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Interior

Policiais civis presos por receber propina são condenados

Os servidores também eram acusados por peculato e tráfico de drogas, mas foram absolvidos na ocasião

Bruna Marques | 24/04/2023 12:02
O escrivão aposentado Valdenei Peromalle, que está preso. (Foto: Reprodução)
O escrivão aposentado Valdenei Peromalle, que está preso. (Foto: Reprodução)

Condenados pelo crime de recebimento de propina, os policiais civis Waldenei Peromalle e Jonatas Pontes Gusmão, presos em abril do ano passado, em Ponta Porã, durante Operação Codicia, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), tiveram a condenação publicada no Diário da Justiça desta segunda-feira (24).

O ex-escrivão Waldenei Peromalle foi condenado a 2 anos de reclusão e terá que pagar multa de 10 dias pelo crime previsto no artigo 316, do código penal, que o acusa de obter vantagem indevida. O policial aposentado usava as delegacias de Polícia Civil de Ponta Porã como “balcão de negócios” para a obtenção de vantagens indevidas na liberação de veículos apreendidos na fronteira.

Assim como Waldenei, Jonatas Pontes Gusmão também foi condenado por vantagem indevida, os dois atuavam juntos. Na época em que foram presos, no dia 25 de abril de 2022, as investigações revelaram centenas de operações financeira envolvendo os acusados. Eram feitos depósitos e transferências, principalmente para a conta bancária de Waldenei.

A dupla também era acusada pelos crimes de peculato e tráfico de drogas, mas na ocasião, os policiais foram absolvidos, assim como Doelza Lopes Ferreira, Márcio André Molina Azevedo e Rodrigo Blonkowski, também envolvidos na organização criminosa.

Testemunhas serão ouvidas em audiência no dia 17 de maio, 7 e 16 de junho deste ano.

Operação - Valdenei Peromalle e Jonatas Gusmão foram presos no dia 25 de abril na Operação Codicia, que investiga crimes de concussão (usar o cargo público para obter vantagem indevida), peculato (se apropriar ou desviar bem público) e tráfico de drogas desviadas do depósito da polícia.

Os outros quatro policiais presos são Adriana Jarcem da Silva, Marcio André Molina Azevedo, Mauro Ranzi e Rogério Insfran Ocampos (perito criminal). Também estão presos os irmãos Ricardo Alexandre Olmedo e João Batista Olmedo Júnior e Marcos Alberto Alcântara – supostos compradores de maconha desviada da delegacia.

Trecho de conversa entre Nei e Jonatas, interceptada pelo Gaeco. (Imagem: Reprodução)
Trecho de conversa entre Nei e Jonatas, interceptada pelo Gaeco. (Imagem: Reprodução)

Conversas entre os investigados, gravadas pelo Gaeco com autorização da Justiça, revelam detalhes da trama e expõem a forte influência de Valdenei Peromalle na delegacia, onde ele controlava a devolução dos veículos, ditava ordens aos servidores e ainda assinava documentos como testemunha.

Peromalle foi um dos policiais envolvidos na extorsão de R$ 5 mil do casal de Santa Catarina que veio a Ponta Porã, em abril do ano passado, para pegar de volta uma carreta Scania roubada no Rio de Janeiro e recuperada na fronteira. O caso deu início à Operação Codicia.

Transcrições das conversas interceptadas pela investigação e incluídas no processo, que já tem 560 páginas, detalham a influência de Valdenei Peromalle sobre os veículos em poder da 2ª DP. Era o escrivão aposentado que tinha o controle sobre a papelada a ser preenchida antes da devolução dos bens apreendidos.

No dia 28 de julho de 2021, a estagiária da delegacia ligou para Jonatas Gusmão e questionou sobre os procedimentos para recuperação de veículo roubado em outro estado e apreendido na fronteira.

O escrivão orientou a atendente a procurar Valdenei Peromalle e disse que o policial aposentado tinha o “modelinho” de preenchimento daquele tipo de ocorrência. Ainda reforçou que os dois eram os responsáveis em administrar situações envolvendo veículos apreendidos na 2ª DP de Ponta Porã.

Corregedoria – Em setembro do ano passado, um procedimento da Corregedoria da Polícia Civil sobre veículos apreendidos na delegacia tirou o sono do núcleo do esquema comandado por Peromalle e Jonatas Gusmão.

O escrivão da ativa ligou para o servidor aposentado pedindo orientação sobre como deveria proceder para fornecer explicações relativas à localização de veículos em poder da polícia. Durante as conversas, Jonatas disse a Nei que não estava encontrando um Prisma prata.

Em resposta, Valdenei perguntou se o carro não teria sido encaminhado para alguma leiloeira, “confirmando seu papel de destaque na gestão dos automóveis apreendidos na 2ª DP de Ponta Porã”, afirma o Gaeco.

“Nessa condição, de responsável pelos veículos apreendidos na 2ª Delegacia de Polícia de Ponta Porã, Valdenei Peromalle (“Nei”) serve de intermediário para os procuradores (representantes) das locadoras/seguradoras/leiloeiras, que para conseguirem seu intento, que é o de recuperar (reaver) os automóveis, acabam lhe repassando vantagens indevidas, que posteriormente são divididas entre os demais envolvidos”, diz trecho do relatório da investigação.

"Ajudinha" -  O Gaeco também gravou conversas de Valdenei Peromalle com representante de locadoras de veículos. No diálogo, o escrivão aposentado perguntou se as empresas dão “ajudinha” para quem recupera e devolve veículos apreendidos.

O representante, que se identifica como advogado, disse que as empresas não dão ajuda, mas que ele próprio poderia pagar um “bônus”. Dias depois, em outro diálogo, o representante disse para Nei que estava esperando para ver quanto daria para cada um. “Acho que vai uns 600 para cada um, pra mim, pro 'cê' e pro menino lá.”

A quebra de sigilo bancário revelou que Peromalle recebeu transferência bancária de R$ 1 mil feita por empresa de vistoria de veículos de Curitiba (PR) no mesmo dia em que conversou com o representante das locadoras sobre o pagamento de “bônus”.

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