vai se pronunciar.

José Wanderley Bezerra, advogado de André Cance também informou que precisa tomar conhecimento do conteúdo do depoimento para se manifestar.

O Campo Grande News tentou contato com Ivanildo Miranda, mas telefone celular dele estava desligado. A reportagem também fez contato com a Proteco e a Gráfica Alvorada, mas não houve retorno das ligações.

Zeca do PT, hoje deputado federal, informou, por meio da assessoria de imprensa, que “não tem o menor temor da alardeada delação dos executivos do grupo JBS, já que na condição de ex-governador do Estado, nunca pediu e nem tomou conhecimento de que alguém tenha pedido propina ao referido grupo em seu nome ou em nome do seu governo”.

Reinaldo negou as acusações por meio de nota e disse que a delação é baseada em suposições.

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