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Ano teve cidade sitiada por facções e expansão do crime nos jogos de azar

Comando Vermelho travou guerra com PCC em Sonora e facção paulista investe em novos mercados na Capital

Por Silvia Frias | 27/12/2024 06:29
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Bilhete atribuído ao Comando Vermelho, com recado para o PCC: "Daremos o sangue pela nossa luta" (Foto/Arquivo)
Bilhete atribuído ao Comando Vermelho, com recado para o PCC: "Daremos o sangue pela nossa luta" (Foto/Arquivo)

Os primeiros dias de 2024 já indicavam o que Sonora, cidade a 392 quilômetros de Campo Grande, iria enfrentar. Na madrugada de 8 de janeiro, Ruan Henrique Lima foi assassinado a tiros, aos 22 anos. Conhecido como “Dom Juan” ou “Lacoste”, exercia o papel de apoio geral do PCC (Primeiro Comando da Capital).

RESUMO

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Em Sonora, Mato Grosso do Sul, uma violenta guerra entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) pelo controle do tráfico de drogas resultou em múltiplas mortes, incluindo civis atingidos por disparos em meio a embates direcionados a membros das facções. A ofensiva do CV, que visava eliminar a presença do PCC na cidade, gerou um clima de terror entre os moradores, com diversos ataques a tiros e um bilhete ameaçador deixado pelo CV. Apesar das prisões e apreensões de armas e munições, a disputa entre as facções continua, com investigações em andamento para elucidar os crimes e prender os responsáveis. Paralelamente, o PCC buscava expandir seus negócios no estado, com a exploração do jogo do bicho, o que também contribuiu para o aumento da tensão.

A baixa na organização da facção paulista era o prenúncio do acirramento de guerra pelo controle do tráfico de drogas na região norte de Mato Grosso do Sul, travada com o CV (Comando Vermelho), a segunda organização criminosa de maior influência no País.

Sonora se viu no fogo cruzado. Pouco mais de uma semana depois da morte de “Lacoste”, uma rajada de balas de pistola 9 milímetros tinha como alvo integrantes do PCC, que estavam em frente a uma casa. O atentado, praticado por dois homens em uma motocicleta, terminou sem mortes.

Rhariston Alves, o "Sem Fronteiras", foi morto em confronto com a polícia de MS (Foto/Arquivo)
Rhariston Alves, o "Sem Fronteiras", foi morto em confronto com a polícia de MS (Foto/Arquivo)

Mas, na noite de 20 de janeiro, as balas encontraram um corpo. O comerciante Tiago Valdecir Sandrim, 27 anos, morreu a tiros, na pizzaria de propriedade dele. Uma execução por engano; o alvo era um funcionário dele, integrante do PCC. Os executores seriam os mesmos dois homens das outras ocorrências, pistoleiros que tinham como meta varrer a facção paulista de Sonora.

A presença do PCC no município não era desconhecida, já que houve migração dos criminosos de Rondonópolis (MT), mas o acirramento da disputa com a facção carioca assustou.

À época, o delegado Murilo Jorge Vaz da Silva falou sobre a investida do CV em Sonora. “Eles tinham dificuldade de entrar, mas com a prisão de seis membros do PCC e a morte em confronto do líder da facção, restaram poucos na cidade. “Esse pouco que restou, o Comando Vermelho busca eliminar para ser tornar definitivo”.

Da esquerda para direita: Tiago Sandrim, João Vitor e Jair Ferreira, mortos por engano na guerra entre facções (Foto/Reprodução)
Da esquerda para direita: Tiago Sandrim, João Vitor e Jair Ferreira, mortos por engano na guerra entre facções (Foto/Reprodução)

No dia 21, Rhariston Alves de Souza, o “Sem Fronteiras”, suspeito de executar o dono da pizzaria, morreu em confronto com a PM (Polícia Militar). Na casa onde ele perdeu o embate, foram apreendidas armas e munições. Cinco pessoas foram presas, entre elas, dois adolescentes.

Uma semana depois, mais uma morte e, de novo, alvo errado. No dia 28 de fevereiro, Juvenal Santos Silva, 62 anos, foi assassinado a tiros, um deles, na cabeça. Ele foi encontrado na varanda, na cadeira de fio onde costumava se sentar. Os atiradores buscavam o genro de Juvenal, o “Coyote”, que estava na cozinha, conseguiu escapar, mas foi preso dois meses depois.

