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Quem promove a ciência aberta na ecologia?

Marina Rodrigues Martins e Samile Andréa de Souza Vanz (*) | 22/05/2023 13:30

Os principais achados da investigação apontaram dois perfis principais. Primeiro, a Persona Ecologia (PE), que reflete o pesquisador: quem produz, compartilha e reusa dados de pesquisa ecológicos por meio de plataformas, repositórios digitais e sistemas de informação, como GitHub, Rede speciesLink, Biodiversity Information Facility (GBIF) e Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). A PE é consciente e tem opinião sobre os serviços; possui interesses nestes, é afetada por eles no seu dia a dia e é ativa nas práticas de compartilhamento e reuso de dados. Ainda demanda informação precisa, políticas simples, orientação objetiva, além das ferramentas que facilitem o compartilhamento e o gerenciamento de dados.

O segundo perfil é a Persona Suporte (PS), que é quem visa auxiliar e garantir o processo de compartilhamento e reuso de dados. É um público ativo e de decisão, que possui poder de determinar algo sobre a existência das iniciativas, pois executa ações que cumprem com suas finalidades – criar e gerenciar plataformas, repositórios, sistemas e processos para gestão, compartilhamento e reuso de dados ecológicos – influenciando políticas e resultados. A PS varia conforme o potencial de poder que pode exercer a fim de estimular ou desestimular as ações.

A tese uniu técnicas da metodologia de construção de personas e da atividade de identificação e mapeamento de públicos em relações públicas (RP), fundamentando-se em pesquisa bibliográfica, reuso dos dados da survey, realizada em 2018 pelo GT – RDP Brasil, e entrevistas semiestruturadas para reconhecer comportamentos, anseios, inquietações, necessidades e demandas dos investigados. Os entrevistados foram identificados por meio da survey e de instituições que promovem iniciativas em prol do acesso aberto no Brasil. A análise de conteúdo possibilitou identificar os dois perfis citados. Ambas as personas foram comunicadas por meio de infográficos, recurso que une elementos visuais a textos reduzidos para transmitir os resultados de modo objetivo.

A ciência aberta envolve diversas pautas, entre elas o acesso aberto às publicações e aos dados de pesquisa. Ela busca tornar a pesquisa mais acessível para a sociedade, estimulando a livre circulação do conhecimento. A ciência aberta promove a ciência cidadã, que estimula a colaboração de pessoas curiosas na coleta de dados. Por exemplo, você pode fotografar cupins que você encontrou na sua casa com seu celular e compartilhar no Instagram do Projeto “Tem cupim lá em casa”, do HUB SiBBr. Os dados abertos de pesquisa são registros factuais usados como fontes – documentos, planilhas, fotografias, filmes, áudios, amostras, etc. – que validam os resultados das investigações e estão disponíveis em repositórios digitais como Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) e LattesData. Isso significa que esses dados são disponibilizados para que qualquer pessoa possa ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar.

A Ecologia, uma especialidade das Ciências Biológicas que estuda a interação entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, beneficia-se do acesso aberto aos dados da terra, da vida e das ciências sociais para a evolução das investigações. A heterogeneidade e a amplitude das pesquisas na área, porém, tornam a implantação desses repositórios um desafio complexo. São muitos dados, de diversos formatos e gerados pelos mais variados tipos de equipamento. Essa realidade afeta diretamente o desenvolvimento das pesquisas, uma vez que o compartilhamento de dados ecológicos se torna a cada dia um pré-requisito para o financiamento dos projetos. Por isso, identificar quem promove a ciência aberta na ecologia possibilita criar e qualificar serviços e produtos ofertados.

Por fim, constatou-se a considerável trajetória de ações em benefício da ciência aberta, da difusão e da disseminação científica na área da ecologia no Brasil. No entanto, ainda é necessário promover a divulgação científica e a ciência cidadã, importantes aliadas da conservação, pois possibilitam ampliar a rede de indivíduos comprometidos com a sustentabilidade ambiental.

Desse modo, é possível destacar indagações que ainda ficam a fim de ampliar a participação social no fazer científico. Isso pôde ser percebido no ambiente relacional que envolve a ciência aberta, o qual abrange diferentes coletivos: o pesquisador individual (cientistas); cidadãos; políticos; fornecedores de plataforma; instituições de ensino e pesquisa; editoras públicas e privadas de publicações acadêmicas (periódicos científicos); agências de financiamento, avaliação e certificação. Entre algumas das perguntas, estão: Quais outras personas podem representar o público de iniciativas brasileiras de acesso aberto aos dados de pesquisa? Quem são as personas que representam o público cidadão brasileiro que busca dados abertos de pesquisa? Quem são as personas que representam o público político brasileiro que fomenta leis em defesa do movimento de acesso aberto aos dados de pesquisa? Ou seja, é possível investigar mais a fundo os diversos coletivos, a fim de direcionar estratégias que beneficiem a ciência aberta brasileira como um todo.

(*) Marina Rodrigues Martins é professora do curso de graduação em Relações Públicas na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

(*) Samile Andréa de Souza Vanz é professora do Departamento de Ciências da Informação.

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