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Interior

“Não é com arma que resolve”, diz ministra em conversa com produtores

Sonia Guajajara conversou com representantes de sitiantes em área entre acampamentos dos dois lados

Por Helio de Freitas, de Dourados | 06/08/2024 14:41
Sonia Guajajara no momento em que conversava com produtores rurais (Foto: Direto das Ruas)
Sonia Guajajara no momento em que conversava com produtores rurais (Foto: Direto das Ruas)

A ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara conversou com produtores rurais acampados perto de áreas de retomadas no município de Douradina, onde pelo menos 14 pessoas (12 indígenas e dois apoiadores de sitiantes) ficaram feridas em confrontos nas últimas três semanas.

Durante visita à área de conflito, nesta terça-feira (6), a ministra participou de cerimônia tradicional dos guarani-kaiowá, prometeu apoio do Governo Federal para acelerar a demarcação do Território Panambi Lagoa Rica e no momento em que estava deixando o local foi até os produtores acampados para conversar.

Os dois grupos se encontraram em campo de lavoura da Fazenda Spessato, entre os dois acampamentos – de um lado as tendas montadas pelos produtores e do outro a “retomada Yvy Ajhere”. Equipes da Força Nacional e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) garantiram a segurança.

Na conversa com os sitiantes, Sonia Guajajara pediu o fim da violência e disse que não será com arma que a situação será resolvida.

“Viemos aqui em missão de paz conversar com vocês para buscar solução. Essa área, como vocês sabem, está judicializada. Nenhum de nós como representantes do Governo Federal, pode mudar essa decisão da Justiça, mas vamos trabalhar para uma decisão definitiva, tranquila, confortável e segura para os dois lados”, afirmou a ministra.

Sem armas - Sonia Guajajara pediu o fim dos ataques: “não é possível continuar com essa situação de insegurança para todo mundo. Quando eles cantam, dançam, isso não é provocação, é da cultura dos povos indígenas. Eles não gostam de estar assim jogados, embaixo de lona, mas estão ali por acreditar que tem direito à sua terra. Cada um está no seu direito de reivindicar, mas não vai ser com briga, com armamento e ataque que vai resolver”.

Aos produtores, a ministra disse acreditar que nenhum dos lados quer derramamento de sangue, como já ocorreu. “Tem ferido lá, tem ferido cá. Precisamos chegar num acordo. Não entendam a reza e a dança como provocação, é da cultura do guarani rezar dia e noite, seja na aldeia, seja em área de retomada, seja em acampamento”.

Sonia Guajajara disse aos produtores que pediu aos indígenas que fiquem na área onde já estão acampados e respeitam a orientação do MPF (Ministério Público Federal). “Quero pedir para vocês se desarmarem, vamos sair daqui com o compromisso de que vamos buscar uma solução. Para isso, é preciso acabar com a insegurança e com a violência”.

A ministra afirmou aos produtores que a Força Nacional vai permanecer na área para garantir segurança dos dois lados, mas pediu que os proprietários não revidem “com bala” quando se julgarem provocados. “Preciso da palavra de vocês para estabelecer esse acordo de paz”.

Delegação federal no "Tekoha Yvy Ajhere", montado na Fazenda Spessato (Foto: Direto das Ruas)
Delegação federal no "Tekoha Yvy Ajhere", montado na Fazenda Spessato (Foto: Direto das Ruas)

Sitiantes – Em resposta à ministra, representante dos produtores afirmou que os confrontos ocorreram porque os indígenas teriam ampliado as áreas ocupadas.

Outra sitiante disse que estudo de identificação das terras como área indígena (publicado em 2011) não tem mais valor jurídico que os títulos de posse das propriedades. “Esse estudo não garante que a invasão ocorra, não se equivale às escrituras e registros que temos, não legaliza essa invasão”, disse ela.

“Vamos seguir nesse diálogo, vamos nomear equipe nossa para seguir conversando. Viemos para ouvir os dois lados, mas não temos poder para sair daqui com uma decisão. Vamos construir uma proposta que será apresentada ao presidente [da República]”, disse Sonia Guajajara.

“Pedimos que não haja mais ataque, pois é uma luta desigual. Eles têm flechas de madeira frágil, enquanto o outro lado age com armas muito mais potentes. Pedimos a garantia de vocês para estabelecer ambiente de paz”, afirmou a ministra.

Um produtor interveio e disse que os feridos teriam sido agredidos pelos próprios indígenas. “Não podemos provar nada, porém, temos relatos que são os próprios indígenas que judiam de pessoas simples que não querem vir para a frente”. Sonia Guajajara o interrompeu: “por favor, nem continue porque isso realmente não procede”.

A delegação deixou a área em Douradina e seguiu até Dourados, onde almoça em restaurante na entrada da cidade. Depois, retorna para Campo Grande, onde a ministra tem agenda com o governador Eduardo Riedel. As reuniões que aconteceriam em Dourados foram canceladas, por falta de tempo.

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