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Birra e Acolhimento, é possível conciliar?

Por Lia Rodrigues Alcaraz | 25/04/2024 15:05

A parentalidade é um dos desafios mais intensos da vida de uma pessoa, e saber lidar com as adversidade e situações que advém dela é desafiador. O comportamento é o assunto mais tratado hoje em dia nos consultórios pediátricos, “meu filho dorme demais”, “meu filho come demais”, “meu filho faz birra demais”, e ao pensar nesse viés, uma frase que sempre ressoa é "o bater não educa", pois ela resume uma importante reflexão sobre os métodos de educação utilizados com crianças. Tradicionalmente, muitas vezes se recorria à punição física como forma de corrigir comportamentos considerados inadequados. No entanto, cada vez mais se reconhece que esse tipo de abordagem não só é ineficaz, como também pode ser prejudicial para o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças.

As birras, se iniciam em torno de dois anos da criança, onde a maturação intelectual está evoluindo consideravelmente, mas seu corpo e pouca idade lhe restringem. Lidar com a frustação de não poder fazer coisas imediatas e até mesmo perigosas deixa a criança em um estado de irritação e concomitantemente os pais perdem a paciência. Quando uma criança entra em um episódio de birra, parece que todo o mundo desaba ao redor, e muitas vezes, o instinto é responder com frustração ou até mesmo com raiva. Mas e se, em vez disso, optássemos pelo acolhimento?

A birra é um comportamento comum em crianças pequenas, muitas vezes manifestado como uma forma de expressar frustração, cansaço ou desejo por algo. É um sinal de que a criança está enfrentando dificuldades para lidar com suas emoções e precisa de ajuda para aprender a regulá-las. Portanto, em vez de ver a birra como um obstáculo à educação, devemos encará-la como uma oportunidade de ensinar habilidades emocionais e de comunicação.

O acolhimento, nesse contexto, envolve responder à birra da criança com compreensão, empatia e paciência. Em vez de repreender ou ignorar a criança, os pais podem se aproximar dela, acalmando-a e oferecendo-lhe apoio emocional. Isso não significa ceder às demandas da criança ou recompensar o comportamento inadequado, mas sim validar seus sentimentos e ajudá-la a encontrar maneiras mais construtivas de lidar com eles.

Ao adotar uma abordagem de acolhimento durante as birras, os pais estão ensinando às crianças que suas emoções são válidas e que elas podem confiar nos adultos para ajudá-las a lidar com elas de maneira saudável. Isso fortalece o vínculo entre pais e filhos e cria um ambiente de confiança e segurança onde a criança se sente livre para expressar suas emoções sem medo de julgamento ou punição.

Além disso, o acolhimento durante as birras pode ser uma oportunidade para os pais ensinarem habilidades de autorregulação e resolução de conflitos. Eles podem ajudar a criança a identificar suas emoções, entender as causas por trás delas e desenvolver estratégias para lidar com elas de maneira construtiva. Isso não só ajuda a resolver a birra imediata, mas também equipa a criança com habilidades importantes para enfrentar desafios futuros.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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