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Reportagens Especiais

De 65 Pix falsos à fraude do pneu, mais de 12 mil foram vítimas de golpes em MS

De janeiro até agora,muita gente perdeu dinheiro por acreditar que estavam fazendo bons negócios

Por Bruna Marques | 30/12/2024 09:10
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Servidora pública detida na delegacia, suspeita de aplicar golpe do falso Pix em salões de beleza luxuosos, em Campo Grande (Foto: Direto das Ruas)
Servidora pública detida na delegacia, suspeita de aplicar golpe do falso Pix em salões de beleza luxuosos, em Campo Grande (Foto: Direto das Ruas)

Fraude do Pix falso, jogo do Tigrinho e até mesmo a trama do pneu foram algumas das táticas criativas utilizadas por estelionatários para conseguir arrancar dinheiro de centenas de sul-mato-grossenses em 2024. Crime que teve como vítima 12.808 pessoas.

RESUMO

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Em 2024, Mato Grosso do Sul enfrentou um aumento significativo de estelionatos, com 12.808 casos registrados, sendo 4.760 em Campo Grande. Entre os golpes mais notáveis, destacam-se fraudes envolvendo Pix falso, onde uma servidora pública foi presa após aplicar 65 golpes em salões de beleza, e um homem que perdeu R$ 1,8 milhão ao acreditar em um falso delegado da Polícia Federal. Outros casos incluíram fraudes em farmácias e golpes direcionados a idosos. Apesar do alto número de ocorrências, houve uma leve queda em comparação ao ano anterior, quando foram registrados 12.916 estelionatos no estado. Além disso, crimes relacionados a furto de energia também aumentaram, com a polícia detectando em média quatro furtos por hora, evidenciando um cenário preocupante de fraudes e crimes financeiros na região.

Um dos casos mais recentes e que mais chamou atenção neste ano, foi o golpe aplicado pela servidora pública Raquel Velasques Portugal, 43 anos. Ela foi presa no dia 24 de setembro, suspeita de realizar 65 Pix falsos em salões de beleza luxuosos de Campo Grande.

A descoberta dos golpes ocorreu quando proprietários de estabelecimentos no ramo da beleza fizeram grupo no WhatsApp e passaram a trocar informações sobre a cliente. Na época em que a golpista foi presa, a gerente de um salão no Jardim dos Estados relatou que a mulher realizava procedimentos caros no local.

“Faz botox, vai em lojas caras, em salões bons. Faz de tudo, pé, mão, cabelo, maquiagem. Nas primeiras vezes, ela pagou. Acredito que para ter acesso aos nossos dados, para depois ela começar a editar. Ela editava o comprovante do Pix”, disse uma das vítimas na época em que a golpista foi presa.

Nem mesmo as farmácias se livraram dos golpistas. Em outubro, Ed Marcos Lopes Gabilanes, de 41 anos, e Leonan Simões da Silva, 29, foram presos ao se passarem por médicos e darem golpe de R$ 441 mil em rede de farmácias, em Campo Grande. Os suspeitos usaram nomes de profissionais de Goiânia (GO) e Distrito Federal (DF) e levaram do estabelecimento dezenas de caixas do medicamento Ozempic.

O boletim de ocorrência foi registrado pelo responsável por uma rede de farmácias no dia 30 de setembro, e na segunda-feira (1º), os suspeitos foram presos. O homem de 41 anos trabalha como pedreiro e foi capturado em uma obra no Bairro Carandá, já o rapaz de 29 que atua como instalador de ar-condicionado foi encontrado na empresa.

Alguns golpistas foram ainda mais ousados durante suas ações. Entre os dias 22 e 25 de abril, um homem de 50 anos, morador de Maracaju, perdeu R$ 1,8 milhão após receber a ligação de um criminoso que se passou por delegado da Polícia Federal.

