Defesa mostra pegadinha em programa de TV para justificar morte em lava jato
Rapaz de 17 anos morreu após ter mangueira de compressão de ar introduzida no ânus por colegas de trabalho
O julgamento do aviador civil Thiago Giovanni Demarço Sena, 26 anos, e do lavador de carros William Enrique Larrea, 36, já se estende por mais de nove horas no plenário do Tribunal do Júri, em Campo Grande. Eles são réus pela morte de Wesner Moreira da Silva, 17, que teve uma mangueira de compressão de ar introduzida no ânus. Para a defesa, uma "pegadinha" que levou a tragédia.
No plenário, o advogado Francisco Martins Guedes Neto, transmitiu no telão pegadinhas em programas televisivos para comparar ao que aconteceu na data do crime, 3 de fevereiro de 2017, em um lava a jato na Vila Morumbi. "Olha o perigo, as pessoas brincando, dando risada, achando que é uma brincadeira e que pode ocasionar em morte", disse.
Um médico legista prestou depoimento no júri de hoje e explicou em termos técnicos o que ocorreu com a vítima. “O ar entrou pelo ânus, então, a mangueira em contato íntimo com ânus com 90 psi de pressão tem energia muito alta; essa pressão causou esta catástrofe nos órgãos do Wesner”, descreveu Marco Antônio Araújo de Melo.
O júri teve réplicas e tréplicas, além de discussão entre a promotoria e a defesa dos réus. O resultado do julgamento deve sair até o fim da noite desta quinta-feira.
Entenda - Thiago e William eram colegas de trabalho de Wesner. William teria imobilizado o adolescente enquanto o colega introduzia a mangueira de compressão de ar no ânus da vítima. O rapaz passou mal, vomitou, foi levado para posto de saúde, sendo transferido para a Santa Casa, e morreu no dia 14 de fevereiro.
De acordo com o legista, o ar atingiu intestino grosso, pulmões e provocou lesões na região torácica e próxima ao coração. "Quando o rapaz começou se alimentar, a passagem do alimento forçou a parede do esôfago e causou o rompimento, provocados por barotrauma", explicou. Barotrauma é reação provocada por mudanças na pressão atmosférica (barométrica), que podem afetar várias estruturas do corpo. Esse tipo de lesão pode ocorrer nos pulmões, no trato gastrointestinal, nos dentes, nos olhos e na face.
Thiago Giovanni e William Enrique estão sendo julgados por homicídio qualificado por dificultar a defesa da vítima. No detalhamento da denúncia, consta que tudo começou com uma brincadeira: segundo MPMS, Wesner pediu, em tom de brincadeira, que William comprasse Coca-Cola. “De novo? Agora toda hora é Coca-Cola!, respondeu, pegando pano em seguida para limpar carros e passou a bater na vítima, também de brincadeira.
Em determinado momento, Wesner pediu para que o colega parasse, mas não foi atendido. O rapaz correu, mas William foi atrás dele e o imobilizou, agarrando-o pela frente e segurando braços e tórax. Logo em seguida, carregou o adolescente até onde estava Thiago, outro funcionário. Thiago pegou a mangueira de ar, utilizada para limpeza de carros, retirou a bermuda e a cueca de Wesner, ligou compressor e o introduziu no ânus do adolescente.