Bondes femininos ganham dinheiro com o funk, mesmo sendo "menor de idade"
Em terra de sertanejo, a periferia de Campo Grande abriu espaço ao funk e a todas as manifestações que cercam o lado mais comercial da cultura que ganhou o País a partir dos morros cariocas. Por aqui, até os bondes femininos ganham dinheiro na base dos "proibidões", pouco, mas ganham.
Tem "As Fogosas", "As Menininhas do Papai"... grupos sempre com nomes sensuais, pouquíssima roupa e embalados ao som de letras que não passariam pelos tempos de censura. Uma cópia do pancadão do Rio de Janeiro.
Um dos bondes mais famosos de Campo Grande é o das “Felinas”, formado pelas primas Elandra Gonçalves, de 20 anos e Amanda Gabriela Salles, de 19 anos. parecem exceção em um meio que tem muitas meninas com menos de 16 anos. A vontade das primas de fazer da dança ousada uma forma de ganhar a vida é apoiada desde a infância pela própria família.
O Bonde do Tigrão passou, mas funkeiras como Anitta e MC Pocahontas servem de exemplo a quem tem o sonho de um dia também fazer sucesso. E na falta de lugares especializados para ensinar o proibidão, o jeito é aprender os “passinhos”, copiando no Youtube, explica Amanda. “Nós ficamos olhando pra saber o que é novidade, como o bonde das Maravilhas”.
Apesar da pouca idade, as primas já tiverem experiências de adultos. Elandra se casou aos 16 anos e hoje, aos 20, já é divorciada. Largou o marido por ter escolhido a dança, o que era inaceitável pelo ciúmes. Amanda, nunca se casou, mas tem uma filha de 2 anos.
As mães das meninas, que são irmãs, se revezam e vão aos bailes para cuidar das filhas, uma forma de tentar proteger do assédio e defender as “crias” dos marmanjos que ficam na plateia. “Já quiseram bater em mim no banheiro do evento por ciúmes de um namorado que estava no show”, conta Elandra.
Por trás das coreografias, também tem preconceito anuncia a dançarina, que acredita que por serem loiras, brancas e de olhos claros, “sofrem” ao não se encaixarem no “padrão” do funk. “Sentimos isso no palco, com piadas e ironias até por parte de quem apresenta o show”.
O bonde cobra R$150,00, mais bebida, para dançar 5 ou seis músicas. E chegam a fazer 4 apresentações por noite, inclusive em festas particulares.
Mas tem bonde que vai ter de esperar dois anos para continuar se apresentando. As “Atrevidaz”, com Z mesmo, foram obrigadas a parar porque são menores de idade.
Elas até tentaram, fizeram apresentações, sempre com pouca roupa e reboladas sensuais. Mas começaram a ser barradas em bailes e só poderiam seguir se apresentando em casas noturnas acompanhadas de um responsável.
Sem o apoio dos pais, tiveram mesmo de dar um tempo. “Vamos esperar completar 18 anos e voltar a dançar”, conta uma das integrantes, Andressa, de 17 anos.
Há dois anos, outro bonde vem fazendo sucesso nas casas de funk da cidade, o das “Tigresas”, no Jardim Monumento. Apesar de também serem adolescentes, elas insistem em se apresentar.
Formado por 4 meninas, a líder Jany tem apenas 15 anos de idade e leva o grupo para festas até no interior do Estado. "Sempre a mãe de uma vai junto. Só teve um lugar que barrou a gente. Em Camapuã, mas depois de muita conversa eles liberaram", diz a menina.
Aos sábados, seis horas são dedicadas aos ensaios e novas coreografias, embaladas ao som dos lançamentos do funk, como Anitta, que se tornou unanimidade entre as meninas.
Outra preparação importante para o grupo é a roupa. Para a líder, o “look” tem ser “chamativo”. “Usamos muito brilho, short curto e salto, o funk pede isso”, ensina.
O bonde cobra R$ 400,00, para uma apresentação com 4 músicas. Cada faixa tem duração de cerca de 40 minutos e muito "atrevimento", apesar da pouca idade.
Quem quiser assistir, vai ter de procurar no Youtube.