Na madrugada de 15 de março, mais uma vítima das balas do Comando Vermelho. Sabrina Machado, 18 anos, funcionária de boate, foi morta com tiro no tórax, em disparo que estava direcionado a um faccionado do PCC.

Mais tarde, em plena luz do dia, a cidade registrou outros dois óbitos de moradores que estavam na hora e local errados. A dinâmica se repetiu: dois homens em uma motocicleta se aproximaram e atiraram, crime que aconteceu no Ginásio Poliesportivo Dione Grison Dutra.

Sabrina Machado foi morta, também por engano, no lugar de integrante do PCC (Foto/Arquivo)
Sabrina Machado foi morta, também por engano, no lugar de integrante do PCC (Foto/Arquivo)

O estudante João Vitor de Oliveira, 21 anos, tentou sair do ginásio, mas foi atingido quando estava na porta. Uma testemunha relatou que o professor Jair Ferreira Jara, 49 anos, tentou socorrê-lo, mas também foi ferido, fugiu e foi perseguido pelo atirador. Morreu no campo de futebol. Novamente, o verdadeiro alvo escapou.

Um aviso macabro foi encontrado próximo aos corpos das vítimas: "Um recado CV MS", diz. Nele, citam nomes de supostos alvos da facção: "estamos em Sonora e daremos o sangue pela nossa luta".

A essa altura, muitos moradores se trancaram em casa, em pânico com a guerra entre facções. No dia 27 de março, a cidade registra outro atentado no centro da cidade, sem feridos.

Garras (Delegacia de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) reforçou a investigação. Na Operação Divisas e Fronteiras, desencadeada para conter as execuções em Sonora, a equipe do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) prendeu o suspeito de atirar contra Juvenal.

Ainda em abril, dois homens de Rondonópolis (MT) foram presos pela morte de Sabrina Machado. Três adolescentes já tinham sido apreendidos na noite do crime, por terem acobertado os executores.

Em entrevista ao Podcast Na Íntegra, quando questionado se quem manda no Estado é o PCC (Primeiro Comando da Capital) ou o Comando Vermelho, o delegado titular da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros), Guilherme Scucuglia, é otimista e afirmou que nenhuma organização criminosa domina o Estado.

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Jogo do bicho – Enquanto o Comando Vermelho tentava expandir os negócios no norte de Mato Grosso do Sul, o PCC trabalhava em abrir novas frentes de trabalho.

A facção enxergou o milionário nicho de mercado em MS após prisão de Jamil Name Filho, em setembro de 2019 e de Sérgio Roberto de Carvalho, o Major Carvalho, em 2022, na Europa, o que abriu espaço para disputa pelo mercado.

Segundo a Polícia Federal, Major Carvalho vendeu sua parte no jogo do bicho para Oseias Jovino da Silva, o Juruninha, o pai de Henrique Abraão Gonçalves da Silva, o Rico. Aqui, o rapaz ficou responsável pelo MTS, abreviação do nome do Estado.

O sócio oculto de Rico na empreitada em MS, de acordo com a PF, era Leonardo Alexander Ribeiro Herbas Camacho, sobrinho de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder da facção paulista.

Em abril de 2024, Rico foi preso em um condomínio no Bairro Monte Castelo. Na ocasião, os policiais federais encontraram no apartamento dele, no Bairro Monte Castelo, duas cases, acessórios destinados ao acondicionamento de armas de fogo. Em uma delas, havia dois carregadores de pistola 9 mm, 19 munições calibre .380 e 10 de calibre 9 mm.

Rico era um dos alvos da Operação Primma Migratio, deflagrada pela Ficco/CE (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado/Ceará).

Henrique Abraão, o Rico, sócio de Marcola na expansão do jogo de azar em MS, segundo investigação (Foto/Arquivo)
Henrique Abraão, o Rico, sócio de Marcola na expansão do jogo de azar em MS, segundo investigação (Foto/Arquivo)

Em Fortaleza ainda responde ao processo, juntamente com outros 21 denunciados.

Em Campo Grande, Henrique Abraão foi condenado a três anos de prisão pela posse ilegal das munições, em regime aberto. Ele teve a prisão revogada, mas, por responder ao outro processo, permaneceu preso.

No dia 18 de novembro foi transferido, sem conhecimento da defesa, do Penitenciária Estadual Gameleira I para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). O advogado Augusto Fontoura, que representa Rico na acusação em Campo Grande e em outro processo com pedido de transferência para São Paulo, diz que entrará com pedido para reverter decisão.

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