Gerente de banco movimentou R$ 6 milhões "escondido" para lavagem de dinheiro
Para os investigadores, houve associação criminosa entre a principal empresa investigada com funcionário
Nas investigações da Operação Terceirização de Ouro da Polícia Federal e da Receita Federal realizada ontem, foi verificado que gerente de agência do Banco Itaú em Campo Grande, Emerson Lemes de Araújo, seria o responsável por todas as movimentações bancárias vinculadas a cheques supostamente usados para propina. Estima-se movimentações de R$ 6 milhões em saques escondidos tanto do banco quanto do sistema financeiro.
Emerson é funcionário do banco desde 1991 e possuía função de gerente. Para os investigadores, houve associação criminosa por parte da principal empresa investigada, a Dataeasy Consultoria e Informática Ltda – que recebeu R$ 102.153.449,61 entre dezembro de 2018 e março deste ano, pelo fornecimento de mão de obra e dois softwares – com o gerente do banco para “obter saques milionários de dinheiro durante os anos de 2017 a 2021, omitindo tais operações dos registros bancários, do COAF e demais órgãos públicos, aparentemente com o fim de utilizar ilicitamente tais recursos em espécie para pagamentos de propina a agentes públicos”.
O COAF é o Conselho de Controle de Atividades Financeiras e é vinculado ao Banco Central do Brasil e tem a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar ocorrências suspeitas de atividade ilícitas relacionada à lavagem de capitais.
O modus operandi para lavar a propina era da seguinte maneira: o gerente do banco recebia cheques da Dataeasy na agência 5606 e os registrava no sistema do Itaú como “transação 241”, mas a empresa sequer tinha conta nesta agência, já que é sediada em Goiania (GO).
“Ademais, os cheques da Dataeasy eram de outros bancos (Santander, Bradesco e Banco do Brasil). Esses fatos chamam atenção em relação à participação de Emerson Araújo no esquema investigado”, cita a peça, que inclui ainda que após o registro da transação “o cheque não era depositado em conta alguma, nem mesmo na conta da agência do ITAÚ. Ou seja, o cheque ficava registrado no sistema do banco, mas não havia contrapartida do destino de seu valor. Em outras palavras, o cheque ficava 'no limbo do sistema' ou 'na gaveta digital' do gerente Emerson Araújo”.
Após isso, ao final do expediente, o gerente realizava, então, as transações de acordo com os cheques que haviam sido acolhidos e realizava saques em espécie nos valores respectivos. Procurado pelos investigadores, o banco informou que “os valores dos referidos cheques foram sacados irregularmente do caixa, em desacordo com os procedimentos operacionais do Itaú Unibanco”, conforme resposta dada em 6 de junho deste ano.
Em resumo, o gerente teria encontrado uma forma de burlar os mecanismos de controle, internos e externos, e “no período de 2017 a 2021, o gerente do Banco Itaú Emerson Lemos de Araújo realizou saques clandestinos de cheques da empresa Dataeasy, totalizando mais de R$ 6 milhões, omitindo tais informações do COAF, (...) podendo também incidir no crime de lavagem de dinheiro”, concluiu a investigação.
Emerson foi alvo de mandados de busca e apreensão ontem em sua residência, afastamento do sigilo bancário e fiscal.
Em nota, a assessoria de imprensa do Banco Itaú Unibanco informou que a instituição "tem a ética como valor inegociável e adota os mais rígidos padrões de governança e compliance com o objetivo de garantir que suas operações estejam sempre aderentes à legislação e às melhores práticas de mercado, realizando investimentos constantes em tecnologia e na evolução de processos para detecção de operações atípicas".
Com isso, "o banco informa que desligou o colaborador em questão em julho passado, após apuração interna, e adotou todas as medidas cabíveis para apoiar as autoridades na resolução do caso".
Matéria editada às 17h35 para acréscimo do posicionamento do Itaú Unibanco.