Hidrovia parada prejudica economia de MS, dizem empresários
O Rio Paraguai foi um dos assuntos debatidos ontem em evento sobre hidrovias
A economia de Mato Grosso do Sul já sofre impacto com a paralisação da navegação na Hidrovia Paraguai-Paraná, diante do baixo nível do rio, em Mato Grosso do Sul. O governo federal deve ter, até o final do ano, um projeto de concessão da exploração da hidrovia, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) pretendia fazer dragagens em seis pontos do leito, serviço já contratado e que acabou sendo adiado, porque o Ibama exigiu estudo de impacto ambiental.
Em evento realizado ontem (25) em Brasília, chamado Diálogos Hidroviáveis, o secretário nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Antunes, afirmou que o plano é intervir somente no chamado tramo sul do Rio Paraguai, trecho abaixo de Corumbá, não havendo intenções em relação ao tramo norte, rumo a Mato Grosso. Para empresários presentes no evento, a falta de navegação, que foi suspensa por conta da estiagem severa, já impacta atividades produtivas e a economia se retrai sem a possibilidade do transporte hidroviário.
O CEO da Granel Química, Edson Souki, informou que a empresa mantém um porto na região de Ladário que está sem operar desde agosto. Conforme ele, há condições estruturais para embarque de minério, grãos e líquidos, como óleos, no entanto, tudo está paralisado.
A capacidade chega a 8 milhões de toneladas, não alcançada diante das limitações de navegação. Já se alcançou a média de 6 toneladas. Mas, neste ano, o transporte atingiu de 200 a 30 mil toneladas, segundo disse durante o evento.
Conforme Souki, a ampliação da capacidade de transporte é essencial para atividades econômicas no Estado. Ele disse que o porto também atendia a produção agrícola e mineral da Bolívia, tendo serviços alfandegados dos dois países. Ureia, hoje, atravessa o Estado em caminhões; e grãos são transportados de trem desde a Bolívia até o Paraguai para embarque em caminhões até chegarem ao destino.
Ele apontou a interligação modal estratégica que o porto detinha, com rodovia, ferrovia e hidrovia e agora não há mais meios para atender empresas. Souki defendeu uma saída rápida, porque há investimentos represados, diante da insegurança causada pela falta de condições da hidrovia.
A dragagem é um tema polêmico. De um lado, setores produtivos defendem a ampliação do calado do rio para o trânsito de barcaças maiores, de outro lado ambientalistas defendem que intervenções podem produzir efeitos drásticos no Pantanal, alterando a velocidade do rio e prejudicando a formação de alagados, que são essenciais à reprodução da vida no bioma.
Melhor minério do mundo- Corumbá tem várias mineradoras pra a extração de minério de ferro e manganês. A unidade da Vale foi adquirida pelo Grupo J&F, que recentemente adotou o nome LHG Mining, e aposta em investimentos bilionários para ampliar a produção.
Diretor da empresa, Darlan Carvalho mencionou a obtenção recente de financiamento de R$ 3,7 bilhões para o setor de logística do grupo para a construção de 400 barcaças e 15 empurradores para uso na hidrovia. Ele destacou haver minério na região com a “melhor qualidade do mundo”, retirado em pedras grandes, chamadas “lamps”, para justificar a aposta da empresa em ampliar produção. Ele detalhou os investimentos, com a contratação de estaleiros no Norte, Bahia, São Paulo e Santa Catarina. Essa etapa gerará 5 mil empregos.
Em Corumbá, de 2022 pra cá, a LHG subiu de 800 para 2 mil empregos, segundo revelou. O plano é chegar este ano a 14 milhões de toneladas de produção. Para o transporte, a empresa já investiu em uma estrutura no Paraguai e mantém 200 funcionários no Uruguai, onde o minério chega nas embarcações e foi construída uma estação de transbordo em alto-mar, a 40 quilômetros de Montevidéo, na qual é feita a transferência para navios maiores para a exportação do minério. “A hidrovia é o elo de toda a cadeia”, disse.
A empresa divulgou que tem plano de alcançar a produção de 50 milhões de toneladas a médio prazo e investir US$ 1,1 bilhão. No ano passado, os investimentos somaram 800 milhões, elevando a produção em 156% e chegando ao faturamento de R$ 3,3 bilhões.
Carvalho revelou que acompanhou expedição recente em todo o trecho do rio e que a quase totalidade tem calado adequado para a navegação. Ele apontou que trechos com areia ou pedra seriam reduzidos. Dizendo que não tinha meios para a análise técnica, defendeu que a retirada de obstáculos seria fácil e rápida de resolver. Ele ainda mencionou que o Paraguai é um “rio maravilhoso” e que não há intenção de tratá-lo mal, mas cuidar dele.
Concessão de hidrovias- O governo federal tem seis projetos prioritários de hidrovias tramitando na Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). O evento realizado ontem acabou se concentrando mais em rios do Amazônia, onde o transporte fluvial acaba sendo a único meio em muitas regiões.
O diretor da agência, Alber Vasconcelos, apresentou detalhes do andamento do projeto de concessão da Hidrovia do Rio Paraguai e apontou que a expectativa é que esses documentos sejam entregues à ANTAQ, pela Infra S.A., que também integra o governo federal, até o final do ano. No evento, chegou-se a debater a possibilidade de a União repassar ao setor privado depois de resolver questões de licenciamento ambiental, porque teria mais condições de agilizar os procedimentos.
O diretor lembrou que com as concessões de hidrovias resultarão em economia com o transporte de cargas, reduzindo o custo do produto final, além de ser até cinco vezes menos poluente que o transporte rodoviário.