Depósitos irregulares fazem o problema do lixo aumentar a cada dia
Está em andamento em Campo Grande, uma licitação bilionária para decidir quem vai cuidar do lixo produzido pelos quase 800 mil moradores da cidade nos próximos 25 anos. Basta uma volta pela cidade para saber que, se for mesmo para dar jeito em uma das questões mais complicadas dos centros urbanos, o vencedor terá muito trabalho, uma vez que depósitos inadequados de resíduos são encontrados facilmente, por todos os lados da cidade.
Na saída para o município de Rochedo, na MS-060, próximo à Pedreira São Luiz, a mostra dessa situação está à ceu aberto. Às margens da rodovia se transformaram em depósito de lixo e entulho, sem qualquer cuidado.
Pneus, restos de tinta, material tóxico, móveis e fibras são alguns dos itens que se encontram no local. Guarda de um laticínio desativado, Luiz Otávio Macedo dos Santos Pereira, de 58 anos, conta que a área passou a se tornar um “lixão” há 4 anos.
“Na primeira vez fizeram um buraco para tirar a terra, depois um trator aterrou e aos caminhões começaram a jogar lixo”, disse.
As firmas, relatou, preferem descarregar o lixo durante a madrugada. “Vem de tudo: caminhão, caminhonete, caçamba”, relatou, acrescentando que, além de jogar lixo, muitos ateiam fogo no mato.
Encontrar terrenos com lixo acumulado não é cena difícil. Basta o primeiro jogar algo fora num terreno vazio, que o montinho logo se acumula.
Na Vila Margarida, há pouco tempo uma rua que nem tem terreno baldio à vista, a João Araújo França, teve uma calçada transformada em um pequeno lixão. Havia até televisão no lugar, além dos sofás, que parecem brotar em depósitos improvisados de lixo.
Para dar fim ao problema, foi criado um outro. Alguém colocou fogo e o incêndio durou uma manhã inteira.
Lugar certo, jeito errado Até mesmo os lugares criados para receber o que é descartado pela população são usados de forma incorrenta. A placa da Prefeitura na entrada do terreno de 20 hectares anuncia que ali, às margens da BR-163, região do bairro Noroeste, saída para Três Lagoas, em Campo Grande, funciona o Aterro de Entulhos.
Na mesma placa vem o aviso do que pode e o que não pode ser jogado na área: Permitido apenas entulhos de construção, galhos de árvores, grama, vegetação, madeira e materiais arenosos.
Proibido lixo hospitalar, domiciliar, animais mortos, papéis, papelões, materiais orgânicos e pneus. Uma observação, na mesma placa, traz a seguinte mensagem:
“Os produtos proibidos deverão ser acondicionados no Aterro Sanitário Municipal, no Anel Rodoviário entre a BR-163 e a BR-060”.
A equipe de reportagem do Campo Grande News visitou o Aterro de Entulhos na tarde desta terça-feira (17). Aberto de segunda a sábado, das 7h às 17h, o espaço recebe cerca de 300 caminhões carregados de lixo todos os dias.
E no meio dos entulhos vêm todo tipo de material, mesmo os proibidos como pneus, papel, papelão e até lixo doméstico. “A gente junta tudo e vende baratinho”, comenda o catador Renato Nara Santana, de 34 anos, que trabalha no aterro há 1 semana.
O responsável pela área, Vilson Luiz Rorato, de 62 anos, administra o local desde dezembro do ano passado e afirma que “não tem como controlar tudo”. “Tem dias que a gente barra, mas tem dias que não dá”, disse.
Durante todo o horário de funcionamento ele e mais um fiscal permanecem no terreno e acompanham os descarregamentos. Revirar o lixo de todo caminhão que entra, declarou, é praticamente impossível.
“Ontem eu encontrei uma capivara no meio do entulho”, revelou o catador Renato Nara. O espaço é frequentado por vários trabalhadores que tem no aterro a única fonte de renda. Noel Vieira Sandes, de 52 anos, é um deles.
Ele trabalha no entulho há cerca de 6 anos. Diz que já encontrou animal morto e lixo doméstico, mas fica mais feliz quando encontra papelão. A reciclagem, revelou, rende cerca de R$ 1,2 mil mensais.
Noel Vieira consegue juntar cerca de 8 sacos de papelão todos os dias, cada um com aproximadamente 35 quilos do material. O cantador diz desconhecer que o descarte seja proibido na área.
Segundo o administrador, as portas do aterro são abertas aos catadores porque eles “fazem a coleta”. É com esse argumento que ele justifica a entrada dos materiais proibidos.
Vai resolver? A licitação que vai definir quem administra o lixo em Campo Grande promete uma revolução na forma como a cidade trata seus resíduos sólidos. Por R$ 1,8 bilhão, a empresa que vencer a licitação terá que concluir o aterro sanitário em implantação na cidade, dar destinação final ao amontado gigante de lixo que existe no bairro Dom Antonio Barbosa, construir um terceiro aterro sanitário, fazer coleta seletiva para pelo menos 13% do que a cidade descarta e implantar, inclusive, um crematório para animais de pequeno porte.
Dois consórcios apresentaram propostas para a licitação. Os cadernos apresentados estão sendo avaliados. A previsão é de que a empresa entre em operação no começo de 2013.