Prefeito de Corumbá demite metade dos comissionados após gastar R$ 66 milhões
Exonerações ocorreram após 'escalada de contratações'; prefeitura admite que pode recontratar a maioria dos dispensados
Após dois anos acumulando gastos na casa dos R$ 66,7 milhões com o pagamento salarial de servidores comissionados e ser alvo de investigações do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por contratações irregulares, o prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), demitiu metade dos funcionários que exerciam cargos por indicação.
As exonerações constam na edição de ontem (30) e de desta terça-feira (1) do Diário Oficial de Corumbá, e acontecem duas semanas após Iunes garantir sua reeleição como prefeito - ele foi eleito pela primeira vez em 2016, pelo PTB, como vice de Ruiter Cunha, que morreu no fim de 2017 ao sofrer um aneurisma na aorta abdominal.
Inicialmente, foram dispensadas de suas funções comissionadas no município 300 pessoas, mas com revogações no diário de hoje o número caiu para 290. Conforme consta na folha de pagamento disponibilizada no Portal das Transparência, a cidade somava em novembro cerca de 580 servidores comissionados contratados por Marcelo Iunes.
A lista de dispensas conta com 17 nomes lotados na Governadoria Municipal, 37 na Secretaria Municipal de Governo, 20 da Educação, 26 na Saúde, 35 na pasta de Finanças e Gestão e 11 na pasta de Desenvolvimento Econômico e Sustentável. Também consta na lista sete servidores da Segurança Pública e 45 de Infraestrutura e Serviços Públicos.
Já nas pastas da administração indireta - agências, fundações e autarquias - são 33 demitidos da Funec (Fundação de Esporte de Corumbá), oito da Agência Municipal Portuária e sete da Agetrat (Agência Municipal de Trânsito e Transporte).
Completam a lista ainda 16 exonerados na Fundação de Cultura e do Patrimônio Histórico, seis da Fundtur (Fundação de Turismo do Pantanal) e 13 da Fundação do Meio Ambiente do Pantanal, além de 11 funcionários demitidos da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, conforme publicado no diário de hoje.
Gasto milionário - Em janeiro de 2019, a prefeitura de Corumbá fez uma verdadeira 'escalada de contratações' de servidores comissionados. No primeiro ano da 'escalada', os gastos com essa modalidade de trabalhadores foi de R$ 34 milhões, sendo que de janeiro a novembro de 2020, o total já passa dos R$ 32 milhões.
No mês de janeiro desse ano, Marcelo Iunes bateu recorde de contratações de comissionados, que chegaram a marca de 595 nomes e uma despesa de R$ 3,1 milhões na folha salarial. Os números permaneceram nesse patamar por pelo menos mais três meses, até a abertura de apuração do Ministério Público, em maio.
Daí em diante, o número de comissionados empregados pelo prefeito Marcelo Iunes e os gastos salariais com os mesmos foi reduzindo gradualmente. Já incluindo os salários dos secretários, a prefeitura teve que desembolsar R$ 3,2 milhões tanto em janeiro como em março. Na folha de maio, junho e julho, o valor foi de R$ 2,7 milhões.
Já mais próximo das eleições, a partir de agosto, o desembolso foi de R$ 2,8 milhões mensalmente, chegando aos 2,9 milhões na folha de novembro. A folha de pagamento referente ao mês de dezembro ainda não consta no Portal da Transparência.
Recontratações - Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura Corumbá, as demissões são devido a uma reestruturação que deve acontecer no Poder Executivo municipal na próxima gestão, incluindo a fusão de secretarias.
Contudo, apesar dos números altos de despesas com servidores comissionados, a recontratação dos servidores não é descartada. "A maioria deve retornar assim que seja necessário, pois realizam atividades fundamentais para o bom funcionamento da máquina pública", explicou o prefeito em nota oficial.
Alvo de operações - Recentemente, a prefeitura de Corumbá e a família Iunes foi alvo de operações da PF (Polícia Federal) referentes a contratos suspeitos de corrupção com empresas fornecedoras, entre elas, um laboratório na cidade que está em nome do irmão de Marcelo Iunes, José Batista Aguillera Iunes, e já pertenceu a esposa dele.
Ao todo, foram três operações em um mês no período pré-eleitoral. Mesmo assim, Iunes foi reeleito prefeito com 42% dos votos, batendo o vereador Gabriel Alves (PSD) e o ex-prefeito e ex-deputado estadual Paulo Duarte (MDB).
Marcelo Iunes também foi alvo de vários inquéritos do MPMS durante sua primeira gestão, principalmente, por causa de contratações de parentes. Atualmente, sua esposa Amanda Balancieri e sua cunhada Glaucia Iunes são secretárias de Cidadania e Direitos Humanos e de Assistência Social, respectivamente.
Coincidentemente, neste segundo mandato as duas secretarias devem ser unificadas em uma única pasta, segundo o próprio prefeito adiantou em material publicado pela assessoria de imprensa da prefeitura corumbaense.