Reflexo do abandono, trilhos de ferrovia agora são alvo de ladrões
A ferrovia de Mato Grosso do Sul chegou ao ápice do abandono. Em Campo Grande, parte dos trilhos foi furtada, próximo a antiga Estação Lagoa Rica. Em trecho de cerca de 30 metros, os ferros foram cortados e levados. Apesar de grandes e muito pesados, ninguém sabe o que pode ter acontecido ali.
Para o crime, certamente foi preciso uma estrutura e um planejamento, já que não é tão fácil cortar e carregar vigas de ferro puro. Quem furtou, antes precisou cortar os trilhos, provavelmente com a ajuda de um maçarico. Ao que parece, umas 10 vigas foram levadas e outras duas já estão cortadas, prontas para serem levadas.
Para levar também não deve ter sido tão simples. Os ladrões devem ter usado uma caminhonete e a ajuda de pelo menos dois homens para carregar cada barra de ferro, que deve pesar mais de 100 quilos.
Vizinhos afirmam que o crime aconteceu há algumas semanas, já em 2017, mas não sabem precisar quando aconteceu. "Não sabemos nada, foi dá noite para o dia isso, ninguém viu nada", disse um dos moradores próximos, sem se identificar.
O trilho em questão fica na estrada que dá acesso ao aeroporto Santa Maria, e está desativado desde 2004, quando foi construído o contorno ferroviário, para que os trens passassem por fora dá cidade.
Os trilhos fazem parte da Ferrovia Noroeste do Brasil e têm mais de 100 anos. O Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários de MS explica que os trilhos foram trocados em meados dos anos 2000, devido a dificuldade que tinham na época para trafegar entre as estações Manoel Brandão e Lagoa Rica, por isso são considerados novos.
"Por questão judicial a empresa foi obrigada a substituir os trilhos, eles são novos e realmente devem valer um bom dinheiro. Ver esse abandono é muito triste", afirma o representante do sindicato Willian Monteiro.
Triste capítulo - Para quem acompanha a novela que virou a desativação dá ferrovia em MS, tem certeza de que o furto dos trilhos era o capítulo que faltava para carimbar o abandono do modal, que já foi um dos mais importantes para o Estado.
Tanto é que a 5 km de onde o trilho foi furtado, existe a Estação Lagoa Rica, tombada como patrimônio histórico dá União, devido a sua importância para o Estado e região. Mas, a imagem das ruínas que sobraram do local não condiz com sua importância.
A estação de Lagoa Rica foi inaugurada em 1914, com o nome de Pedro Celestino. De acordo com o histórico, ela está localizada exatamente no ponto onde foi feita a bifurcação da linha antiga que passava pelo centro da cidade. Ela está abandonada desde 2009.
A equipe percorreu uma estrada de terra e pedras ao lado dos trilhos, para chegar até lá. O que encontramos foi um prédio abandonado, cheio de mato, sem telhado e paredes riscadas.
Estranho é pensar como as pessoas chegam ao local, já que o acesso não é fácil, nem de carro. E pelo visto, as visitas são constantes. Em uma das paredes há dizeres que datam de novembro de 2016, há dois meses.
Sem esperança - O governo do Estado tenta, sem sucesso, desde 2016 uma posição efetiva de investimento dá Rumo ALL para reativação do modal.
Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, o furto dos trilhos mostra efetivamente o abandono e a necessidade de eminente de investimento. "Pela foto dá para ver que que os dormentes estão podres"
Com a proximidade do fim do contrato de concessão, o governo tenta uma resposta da Rumo ALL. "O governo só vai apoiar a renovação do contrato se tivermos a garantia de investimento. Até por que, a ANTT não toma decisões", afirma o secretário.
Ainda de acordo com ele, a Rumo é responsável também pela manutenção dos trilhos, portanto tem responsabilidade no furto.
"Teremos uma nova reunião sobre o assunto em breve e queremos, junto com o governador Reinaldo Azambuja, levar o tema à Presidência da República".
Outro lado - Em nota, a concessionária informou que fará um levantamento completo da área para apurar a situação. A empresa também registrará um Boletim de Ocorrência e abrirá uma investigação. A segurança será reforçada na região para impedir ações como estas.