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Capital

Preso por morte de Gleison põe a culpa em ex-marido que está morto

Defesa tenta provar inocência de suspeito, acusando cabeleireiro que foi encontrado morto ontem (26)

Adriano Fernandes e Marta Ferreira | 27/04/2021 21:46
Leandro Pereira Florenciano, de 35 anos. (Foto: Reprodução/Facebook)
Leandro Pereira Florenciano, de 35 anos. (Foto: Reprodução/Facebook)

Preso desde ontem (26), suspeito de envolvimento no assassinato de Gleison da Silva Abreu, de 25 anos - encontrado há cerca de um ano na cachoeira do Inferninho - Leandro Pereira Florenciano, de 35, acusa o ex-marido, Emerson Borcheidt, de 33 anos, de ser o único responsável pelo crime. Segundo a defesa de Leandro, Emerson empurrou o jovem do alto da cachoeira ao flagrar a vítima e o ex-companheiro no local.

Ainda ontem, depois de saber da prisão de Leandro, Emerson foi encontrado morto com indícios de suicídio em uma quitinete no Bairro Zé Pereira.

De acordo com o advogado de Leandro, Gustavo Scuarcialupi, o seu cliente e Gleison se relacionavam há cerca de um ano às escondidas. Isso porque, segundo Gustavo, o jovem tinha medo de se assumir para a família que é composta por evangélicos. Já Leandro também tinha receio da reação do ex-marido, uma vez que Emerson supostamente tinha crises de ciúmes e o “perseguia”. Para manter a relação em segredo, Gleison e Leandro tinham o hábito de se encontrar em locais afastados da cidade como na região do Inferninho.

No dia do crime, Gleisson teria buscado Leandro de moto em sua residência e os dois foram juntos para a cachoeira. Em determinado momento, ainda conforme a defesa, Emerson chegou ao local e teve início uma discussão. “Eles discutiram e o Gleisson entrou na frente do Leandro para defendê-lo, foi quando o Emerson o empurrou”, comenta o advogado. Em seguida Leandro ligou para o cunhado, Agnaldo Freire Mariz, de 48 anos, que também foi preso por suspeita de envolvimento no crime, pedindo ajuda. Agnaldo não teria ido à cachoeira, mas também não denunciou o crime à polícia assim como Leandro.

“O Leandro ficou desesperado e não entrou em contato com a polícia, porque teve um relacionamento de dez anos com o Emerson. Foi difícil ver uma pessoa que ele tanto amou fazendo uma coisa dessas. Quando ele se deparou com a situação, não soube o que fazer”, diz o advogado.

A queda – Diferente da versão divulgada pela polícia, Gustavo nega de que Gleisson tenha sido morto por asfixia. “Nenhum laudo coloca que foi asfixia a causa da morte, mas sim, uma ação contundente, ou seja, ele bateu a cabeça em alguma rocha e morreu por isso. No exame pericial o que se visualizou foi uma lesão superficial em um lado do pescoço, uma ruptura dos vasos sanguíneos. Se tivesse havido algum tipo de esganadura haveriam sinais dos dois lados. Se ocorreu a asfixia foi por afogamento, ele bateu a cabeça e se afogou, mas de forma nenhuma teve algum tipo de estrangulamento,” comenta.

O advogado adiantou que deve entrar com o pedido de “perícia indireta” para tentar desqualificar a alegação de asfixia. “Uma nova perícia das fotos tiradas do corpo e da lesão, pode atestar a superficialidade da lesão. O que houve foi um homicídio, o Emerson empurrou o Gleisson lá de cima, já o Leandro não teria nem como até pelo porte físico dele”, comenta.

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O golpe - O advogado também nega que Leandro teria tentado aplicar um golpe em Gleisson, conforme apontado pela Polícia Civil. Segundo a investigação, Gleisson teria investido cerca de R$ 16 mil em suposto negócio proposto por Leandro com a promessa de rendimento "estratosférico". Conforme a Polícia Civil, o rapaz teria sido morto asfixiado e jogado no Inferninho na mesma semana que iria receber esse dinheiro dos golpistas.

Leandro, de acordo com os levantamentos, é o suspeito de ser o mentor de tudo e teria tido a ajuda de Agnaldo na execução do homicídio, segundo a polícia. “O Leandro sempre trabalhou, tinha casa, carro, moto, sempre teve uma situação financeira estável. Não teria porque ele aplicar um golpe no Gleisson até porque ele também não tinha uma situação financeira considerável”, contesta o advogado.

Em depoimento nesta segunda-feira (26), Leandro teria dito que estava fora da cidade na data em que o corpo de Gleisson foi encontrado. Contudo, Gustavo Scuarcialupi adiantou que vai solicitar à polícia que o cliente preste um novo depoimento, para dar a sua nova versão sobre os fatos.

Leandro e Agnaldo estão presos na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Cepol, em Campo Grande.

O Estrupro – O advogado também dá nova versão sobre outro desdobramento da investigação, que envolve o estupro de um menino de 9 anos. A descoberta do abuso da criança teria sido a “gota d’água” para o fim do relacionamento de 10 anos de Leandro e Emerson. Conforme Scuarcialupi, apenas Emerson teria abusado do menino e não o seu cliente, conforme atesta inquérito policial. “Leandro ficou sabendo do abuso, uns 3 ou 4 meses antes do crime no Inferninho, e não quis mais se aproximar de Emerson”, comenta.

Mas e o porquê Leandro não denunciou o abuso do garoto?

“Da mesma forma como ele não conseguiu denunciar o homicídio, pelo vínculo que os dois já haviam tido no passado, o Leandro não quis denunciar o ex-marido porque acreditava na melhora do Emerson. Então, ele decidiu apenas se afastar”, conclui o advogado.

Vila de quitinetes onde o corpo de Emerson foi encontrado. (Foto: Beatriz Rodrigues)
Vila de quitinetes onde o corpo de Emerson foi encontrado. (Foto: Beatriz Rodrigues)

A investigação do Campo Grande News aponta que os indícios obtidos até agora pela Polícia Civil, tanto em relação ao assassinato quanto ao estupro da criança, vão em sentido diferente da tese da defesa de Leandro. O menino de 9 anos relatou em depoimento especial que sofreu abuso do casal formado por Leandro e Emerson, que foi encontrado morto me meio às diligências do caso.

Quanto à morte de Gleison, ainda segundo a apuração feita, há elementos probatórios de mentiras dos homens que estão presos por envolvimento no caso. Esses indícios sustentaram o pedido de prisão temporária, defendido  pela promotoria e acatado pelo juiz Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri.

Leandro, segundo o delegado Carlos Delano, responsável pelo caso, informou que elementos sobre a motivação vêm sendo coletados desde o encontro do cadáver de Gleison, em maio do ano passado.

Uma evidência apontada é que, pela forma como a vítima foi achada, houve a participação de duas pessoas. A causa da morte foi asfixia, mas a dinâmica não ficou esclarecida. Segundo a autoridade policial, podem haver mais prisões. Isso vai depender das provas coletadas nas buscas realizadas ontem em quatro endereços ligados aos investigados.

A família do jovem informou que não pretende comentar as apurações.

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