Conforme o boletim de ocorrência, a vítima recebeu uma ligação de um suposto delegado da Polícia Federal identificado como Diogo Nogueira, que afirmou ser do setor antifraude da instituição. A falsa autoridade informou à vítima que sua conta bancária era alvo de fraude e que seria necessário realizar depósitos para que uma perícia fosse feita. Ao acreditar na veracidade da situação, o homem efetuou transferências para dez contas diferentes, cada uma em nome de uma pessoa com CPF diferente.

No total, foram feitas 10 transferências de R$ 50 mil no dia 22 de abril, 13 transferências de R$ 60 mil no dia 23 e mais 10 transferências de R$ 60 mil na quarta-feira (24), que totalizaram R$ 1.880.000 milhão.

Os criminosos não deram trégua nem aos idosos. Em setembro, um idoso de 65 anos procurou a delegacia de Coxim e relatou ter sido vítima de um golpe. Na ocasião, ele afirmou ter perdido quase 20 mil reais e só percebeu o crime quando teve o aplicativo bancário bloqueado.

De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima recebeu a ligação de um número com DDD de São Paulo. A pessoa se identificou como funcionária do Banco do Brasil e afirmou que haviam feito uma operação financeira suspeita na conta do idoso. O golpista alegou que para regularizar a situação o idoso deveria fazer um Pix de R$ 19.900, mas que em seguida o valor seria estornado. A vítima fez a transferência e logo depois teve o aplicativo bancário bloqueado.

Se aproveitando da “carência” de um senhor, uma mulher conseguiu arrancar R$ 26,9 mil de um idoso de 65 anos, em Dourados. Prometendo se relacionar sexualmente com a vítima, a golpista foi em diversas lojas de roupas da cidade e renovou seu guarda-roupa com peças novas. O total gasto em “presentes” foi de R$ 26.949,34.

Fachada da Champions Pneus na avenida Eduardo Elias Zahran, loja investigada por "golpe do pneu" (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Fachada da Champions Pneus na avenida Eduardo Elias Zahran, loja investigada por "golpe do pneu" (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Golpe do pneu - Do dia 1º de julho de 2022 a 6 de março de 2024, 37 clientes procuraram o Procon (Secretaria-Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor) para reclamar dos serviços prestados pela Champions Pneus e Rodas, empresa investigada pela Polícia Civil.

Investigado por superfaturar orçamentos e enganar clientes, João Lopes de Freitas, proprietário da empresa, fundada em fevereiro de 2020, informou que tem 10 lojas em Campo Grande e Dourados, onde disse atender em média 2,5 mil pessoas por mês. Ele foi preso no dia 5 de março por estelionato, apropriação indébita e associação criminosa, passou por audiência de custódia e foi solto após pagar fiança de R$ 5 mil.

Conforme relatório do delegado Giulliano Carvalho Biacio, foram identificadas 16 ações judiciais propostas em desfavor das empresas Champions Pneus, Nascar e Master, todas do mesmo grupo; 11 reclamações no Reclame Aqui; e 18 boletins de ocorrência registrados por vítimas em desfavor das mesmas empresas.

Conforme o delegado, “diversos clientes, num curto período, foram lesados nas referidas empresas, mediante mesmo modus operandi, revelando, portanto, se tratar de verdadeiro esquema criminoso que, por meio da ludibriação e coação, aplica golpes nos consumidores”.

O caso teve grande repercussão e a denunciante de março entrou na loja recebendo um primeiro orçamento de R$ 216,00 para troca de dois pneus e, ao sair, a conta havia chegado a R$ 6,8 mil por serviços que nem mesmo haviam sido liberados pela cliente.

Fachada da loja de pneus anuncia promoções. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fachada da loja de pneus anuncia promoções. (Foto: Henrique Kawaminami)

De milhas aéreas a moedas virtuais – No dia 31 de julho, uma quadrilha de Mato Grosso do Sul foi alvo da Operação "Destino Final". A investigação apontou que hackers invadiram sistema de milhas aéreas, inclusive de políticos, e emitiam passagens, causando prejuízo de R$ 10 milhões. Para lavar o dinheiro, a quadrilha patrocinava um time de vôlei da Capital.

