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Economia

Acordo não representa quem está parado, dizem lideranças nas estradas

Presidentes de sindicatos ligados ao setor de transportes em Mato Grosso do Sul reforçam o discurso dos manifestantes

Danielle Valentim, Bruna Kaspary e Anahi Zurutuza | 25/05/2018 09:06
Caminhoneiros ressaltam que acordo foi fechada por pessoas que não estão nas estradas. (Foto: Saul Schramm)
Caminhoneiros ressaltam que acordo foi fechada por pessoas que não estão nas estradas. (Foto: Saul Schramm)

Com a justificativa de que o acordo com o governo federal, anunciado na noite de ontem (24), não representa a classe dos caminhoneiros, manifestantes continuam a paralisação em Mato Grosso do Sul. A reunião com os ministros Eliseu Padilha, Carlos Marun, Eduardo Guardia e Valter Casimiro durou de mais de seis horas e entre os pontos aceitos por representantes dos motoristas está a suspensão da paralisação, que há cinco dias provoca bloqueios de rodovias. Lideranças afirmam que a negociação apresentada é “falsa” e teve a intenção de confundir a população.

Em Campo Grande, o caminhoneiro Ademir Junior, 36 anos, que faz parte da liderança presente no Posto Caravaggio, na BR-163, chama o acordo de "falso" e ressalta que foi feito com representantes de cegonheiros. “O governo fez um acordo falso para confundir a população e colocar todos contra os caminhoneiros. Quem assinou o acordo com o Governo foram representantes do cegonheiros. “Aqui na nossa paralisação não há nenhum cegonheiro, então a gente vai continuar aqui”, disse.

No posto América na saída para Três Lagoas não há liderança, mas um grupo assumiu a frente como porta-voz dos companheiros de estrada. Um dos integrantes do grupo, que se identificou apenas como Luís Eduardo, explica que cada Estado tem um representante da classe, no entanto, em Brasília, nenhum estava presente para negociar.

“Nenhum representante de estado ou nacional participou dessa reunião. Foi a portas fechadas na calada da noite”, disse. “Soltaram a notícia bem tarde só para deixar todos confusos. Não houve acordo nenhum”, completou Valdeci Campos, de 44 anos.

Outro caminhoneiro, que preferiu não se identificar, disse que o governo está sem saída e reitera se tratar de um acordo falso. “O que eles queriam (governo federal), era que tivesse bagunça na estrada para que eles viessem com violência, mas como a população pode ir e vir, eles quebraram as pernas”, disse.

Em meio ao caos, ainda há quem prefere se aproveitar da situação. Thiago dos Santos, 31 anos, presente na paralisação do posto América, ressalta o oportunismo de donos de carretas.

"Um chegou aqui hoje e queria a liberação de cargas de cebola para vender a R$ 400 a saca, na Ceasa. As duas carretas estão carregadas com sacos de cebola de 50kg cada um. Um absurdo porque a saca é vendida a R$ 180. Ele está vendo a paralisação como oportunidade para desfrutar do desespero da população”, disse.

Não há previsão para a finalização do protesto. A PRF afirma que debates entre quem quer sair ou ficar são normais, mas para evitar confusão e garantir segurança nas vias eles estão fazendo rondas.

Em Campo Grande, o caminhoneiro Ademir Junior, 36 anos, que faz parte da liderança presente no Posto Caravaggio, na BR-163, chama o acordo de "falso". (Foto: Saul Schramm)
Em Campo Grande, o caminhoneiro Ademir Junior, 36 anos, que faz parte da liderança presente no Posto Caravaggio, na BR-163, chama o acordo de "falso". (Foto: Saul Schramm)

Sindicatos – Presidentes de sindicatos ligados ao setor de transportes em Mato Grosso do Sul reforçam o discurso dos manifestantes. “Aqui a manifestação continua”, afirma Valcir Francisco, da Cootrapan (Cooperativa dos Transportadores do Estado do Pantanal).

O presidente da entidade, afirma por exemplo que reduzir a zero a alíquota da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre o óleo diesel, como propôs o governo federal, tem reflexo mínimo no preço do combustível. “Não teve acordo. Para nós não teve acordo. O pessoal que nos representa saiu da reunião lá em Brasília (DF), porque não aceitavam aqueles termos. Vai dar diferença de no máximo 5 centavos”, acrescentou.

Representante dos caminhoneiros autônomos no Estado, Osni Belinati, do Sindicargas (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Cargas), engrossa o coro. “Teve acordo, mas não era aquilo que estávamos esperando. O movimento está mantido”.

O sindicalista afirma ainda que localmente, a categoria quer negociar a diminuição do ICMS (Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) do diesel. “Queremos diminuir para 12% a alíquota. O caminhoneiro aqui abastece o suficiente para chegar na divisa com São Paulo e encher o tanque lá”.

Belinati completa dizendo que o acordo firmado com o governo “pode até ser interessante para as transportadoras”.

Já Claudio Cavol, do Setlog (Sindicato das Empresa de Transporte de Cargas), discorda de Belinati. “Nem para o transportador autônomo, nem para transportadoras”, afirmou sobre o acordo ter contemplado as reivindicações.

O presidente do sindicato patronal afirma ainda que o movimento não é coordenado por apenas uma liderança. “Não saiu centralizado na mão de uma pessoa só, é um desespero de uma classe. Tenho visto outras categorias, máquinas de agricultores junto nos pontos de bloqueio, transcendeu a pauta dos caminhoneiros”.

Cavol acrescenta que no país são 1,8 milhão de caminhoneiros autônomos e que os mesmos têm apoio de toda uma cadeia. “Minha opinião pessoal é que o governo federal está sendo lento [na negociações]. Se o governo não tiver uma posição mais firme, der a eles o que eles querem, isso vai uma proporção até descontrolada”.

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