No ano em que Brasil elegeu Lula, MS fechou estrada e se mobilizou contra PT
De olho no retrovisor, as notícias ao longo de 2022 deixam claro a preferência pelo presidente que se despede
Computados os votos de todo o Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o segundo turno das eleições 2022 com 50,9%, contra resultado de 49,1% de Jair Bolsonaro (PL). Mas, se esse resultado dependesse apenas de Mato Grosso do Sul, o segundo colocado levaria a presidência do País com folga. No Estado, o candidato do PL conquistou 59,49% dos votos válidos, enquanto o petista teve 40,51%.
De olho no retrovisor, as notícias ao longo de 2022 deixam claro a preferência pelo presidente que se despede do cargo. Numa linha do tempo, os ápices foram nos meses de junho, setembro, outubro, novembro e dezembro.
Os momentos incluem a passagem por Campo Grande, pedido de votos para o candidato Renan Contar (PRTB), os bloqueios das rodovias após a eleição, o acampamento há quase dois meses em frente ao Exército, além do fato de MS ser o segundo Estado com mais mandados de busca e apreensão na operação do STF (Supremo Tribunal Federal) contra os protestos pelo resultado das urnas.
No dia 30 de junho, Bolsonaro fez a quinta visita oficial a Mato Grosso do Sul. O presidente entregou residencial de 300 apartamentos no Jardim Canguru, em Campo Grande. Ainda não era campanha oficial, mas, como sempre, o mandatário foi seguido por uma multidão. Seja no desembarque na Base Aérea, seja na motociata pelas ruas da Capital.
Nesta data, o Campo Grande News mostrou a expectativa esperançosa do vendedor ambulante Hélio Fagundes, 63 anos, que acordou cedo e levou a banca de garapa para a frente do residencial a ser inaugurado pelo presidente. Bolsonaro atendeu ao chamado do cartaz com convite para tomar a bebida e realizou o sonho do vendedor.
À reportagem, Hélio contou que foi caminhoneiro por quatro décadas, mas teve que abandonar a profissão diante de seguidos aumentos no preço do diesel. Em 30 de setembro, a poucos dias do primeiro turno, Bolsonaro, durante debate presidencial, conclamou que seus apoiadores votassem em Contar, que disputava o governo de Mato Grosso do Sul. Abertas as urnas em 2 de outubro, o candidato passou em primeiro para o segundo turno.
Durante essa segunda fase do processo eleitoral, o sul-mato-grossense foi bombardeado com exibições massivas de vídeos de Bolsonaro no horário eleitoral. Contar exibia a gravação antiga, enquanto Eduardo Riedel (PSDB), que se elegeu governador de MS, mostrava o vídeo em que o presidente assegurava neutralidade. A guerra de imagens foi um termômetro da ascendência de Bolsonaro sobre o eleitorado no Estado.
Já em 30 de outubro, quando Lula foi eleito para o terceiro mandato, a reação foi rápida em Mato Grosso do Sul. Na segunda-feira, dia seguinte ao pleito, várias rodovias amanheceram bloqueadas no Estado.
Das mobilizações nas estradas, a cena mais impressionante veio de Dourados, quando em 18 de novembro um veículo pegou fogo ao furar o bloqueio no Trevo da Bandeira, entre as rodovias 163 e 463.
Também desde o fim da eleição, especificamente a data de 31 de outubro, manifestantes descontentes com o resultado da eleição protestam em frente ao CMO (Comando Militar do Oeste), na Avenida Duque de Caxias, em Campo Grande. O movimento começou com 200 pessoas numa tarde chuvosa e ao som do Hino Nacional.
Ao longo de novembro, a manifestação foi se encorpando. No dia primeiro, a reportagem mostrou a expansão do movimento. O acampamento tinha banheiros químicos, tendas, gerador de energia, três refeições diárias e guindaste para hastear a bandeira do Brasil. No feriado de finados, nem o frio atípico para 2 de novembro desarticulou a manifestação. Desde então, o grupo enfrenta chuva e sol em frente ao quartel do Exército.
No último dia 12, mesmo com a diplomação de Lula pela Justiça Eleitoral, os manifestantes garantiram que nada muda e seguem com a expectativa de que os militares entrem em ação. A esperança é a revisão da votação, mesmo sem prova de irregularidade no sistema eleitoral.
Já no dia 15 de dezembro, a PF (Polícia Federal) cumpriu 17 mandados em Mato Grosso do Sul contra líderes dos protestos. A operação foi autorizada por Alexandres de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Na lista do STF, estão o vice-presidente do Sindicato Rural de São Gabriel do Oeste, o ruralista Renê Miranda Alves; a ex-assessora parlamentar Juliana Gaioso; o ex-prefeito de Costa Rica Waldeli Rosa (MDB); a médica Sirlei Ratier e a empresária Kathy Chrestani.
Bolsonaristas x lulistas – No segundo turno, Paraíso das Águas foi a cidade mais bolsonarista de Mato Grosso do Sul, com 72,19% para Jair Bolsonaro. O município é o mais novo do Estado. Lá, a média de remuneração da população é de três salários-mínimos.
As urnas mostraram que Japorã foi o município sul-mato-grossense mais lulista. O candidato do PT recebeu 71,52% dos votos. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a média de remuneração na cidade é de 2,1 salários-mínimos.
Japorã é a última colocada no ranking de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os municípios sul-mato-grossenses. Lula não visitou Mato Grosso do Sul neste ano.
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