Funcionária diz sofrer ameaças e conta que Dorsa ainda comanda HU
Em depoimento à CPI da Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande, a física responsável pelo setor de radioterapia do Hospital Universitário, Regina Borges, contou aos vereadores que ela e o filho estão sendo ameaçados de morte por pessoas ligadas ao esquema de corrupção instalado no HU e no Hospital do Câncer. Após pedir proteção à comissão, ela revelou que o ex-diretor da unidade hospitalar, José Carlos Dorsa, foi afastado de forma teatral, pois continua comandando o Universitário.
“Para revelar tudo que sei preciso de segurança. Mas posso dizer que o Dorsa continua comandando tudo, ele toma todas as decisões e tem livre acesso à direção do Hospital”, contou Regina que, em seguida, foi confortada pelo presidente da comissão, vereador Flávio César (PTdoB), pois o parlamentar prometeu colocar no relatório o pedido de socorro da física.
Já mais calma, Regina relatou em ordem cronológica tudo que testemunhou ao longo dos anos. Segundo o relato da profissional, em 2007 a equipe de radioterapia conseguiu equipamentos de cobalto (recipiente contendo uma fonte de Cobalto, com um dispositivo que abre uma pequena janela e deixa o feixe de radiação sair de forma controlada, permitindo o tratamento do tumor e ao mesmo tempo preservando os tecidos normais a sua volta) por meio de doação do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Os aparelhos fizeram com que o setor de radioterapia, parado desde 2005, voltasse a funcionar. “E assim ficou até 2009, quando o Dorsa entrou na direção do HU e então passou a não dar atenção ao setor”, contou. Regina, que é integrante do Cnen (Conselho Nacional de Energia Nuclear) responsável por também fiscalizar o hospital, elaborou relatório contando tudo o que estava ocorrendo na unidade e encaminhou ao conselho.
Pouco tempo depois dois inspetores do Cnen vieram a Campo Grande, agendaram reunião com a física para, então, poderem visitar a radioterapia do HU. “Mas durante o encontro que tive com os inspetores, o Dorsa invadiu a sala e me agrediu verbalmente na frente dos dois”, relatou.
Como forma de represália, o ex-diretor pediu demissão da física. Ela, por sua vez, procurou o MPF e abriu processo de calunia e difamação, mas não conseguiu impedir que a radioterapia fosse inativada. “Então oito funcionários foram espalhados por outras áreas e duas permaneceram na oncologia como guardiãs dos equipamentos radioterápicos”, explicou.
2013 – Este ano o HU recebeu visita do Inca, Anvisa e vigilância estadual. As entidades elencaram 22 itens necessários para que o atendimento fosse retomado, sendo o principal deles a aquisição de um dosímetro (aparelho utilizado para medir a porcentagem de radiação no organismo do paciente).
No início de abril o setor radioterápico voltou a funcionar. Na época Dorsa explicou que havia contratado dois médicos em agosto de 2012 e só naquela data foi possível retomar o serviço. O atendimento, porém, não durou muito e no último dia 6 o Cnen enviou correspondência ao HU suspendendo novamente os atendimentos.
Desde então, 29 pessoas ficaram sem tratamento. “Nós já enviamos à Vigilância Estadual documento informando que temos o dosímetro, mas não houve retorno”, explicou Regina. Na avaliação dela, o esquema de corrupção no HU e HC é feito por parentes da família Siufi e integrantes da gestão passada.