Em pânico com fake, aluno leva facas e martelo na mochila “para se defender”
Direção de escola pede que pais estejam atentos a mudanças de comportamento dos filhos e revistem mochilas
O pânico de invasão e atentado em escolas chegou ao ponto de adolescentes decidirem se armar “para se defender”. Entre ontem e esta quarta-feira (12), estudantes de colégios públicos e particulares de Campo Grande foram pegos com facas, canivete e até martelo em mochilas. Nos três casos, meninos e meninas alegaram que estavam prontos para responder a agressões em caso de ataque.
No fim da manhã de hoje, garoto de 12 anos, estudante de colégio particular localizado no Jardim Leblon, na Capital, foi pego com duas facas e martelo na mochila. A Polícia Militar foi chamada e o menino acabou levado para a Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude).
Em depoimento, ele afirmou que não tinha a intenção de ferir ninguém. Aliás, só foi pego porque conversa dele com um amigo acabou delatada. Ele dizia que o colega poderia ficar perto dele caso alguma coisa acontecesse, porque ele estava “pronto para se defender”.
A irmã do aluno, de 28 anos, que também o acompanhava na delegacia, explicou que nesta terça-feira (11), ao tomar conhecimento de suposta ameaça de ataque na escola do irmão, a mãe do estudante ligou para a coordenação e pediu que o dia de aula fosse suspenso, mas uma coordenadora a acalmou. “Ela falou que as providências já estavam sendo tomadas e que a escola já estava ciente, porque era assunto comentado em grupos de WhatsApp. Disse que não era para se preocupar e que não iria suspender as aulas e nem as provas de hoje”, explicou.
Ela revela ainda que o irmão pediu para faltar à aula hoje, mas como tinha prova, a mãe não permitiu. “A gente encaminhou para escola e ele acabou levando as duas facas e o martelo. Ele não é violento. Estava com medo mesmo”.
O garoto responderá por porte ilegal de arma branca e teve o celular apreendido para a investigação, segundo a irmã.
Providências – Por meio de nota, a escola informou que já havia intensificado as “ações de monitoramento interno” e que por isso, nesta manhã, foram encontrados com um dos alunos “artefatos com potencial de risco à comunidade escolar”. Esclareceu ainda que “não houve necessidade de interrupção das aulas”.
Na manhã de hoje, a rede escolar da qual esse menino faz parte já havia enviado comunicado aos pais informando que “com auxílio de especialistas, situações de risco estão sendo monitoradas e treinamentos são oferecidos aos colaboradores” e pedindo que os responsáveis passassem a verificar continuamente itens colocados nas mochilas dos filhos, acompanhassem o comportamento das crianças e adolescentes, além de notificarem a escola caso identificassem situações de bullying.
Outros casos – Chegaram ao Campo Grande News, nesta terça-feira (12), histórias de outras duas crianças da Capital. Essas ocorrências, porém, não foram parar na polícia.
Uma delas, uma menina de 9 anos, aluna do 4º ano de escola no Bairro Taveirópolis, levou um canivete para o dia de aula. Ao ser pega com o objeto, na tarde de ontem (11), ela justificou que “ninguém a mataria”.
Também nesta manhã, aluno de unidade da rede pública na região da Coophavila levou uma faca de serra para a escola. Os pais dele foram chamados para conversa porque o menino disse que havia sido ideia deles que colocar o objeto na mochila “para proteção”.
O cenário – Desde a semana passada, quando o Brasil testemunhou massacre em creche de Blumenau (SC), o medo do “efeito contágio” – ou seja, que novas escolas sejam alvo de ataques sangrentos – se espalha, a cada dia com mais rapidez.
Na semana passada, a PM (Polícia Militar) recebeu seis chamados para ocorrências em escolas de Campo Grande. Chegou a haver revista de alunos, mas as ameaças não passavam de trotes. Só na segunda-feira (10), chegaram à reportagem 10 denúncias de “atentados” em colégios da rede municipal e estadual da Capital – nos bairros Universitário, Recanto dos Rouxinóis, Pioneiros, Centro Oeste, Aero Rancho, Caiçara, Guanandi, Coophavilla 2 e Lar do Trabalhador. A maior parte delas feitas pelos pais dos alunos e que também eram alarmes falsos.
Efeito contágio – O Campo Grande News optou por não detalhar nenhuma das supostas ameaças e nem expor as escolas que tiveram problemas para não contribuir com o “efeito contágio”. Os nomes das crianças e do adolescente, bem como os nomes das escolas, foram preservados para evitar a exposição dos estudantes e instituições de ensino.
Na semana passada, veículos de comunicação de todo o Brasil anunciaram mudanças nos protocolos de cobertura de ataques em escolas, baseados em recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Ao exibir imagens e contar a história do agressor, a mídia pode favorecer a proliferação de ataques a escolas e creches, por exemplo. O que esses assassinos buscam, dizem estudos, é a notoriedade instantânea.