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Capital

Em júri, casal afirma que autorizou festa e acabou "limpando sangue" de vítima

José Carlos Louveira Figueiredo foi encontrado decapitado na região da Cachoeira do Ceuzinho em 2017

Geisy Garnes e Alana Portela | 26/05/2021 12:25
"Carol" prestou depoimento nesta manhã durante julgamento no Tribunal do Júri (Foto: Alana Portela)
"Carol" prestou depoimento nesta manhã durante julgamento no Tribunal do Júri (Foto: Alana Portela)

A morte de José Carlos Louveira Figueiredo, o "Coroa" – encontrado decapitado na região da Cachoeira do Ceuzinho em 2017 – ganha novo capítulo nesta quarta-feira (26) com o julgamento de quatros dos envolvidos na execução ordenada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). No plenário do Tribunal do Júri, os moradores da casa onde tudo aconteceu afirmaram ter autorizado apenas uma festa no local, mas depois acabaram limpando o sangue da vítima do chão.

São julgados nesta quarta-feira Carolina Gonçalves de Matos, 40 anos, David Samuel Boaventura Salvados, 22, Denilson Bernardo Arruda, 27, e Nicolas Kelvin Soares Montalvão, 22.

José Carlos, 41 anos, e o filho, na época com 16 anos, foram sequestrados pelos suspeitos no dia 18 de novembro de 2017. Para a polícia, os réus relataram que a vítima foi julgada e morta por ter negociado drogas com o CV (Comando Vermelho) e ter agredido o adolescente conhecido como “Tio Patinhas”, filho de Nilton Gauta Evangelista, integrante do PCC, que estava preso no ano do crime.

Após ser mantido refém em pelo menos duas casas do Jardim São Conrado, “Coroa” e o filho foram levados para a casa de Denilson Bernardo Arruda e Carolina Gonçalves de Matos, a “Carol”, localizada na Vila Taveirópolis. Segundo a denúncia do Ministério Público, o casal teria ajudado no cárcere até o dia do julgamento e morte da vítima.

Denilson durante depoimento nesta manhã (Foto: Alana Portela)
Denilson durante depoimento nesta manhã (Foto: Alana Portela)

Hoje, no entanto, contaram outra versão dos fatos aos jurados.

O primeiro a prestar depoimento no plenário foi Denilson. Ele alegou ser usuário de pasta base há 20 anos e por isso estava completamento drogado quando conhecidos chegaram em uma casa e pediram para alugar o espaço para festa.

Afirmou ter aceitado o negócio e se trancado no quarto, junto com a esposa. O suspeito afirmou que morava em conjunto de casas invadido, no qual apenas a sua residência é habitada. Outras duas estão abandonadas.

“Carol” confirmou a história do marido, mas contou outros detalhes. Afirmou que assim como Denilson é viciada e desde 13 anos. Hoje tem 40 anos. Relatou que na época do crime também concordou com a festa e ficou no quarto enquanto os convidados “bebiam e escutavam música alta”. Lembrou também que viu a movimentação de pessoas aparentemente se preparando para a “rave”, mas na ocasião não notou nada de errado.

Ela ficou trancada no quarto por várias horas, consumindo droga com o marido, só quando o entorpecente acabou, resolveu sair. Contou que foi para os fundos do conjunto de casas e lá encontrou o corpo de Coroa, já decapitado. Aos jurados, relatou a cena de horror: o corpo estava chão, com a cabeça em cima do peito e cercado por sangue. “Fiquei em choque”.

Histórico - Por conta do vício, “Carol” já tinha sido presa por tráfico de drogas e estava foragida da polícia pelo crime, por isso, segundo ela, resolveu não denunciar o crime. “Eu era foragida, uma foragida ligar para a polícia e contar tudo que aconteceu, quem ia acreditar em mim?”, defendeu no plenário.

Segundo ela, ao invés de avisar a polícia saiu de casa para usar drogas. Voltou muito tempo depois, com um saco plástico para ensacar o corpo. No júri afirmou ter feito isso sozinha, mas que apesar de cobrir “Coroa”, não teve coragem de encostar na cabeça dele. Depois saiu novamente para se drogar e quando retornou não viu mais a vítima. “Não sei quem tirou o corpo, não vi nada”.

Em depoimento, Carol afirmou ter levado três dias para “voltar ao normal”. Só então decidiu limpar o sangue no quintal de casa, por conta do “fedor”. Ela e Denilson levaram o piso com detergente e permaneceram no local, até a prisão, meses depois.

O casal negou qualquer participação no homicídio e também envolvimento com o PCC.

Além deles, David Samuel Boaventura Salvados e Nicolas Kelvin Soares Montalvão prestaram depoimento nesta manhã. O júri deveria ter acontecido em março deste ano, mas foi adiando por conta da pandemia do coronavírus.

Outras sete pessoas também respondem pelo crime, mas não serão julgadas nesta manhã. São eles: Kaio Batista de Oliveira, Luan Loubet Barros, Nilton Gauta Evangelista, Cleia Aveiro, Henrique Pelegrino, Thiago Pereira Peres e Pamella Almeida Ribeiro. Em fevereiro deste ano, Adriano Hilário dos Santos, 35 anos, conhecido como Kaique, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão e 20 dias de multa pela participação na morte de José Carlos.

Por conta da medidas de restrição impostas pela pandemia, acusados acompanharam júri em uma sala ao lado do plenário (Foto: Alana Portela)
Por conta da medidas de restrição impostas pela pandemia, acusados acompanharam júri em uma sala ao lado do plenário (Foto: Alana Portela)

Tribunal do Crime – Investigações da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) apontaram que além de vender drogas para integrantes do Comando Vermelho, a vítima tinha dívida com "Tio Patinhas".

Para se “livrar de ameaças” feitas por “Coroa”, o adolescente pediu ajuda do pai, Nilton Gauta Evangelista. A mãe do garoto também resolveu interferir na situação e pediu ajuda ao PCC.

Cleia Ricarda, a “Paraguaia”, era “sócia” de José Carlos e do filho em uma boca de fumo, mas assim que facção se envolveu na situação, ela entregou a rotina do parceiro para poder ser absolvida pelo PCC por participar das negociações de droga com o grupo rival.

Pamella, a “Emonoma”, tinha “posição de poder” dentro da facção e foi a responsável por toda a coordenação da execução, por arrumar as “cantoneiras” [casas em que as vítimas foram mantidas refém] e coordenar as equipes encarregadas do crime, tudo por telefone. Foi ela também, a autora da decapitação da vítima.

Segundo o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), foram Kaio, Davyd Samuel e Nicolas, comandados por Cleia, sequestraram José Carlos e o filho dele.

Ainda conforme a denúncia, Kaio, Thiago Pereira, e os adolescentes conhecidos como “Puro Ódio” e “Tio Patinhas”, ajudaram a manter a dupla em cárcere privado até o “julgamento” de José Carlos. Conforme as investigações, durante todo o tempo que esteve em poder da facção, a vítima foi agredida e torturada.

A ordem para a execução de “Coroa” foi dada no dia 22 de novembro, por Nilton Gauta Evangelista, o Pezão, pai de “Tio Patinhas” e interno do EPJFC ( , onde cumpre pena pelo crime de latrocínio. O corpo de José foi encontrado no dia 23 de novembro, na região da Cachoeira do Ceuzinho.

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