Para emitir as passagens para os chamados "trechos premium", no mercado negro da Deep Web, os hackers invadiam contas de empresas de agências de turismo do Distrito Federal e de programas de milhas de viagem de pessoas físicas com grande pontuação. "Entre as vítimas, estão muitos parlamentares, já que, no exercício de sua função institucional, recebem verbas para fazerem viagens oficiais, acumulando grande pontuação".

Eram, então, emitidos bilhetes conhecidos como "passagens de desistência", ou seja, cuja viagem ocorreria em no máximo três dias, no intuito de as companhias aéreas não perceberem o golpe e cancelarem as passagens.

Em Campo Grande, o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) cumpriu um mandado de prisão preventiva, dois mandados de busca e apreensão de bens de grandes valores, bloqueios de contas e sequestro de carro de luxo.

Jair do Lago Ferreira Júnior e Filippe Barreto Sims aplicavam golpes da moeda virtual (Foto: Reprodução/redes sociais)
Jair do Lago Ferreira Júnior e Filippe Barreto Sims aplicavam golpes da moeda virtual (Foto: Reprodução/redes sociais)

No início do mês de março, um casal de idosos de Campo Grande perdeu R$ 3,6 milhões em cripto moedas para uma dupla que prestava assessoria a eles em negócios digitais – compra e vende de moedas virtuais.

Mandados de busca e apreensão e prisão temporária foram cumpridos nas cidades de Osasco (SP) e Curitiba (PR) na Operação Verbum Clavis (palavra-chave) contra Filippe Barreto Sims e Jair do Lago Ferreira Júnior. Eles consolidaram relação de confiança com as vítimas e acabaram conseguindo a senha de acesso ao sistema de moedas digitais dos idosos.

Com isso, assumiram as contas e acessaram os valores. Com a investigação nas mãos, o Garras (Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) acionou o Ciberlab/MJSP (Núcleo de Operações com Criptoativos do Laboratório de Operações Cibernéticas) para auxiliar no rastreio dos ativos e identificação dos responsáveis.

Filippe Barreto Sims e Jair do Lago Ferreira Júnior são de Mato Grosso do Sul, com empresas abertas no Estado. O primeiro mantinha empresa de serviços digitais em endereço no bairro Tarumã, mas está inativa na Receita Federal.

O segundo, tem quatro, sendo uma em Campo Grande e três em Santa Catarina. A da Capital é a Associação Brasileira de Empreendedores Autônomos de Vendas Diretas. Ambos têm as carteiras de habilitação suspensas recentemente pelo Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito).

Negociador de armas e transporte de grãos – Apontado como negociador de armar, Willyan Colato, de 31 anos, foi preso no dia 9 de dezembro, em um posto de combustíveis, no entorno da Avenida Consul Assaf Trad, na Capital. O também é investigado por aplicar golpe de R$ 55 mil na venda de um mangueiro.

A vítima do golpe contou que fez negociação com Willyan e outros dois homens no começo do ano passado. Se tratava da compra de um mangueiro por R$ 55 mil e, para selar o negócio, a vítima fez o pagamento inicial de R$ 20 mil. Na data acordada para a entrega do mangueiro, ainda teve que pagar o restante, de R$ 35 mil.

Apesar de efetuar todos os pagamentos, conforme o processo judicial, o mangueiro nunca foi entregue ao comprador e, inclusive, os envolvidos na venda pararam de atender as ligações da vítima. Foi o próprio Ministério Público que pediu a abertura do inquérito policial para investigar os fatos.

Além disso, constam no nome de Willyan processos por violência doméstica, uso de documento falso, vias de fato e porte ilegal de arma de fogo. Em audiência de custódia, na manhã desta quarta-feira (11), a Justiça concedeu liberdade provisória para ele mediante fiança de R$ 2,8 mil.

Em Dourados, segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, um homem de 36 anos teve suas contas bancárias bloqueadas e dois veículos apreendidos, durante ação da Polícia Civil. Ele é investigado por fraudes no ramo de transportes agrícolas, com notas falsas para pagamento de despesas de transporte que nunca aconteceram.

Segundo a investigação, o desfalque causado às vítimas se aproxima de 2 milhões de reais, usando carta frete, documento utilizado para custear despesas com combustível, alimentação e hospedagem. Em 12 meses, o investigado adquiriu cinco veículos avaliados em aproximadamente 700 mil reais e realizou uma grande reforma em casa, construindo área de lazer e piscina.

Da diversão ao prejuízo – Um momento de diversão se transformou em prejuízo para um morador de Maceió que estava a trabalho em Campo Grande. Após sair de casa de massagem localizada na região central da Capital, no dia 26 de outubro, o homem procurou a polícia para registrar empréstimo de R$ 300 mil, feito sem o seu consentimento. O caso foi registrado como estelionato.

Conforme boletim de ocorrência, a vítima contou que, acompanhado por um amigo, almoçou no Centro e, na sequência, foram para a casa de massagem, onde encontraram outro colega. Eles são de Maceió, Alagoas, e há três meses estão na cidade trabalhando em um canteiro de obras.

Ainda segundo registro policial, a vítima contou que os três ficaram cerca de três horas no local. Ele disse que gastou R$ 75 e o seu amigo, cerca de R$ 1 mil. Os pagamentos foram feitos com cartão de débito numa máquina da casa. Os três foram para a casa e a vítima e o outro colega continuaram bebendo.

Quando mexeram em seus celulares, descobriram que os aparelhos haviam sido clonados. A vítima, então, conseguiu acessar a conta empresarial em banco digital e descobriu que tinha sido feito empréstimo no valor de R$ 200 mil e outro, na sequência, no valor de R$ 100 mil. Ele acredita que teve sua conta hackeada na casa de massagem.

Das dezenas de casos noticiados pelo Campo Grande News ao longo do ano, esses foram alguns que mais ganharam repercussão na mídia. Mas ainda teve quem perdeu R$ 47,2 mil em golpe do falso funcionário de banco; mulher prometendo presente de R$ 300 mil; mecânico que caiu em golpe ao comprar carro e perdeu R$ 68 mil; escritório que teve conta invadida e golpistas fizeram transferências de R$ 2,4 milhões.

Somente neste ano, de janeiro até agora, foram registrados 12.808 crimes de estelionato, em Mato Grosso do Sul, conforme consta na estatística da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Sendo que 4.760 ocorreram em Campo Grande.

Apesar do número alto de ocorrências, os dados da Sejusp apontam que em 2024 os crimes de estelionato tiveram queda, se comparados com o ano passado, quando foram registrados 12.916 em todo o Estado.

Agente da Polícia Civil durante operação contra furto de energia (Foto: Divulgação)
Agente da Polícia Civil durante operação contra furto de energia (Foto: Divulgação)

“Gatos de energia” – Crimes que também chamaram atenção neste ano foram os envolvendo “gato de energia”. Em média, a cada uma hora, quatro furtos de energia são detectados em MS pela Energisa e pela Polícia Civil. Conforme divulgado, apenas no primeiro semestre de 2024, o número de fraudes encontradas foi 60% maior comparado ao ano de 2023 inteiro.

Com um cronograma de atuação diária, a Polícia Civil e a concessionária de energia utilizam análise de dados, em investigações preliminares, para encontrar discrepâncias nos registros de consumo. Diariamente, 100 fraudes são encontradas em MS, dando uma média de quatro furtos de energia identificados a cada hora.

Um dos crimes de furto de energia que mais ganhou repercussão neste ano foi o da advogada Eliana Emídia da Cruz, 47 anos. Ela cometia o crime há aproximadamente um mês, quando foi presa no dia 26 de setembro. O prejuízo causado por ela foi estimado em aproximadamente R$ 87 mil.

Eliana foi presa na manhã desta quinta-feira (26) durante a Operação Lumens. Policiais e equipes da Energisa flagraram o furto no supermercado dela, na Vila Entroncamento, região do Indubrasil, em Campo Grande. A OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso do Sul) foi comunicada e acompanhou a prisão. Ela já foi presa duas vezes em apenas uma semana.

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